Mobilidade urbana

Por Rodolfo Schatz | 20/02/2015 | Engenharia

A questão dos transportes urbanos vem sendo cada vez mais, centro de discussões tanto pelos gestores públicos como pelo setor acadêmico. A concentração de pessoas nas metrópoles, fenômeno razoavelmente recente nas grandes cidades de países emergentes, traz muitos benefícios, uma vez que intensifica a troca de ideias e experiências. No entanto, torna críticas questões como o deslocamento de milhões de cidadãos todos os dias. Esta pesquisa visa a contrastar duas alternativas em mobilidade urbana, com meios em que a engenharia de produção oferece. Uma delas, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), vem sendo amplamente utilizada em muitas cidades estrangeiras, com a promessa de ser uma solução melhor tecnicamente e mais barata do que o metrô. Por outro lado, o Maglev Cobra HTS, um veículo com tecnologia de levitação magnética pioneira, desenvolvido na COPPE UFRJ (LASUP). Serão discutidas vantagens e desvantagens dos dois sistemas, contemplando-se os fatores ambientais, técnicos e econômicos fundamentais no processo de escolha por uma das alternativas.

 

O presente trabalho dedica-se ao tema da mobilidade urbana. O transporte urbano de massa vem desempenhado um papel estratégico no desenvolvimento sustentável das cidades e nas suas relações com seu entorno.

 

Segundo OLIVEIRA (2003), os transportes urbanos revestem-se de importância vital na medida em que as cidades crescem, pois proporcionam uma série de benefícios a todos os segmentos que compõem a sociedade. Aos trabalhadores e estudantes porque podem alcançar seus locais de trabalho ou de estudo, garantindo-lhes a manutenção de necessidades de consumo ou de recepção de conhecimentos; aos empresários, porque dispõem de mão-de-obra na atenção de seu processo de produção e, por fim, à sociedade, porque pode beneficiar-se de todos os bens e serviços que a vida urbana oferece, através das relações econômicas e sociais mediante o deslocamento das pessoas.

LERNER, Jaime (2009), assinalou o ano de 2008 como o marco da transição para um mundo majoritariamente urbano, com mais de 50% da sua população morando em cidades, acompanhado por todas as vantagens e oportunidades – bem como os problemas e desafios – que a vida urbana e comunitária traz. Em 1970 o Brasil tinha 90 milhões de habitantes, dos quais cerca de 60% nas zonas rurais. Hoje somos quase 200 milhões, dos quais 80% morando em cidades.

Essa expansão aconteceu de modo acelerado, em grande parte das vezes com ocupações irregulares, avanço sobre áreas de risco e invasões de áreas públicas, onde o poder público se mantém ausente. Em muitas cidades, houve também especulação predatória sobre as zonas consolidadas. Em poucas cidades esse processo foi bem conduzido e monitorado de modo a garantir melhor qualidade.

Embora as atuais taxas de crescimento urbano tenham diminuído em relação às décadas de 70 e 80, muitas cidades ainda não conseguem organizar e atualizar suas redes de serviços públicos essenciais, entre eles o transporte público. A maioria das cidades no Brasil tem crescido de forma desordenada e explosiva, e o resultado, no que se refere ao transporte público, tem sido a formação de um emaranhado de linhas de ônibus operando com grande desperdício de tempo e de custos.

Em grande parte das metrópoles brasileiras, os milhões de deslocamentos em automóveis implicam altíssimos custos não só em termos de tempo para o usuário, como também de poluição, acidentes, investimentos e, consequentemente, em termos de produtividade, já que se torna mais difícil produzir depois de desperdiçar tempo e energia para chegar ao trabalho. O perfil dos deslocamentos tem se modificado significativamente nos últimos anos: antes havia uma grande concentração de locais de trabalho e estudo nas zonas centrais; hoje há uma grande dispersão, o que é menos danoso ao sistema como um todo, pois evita sobrecargas e gargalos. Ainda assim, o ônibus é, e continuará sendo por muito tempo ainda, o principal meio de transporte público viável (economicamente) para a maioria da população de nossas cidades. Com a reestruturação da rede de transportes, os índices de qualidade de vida da metrópole tendem a melhorar, trazendo acentuada economia de tempo de viagem para as pessoas, e de custo operacional (e de tarifa) para o sistema. Esse processo de reorganização do transporte público leva à reordenação e requalificação do espaço público urbano, podendo ser importante para a diminuição das disparidades regionais socioeconômicas. O aporte de recursos em um bom sistema de transportes pode revitalizar áreas antes degradadas ou vazias do ponto de vista econômico. Um exemplo de caso de sucesso que merece ser citado é a cidade de Curitiba no Brasil, que planejou todo seu sistema de transportes com a finalidade de criar vetores para crescimento futuro da cidade, e assim os novos bairros foram se estruturando ao redor dos corredores de ônibus articulados (BRT) e não como se faz na maioria dos casos, em que o transporte urbano tem que “correr contra o tempo” para se ajustar à demanda cada vez maior por um serviço de qualidade: rápido, confortável e pontual ou com boa regularidade.

 

Outro caso que pode ser mencionado é o projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que será implementado no Centro do Rio de Janeiro. Ele é uma das âncoras do projeto que tem o objetivo de revitalizar áreas degradadas da região do porto. Uma rede de transportes integrada e com alto potencial de atração de usuários pode reduzir engarrafamentos em uma região, poluição (por emissões ou ruídos), criar novos padrões urbanísticos no local e, por todos esses motivos, revitalizar essas áreas.

Há que citar ainda que a organização de grandes eventos (tais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, no caso do Rio de Janeiro, nos anos 2000) tende a tornar a gestão e operação de transportes ainda mais críticas, devido ao fluxo incomum de pessoas na cidade durante esses períodos.

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a solução para a mobilidade em grandes metrópoles estava em modais amplamente usados e consolidados em todo o mundo, como o metrô. No entanto, essa solução nem sempre é viável ou nem sempre é a mais adequada, em muitos dos casos. Esse é um paradigma que precisa ser revisto, e novas tecnologias em transportes ganham cada vez mais espaço, contribuindo para o desafio de gerir as cidades.

Por todos os motivos citados, cresce a busca por alternativas mais simples, eficientes e adequadas às realidades econômicas e possibilidades locais, com baixo investimento e implantação mais rápida.

 

 

Ao longo dos estudos, foi possível verificar a dimensão da importância que a infraestrutura de transporte possui no contexto de vida de toda a população, como, por exemplo, em relação aos gastos destinados para se locomover e, também, em relação à qualidade da acessibilidade que as pessoas enfrentam em seus deslocamentos diários.

Desse modo, estudar novas alternativas em mobilidade urbana possui cada vez maior relevância, assumindo papel fundamental no curto, médio e longo prazo, de modo a garantir a acessibilidade e o conforto da população durante seus deslocamentos, com menor tempo despendido nesse fim.

Um dos grandes desafios é buscar alternativas que permitam extrair o melhor de cada meio de transporte, subterrâneo ou na superfície, e, nesse aspecto, a utilização de sistemas que não estejam competindo pelo mesmo espaço, auxilia na gestão mais eficiente do trânsito, muito presente em grandes cidades.

 

A questão dos transportes nas grandes cidades brasileiras é estratégica e para resolvê-la é necessário quebrar os paradigmas existentes e apostar em soluções inovadoras e sustentáveis. Somente tendo-se uma rede de transportes que funcione independentemente do trânsito já complicado e que ofereça ótimas condições de conforto e segurança, a baixos custos, será possível atrair aqueles que sempre optaram pelo transporte individual, e começar a se imaginar uma cidade pensada para as pessoas e não para automóveis, com maior qualidade de vida para todos.

Conforme foi verificado, a tecnologia do Maglev-Cobra demonstrou ser uma ótima alternativa à questão do transporte público urbano, tanto do ponto de vista econômico quanto à luz dos aspectos técnicos relacionados.

O Veículo Leve sobre Trilhos é uma adaptação moderna dos tradicionais sistemas ferroviários. No entanto, conserva muitos de seus principais problemas: elevados gastos com manutenção e troca do material rodante, alta taxa de ocupação do solo urbano, elevado índice de acidentes, paradas em cruzamentos com redução da velocidade comercial, altos níveis de vibração e ruídos etc.

O projeto do Maglev-Cobra HTS é uma alternativa moderna e que promete resolver a maior parte dos problemas mais comuns dos meios de transporte tradicionais, sendo a solução mais ecológica, econômica, técnica, política e socialmente correta. No entanto, é importante ressaltar que uma verdadeira comparação só será efetivamente possível a partir dos resultados obtidos com o início do funcionamento da linha de teste, pois os dados utilizados neste artigo são estimativas a partir de outros projetos em nível mundial.

 

Palavras-chave: Maglev; VLT; Mobilidade Urbana; www.ufrj.br.