Moda, moldes e disparates
Por Rita Cardoso | 11/04/2010 | CrônicasA moda é uma questão delicada, não é algo supérfulo como pregam alguns pseudointelectuais, nem algo urgente, como clamam os profissionais do ramo. A moda diz muito sobre a pessoa, é uma forma de expressão, é uma forma de se apresentar. Mas do que isso, a moda traz a cultura e o tempo em que o sujeito está inserido.
A moda trach da década de 1980 traz consigo a libertação, num período pós-ditadura, por isso todas as cores e excessos. Em função disso a moda da década de 1990 veio opaca, com cores bem discretas. Aos poucos as cores foram voltando à cena da moda.
Atualmente, as cores passam por um processo de domesticação. Ontem a moda era combinar a bolsa com os sapatos, ou seja, as brasileiras trabalhadoras tinham que ter uma bolsa diferente para cada sapato, sem se colocar em questão o poder médio aquisitivo das "brasucas". Hoje combinar demais se tornou démodé, ah num pode combinar, ou melhor, tem de combinar, mas é um combinado "descombinado". Fácil de entender, não é? Então se ontem todas as brasileiras teriam que deixar de lado a "marmitex" para vigorar entre as socialites gastando com bolsas e sapatos, hoje devem ser, também, peritas em moda.
Mas se a moda tem relativa importância cultural, como é que as brasileiras por vezes não se enxergam nas vitrines? Os "bravos heróis" profissionais de moda na TV dizem: se você é baixinha não usa assim, se tem quadril largo não use assado, se tem pernas grossas não use grelhado... Tem certa lógica o que essas "figuras épicas" dizem, mas quem é a típica brasileira se não aquela de altura mediana e quadril um tanto avantajado? As meninas esguias, embora também belas, são minoria, e parece que a moda é feita só para elas. Ou nem isso, parece que é imposta uma moda européia para afro-descendentes. Colocam a culpa de trajes mal compostos no mau gosto das usuárias, mas o mau gosto vem da moda que não dispõe de vestuário adequado ao perfil das brasileiras.
Desta maneira, a moda deixa de ser uma forma de livre expressão para se tornar algo imposto. E mais, traz um sentimento de inadequação ao usuário, ao contrário do que deveria acontecer.
A moda precisa trazer identidade aos brasileiros, o que nos é uma falta
secular. Mas do contrário, ela nos impõe padrões europeus de beleza. A moda
deve libertar, fazer sucumbir, não aprisionar. Por vezes pedem para disfarçar
nossos quadris, mas não é a bunda um símbolo nacional?Ela tem de ser valorizada. Eu disse
"valorizada" não supervalorizada, ou seja, o glúteo faz parte de nossa
identidade, mas não nos resumimos a ele, somos seres pensantes também, temos
mais o que mostrar. Vejam só, de um lado a "artista rebolativa" que vulgariza
nossas formas e de outro uma imagem fantasmagórica de uma européia nos é
sugerida. É complicado tudo isso...mas o que fazer? É simples, a mulher deve
procurar cada vez mais utilizar a moda, e não ser usada por ela. Não se deixar
explorar e impor suas formas.