DIV – “A ‘ERA GRUBBA’ E OS DELEGADOS: DOUGLAS MARREIROS (E SEUS CAVALOS), NILTON ANDRADE (A ‘LIGA EXTRAORDINÁRIA’) E JULIO TEIXEIRA (A ‘FRITAÇÃO)!’” 

Por Felipe Genovez | 11/07/2018 | História

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 05.01.2010, horário: 15:00 horas:

Estava na Corregedoria e o Delegado Douglas Marreiros entrou na minha sala para saber se eu iria à posse dos novos diretores na Academia de Polícia Civil. Lembrei a conversa que tive antes com o Delegado Natal por celular, quando disse que nós estávamos entre os excluídos, isso para nossa sorte. Douglas aproveitou para fazer uma brincadeira ao afirmar que o “Grupo Makenji” não havia ainda entregue seu terno para ir ao evento. Argumentei que não tínhamos perfil para ser convidado para esse tipo de solenidade, a não ser que quiséssemos ser vistos para sermos lembrados..., o que não era o meu caso. Argumentei que a grande maioria dos convidados aceitou cargos políticos sem que tivessem projetos, aliás, bem ao gosto do governo e políticos, dormiram numa Delegacia e acordaram nos cargos de direção e comando da Polícia Civil e que dessa maneira (como sempre ocorreu) iriam trabalhar para o governo, fazer a máquina funcionar e servirem de vitrine não para a classe, mas para outros interesses e que em razão disso corríamos o risco de termos mais uma gestão perdida para os Delegados.

Douglas aproveitou para falar de cavalos e que até o final do ano (agosto) pretendia se afastar para se aposentar. Duvidei porque já havia ouvido isso antes da parte dele, e até aquele momento nada, de certa forma lembrava Nilton Andrade que até o final do ano passado me confidenciou que estava frustrado, mas que agora iria ficar mais um pouco, já que saiu a sua confirmação na direção da Corregedoria da Polícia Civil. 

Douglas revelou que o Promotor Grubba era bastante amigo do Delegado Cláudio Monteiro da Deic. Argumentei que existiam dois tipos de Delegados: os que tinham projetos e lutavam por eles e os que não tinham projeto algum, apenas lutavam para defender seus cargos políticos e agradar os governos, sendo que mais uma vez, naquele momento tinha vez os que apresentavam esse o segundo perfil, enquanto que os primeiros eram ignorados, deixados para trás......

Horário: 15:25 horas:

O Corregedor Nilton  Andrade veio até minha sala na Corregedoria e pude perceber que estava vestido a caráter para a posse na Acadepol. O cabelo estava cortado, a barba aparada, a gravata apertava seu pescoço, fazendo seu corpo ganhar forma e ostentar seus quilos a mais, especialmente, na cintura...  Brinquei:

- “Quer dizer que tem posse hoje? E ainda com direito a barba e bigode!”.

Nilton apenas me passou dois procedimentos para carga e nada comentou, muito embora quisesse conversar um pouco, como fez no dia anterior quando encontrou alguém para desabafar.  Em seguida Nilton foi para sua sala e ligou para o Delegado “Pedrão” (Pedro Benedeck Bardio - aposentado). Dava para ouvir como Nilton entrava em delírio ao conversar com “Pedrão”. Nilton perguntou se “Pedrão” havia conversado com o Delegado Adalberto Ramos (era o pessoal da velha guarda e ficava aquele quê de nostalgia, dos “velhos guerreiros”, dos últimos “moicanos”...). Na verdade Nilton, Adalberto, Ademir Serafim... e tantos outros da velha guarda tinham uma ligação muito forte com “Pedrão”, era como se fossem membros de uma “liga extraordinária” que mantinham aquela fraternidade entre eles, e digna de respeito. Aliás, Nilton estava mais para um “fidalgo” e ponto de equilíbrio no grupo, com sentimentos nobres e, talvez, o mais profundamente comprometido com aquela irmandade, e com aquela figura enigmática que sempre simbolizou o ex-Chefe de Polícia na década de oitenta, homem forte da Polícia Civil, nos tempos de absolutismo...  As conversas entre Nilton e Pedrão eram intercaladas com “risos”, regozijos e momentos de relaxamento, com frases eufóricas que simbolizavam vitória, ocupação de espaços  e exaltação de seus espíritos fraternos, ou seja, a confraria estava em festa e isso parecia bom, principalmente, para o pessoal da “liga” porque de certa forma eles se defendiam, mas, também, tinham compromissos em defender interesses da instituição e sua história.

Data: 06.01.2011, horário: 09:25 horas:

Depois de ler as notas na coluna do Prisco Paraíso resolvi dar “a mão a palmatória” e ligar para Julio Teixeira para externar minha solidariedade pela “fritação” política que era visível e também obter um pouco de informação sobre os últimos acontecimentos. Logo que o Escrivão Nilton Sché Neves repassou o telefone para Julio Teixeira ele foi falando:

- “Fala ‘Felipão’, eu sei, eu sei, estou te devendo uma explicação, é que surgiram os fatos novos aí no meio do caminho...”.

Interrompi:

- “Tudo bem, tudo bem, eu sei, mas eu estou te telefonando apenas para manifestar minha solidariedade pelo que te fizeram....”.

Julio interrompeu:

- “Que bom, que bom Felipe ouvir isso. Sabe que no meu caso havia um compromisso de Colombo diretamente comigo. Era um compromisso de palavra dada, mas...  Eu estive com o ‘Grubba’ e ele me disse que o Colombo conversou com ele e pediu que me dispensasse um tratamento de ‘carinho’. Eu disse para o Grubba que ele não ousasse me oferecer cargo, eu disse: ‘Grubba, não tenhas a ousadia de me oferecer cargos’! Estava prometido o Detran, mas aí veio o Eduardo Pinho com um grupo de políticos lá do sul e disse que o Detran era espaço do PMDB. Mas, Felipe, nós precisamos conversar, temos que almoçar juntos, vamos almoçar juntos na semana que vem, precisamos conversar, eu quero te explicar tudo pessoalmente, aí tu vais entender o que aconteceu, foi uma questão de palavra quebrada”.

Interrompi:

- “Julio, a gente se conhece há tantos anos, eu estou telefonando apenas como amigo. A questão de cargos é outra coisa. Tu sabes que eu sempre lutei foi por projetos, tu é testemunha disso, eu nunca me importei com cargos...”.

Julio me interrompeu:

- “Eu sei, Felipe, eu sei, não é uma questão de cargos, é uma questão de Estado...”.

Continuei:

- “Tudo bem, tu sabes há quantos anos eu luto pelo projeto da ‘Procuradoria-Geral de Polícia’, como forma de fortalecer da nossa Polícia, nós Delegados? O projeto justamente vai contra interesses não só do governo, tu sabes que contraria interesses de outras categorias, pois querem nos manter nesse zoológico que é a Segurança Pública junto com a Polícia Militar...”.

Julio interrompeu:

- “Claro, é verdade, não há interesse algum em mudar isso. Eu ainda tenho o teu projeto que nós entregamos pro Espiridião Amin em noventa e oito, lembra? Eu tenho comigo o projeto...”.

Interrompi:

- “Então, ele prevê a integração das duas polícias a partir da unificação dos seus comandos, mas dentro de um órgão forte e independente que é a ‘Procuradoria-Geral’ que comanda a nova ‘Polícia Estadual’, só que num primeiro momento...”.

Julio interrompeu:

- “Eu sei, Felipe, é verdade, nós temos que sentar e conversar, que tal a gente almoçar juntos a semana que vem e em meia hora eu te conto tudo...?”

Interrompi:

- “Sim, me dá o teu telefone, eu te ligo! Julio, eu só estou te telefonando em solidariedade e como amigo. Eu já fins tantos projetos para a instituição, tenho até vergonha de falar, mas desde a criação da ‘Federação’, hoje Sintrasp, as associações regionais, o Fundo da Polícia Civil, a luta na Constituinte Estadual representando a Polícia Civil, o sistema de entrâncias para Delegados, o fim de PMs nas Delegacias para viabililzar o sistema de entrâncias, lembra do Mantelli lá em Pouso Redondo...? O sistema de promoções, o regulamento da fiscalização de armas e munições, o Conselho Superior, a “Divisão Territorial de Polícia Judiciária...”

Julio Teixeira interrompeu:  

“Sim, claro que sei disso tudo, Felipe!”

Continuei:

- “Pois é, com o sistema de entrâncias fizemos uma revolução, depois a lei de promoções, o fundo da Polícia Civil, foram tantos projetos. Tu sabes que existem pessoas que lutam por cargos,  outros defendem ideias, projetos, e tu conheces bem a minha posição.”

Julio Teixeira me interrompeu:

- “É verdade, e ainda tem os gulosos. Mas, tá tudo se encaminhando bem...”.

Continuei:

- “O projeto da Procuradoria-Geral também contempla a Polícia Militar, destinando ‘xis’ vagas para  Coronéis serem Procuradores, todos integrando carreira jurídica, fortalecendo as forças policiais. A gente é amigo há tantos anos, muito embora não temos contatos frequentes, muito embora a gente tenha passado tantos anos sem conversar. Eu acho que agiram mal contigo pela tua história, por teu passado dentro do partido...”.

Julio me interrompeu:

- “Sim, duas vezes deputado estadual, secretário de Estado, vinte anos filiado ao DEM...”.

Interrompi:

- “É verdade, eu que estou com vinte e quatro anos filiado, fui candidato a Deputado Federal em oitenta e seis, não quero nada, nunca pedi nada politicamente, só trabalhei por projetos...”.

Julio Teixeira foi para os finalmente, dizendo:

- “Mas agora as coisas estão bem encaminhadas, que bom que tu me ligaste, que bom ouvir isso de ti nesse momento, vamos almoçar juntos na semana que vem...”.

Confirmei, dizendo que ligaria.

Esquecimento - Se o DEM deseja manter o ex-deputado Julio Teixeira em seus quadros, melhor seria acenar com a Secretaria Regional de Rio do Sul. Filiado ao partido há 20 anos, até agora não foi contemplado. ‘Assédio – Na campanha, Colombo prometeu a Teixeira o comando da Secretaria de Segurança. Depois de eleito, o cargo de adjunto ou o comando da Polícia Civil. O PMDB já o convidou a assinar ficha” (A Notícia, Prisco Paraíso, 06.01.11).

Data: 07.01.2011:

PROMOTORES – O governador Raimundo Colombo (DEM) segue priorizando as conversas na primeira semana de governo. No início da tarde de hoje, recebe a diretoria da Associação Catarinense do Ministério Público (ACMP), presidida pelo promotor de Justiça Andrey Cunha Amorim. Além de Amorim, integram a diretoria da entidade de classe os promotores de Justiça Diego Rodrigo Pinheiro, Rosa Maria Garcia, José Renato Corte, Gilberto Polli, Milton Pascoto, Benhur Poti Betiolo, Osvaldo J. Cioffi Júnior e Jorge Orofino da Luz Fontes. A Associação é o braço político do Ministério Público” (DC, Roberto Azevedo, 07.01.11).

Data: 08.01.2011 – “Chegou a ‘Era Grubba’”:

Namoro e música - O novo secretário de Segurança Pública do Estado, César Augusto Grubba, está desde dezembro namorando a cirurgiã-dentista Graziela Garrett da Silva. Filha de Margareth Garrett, mulher do pianista Arthur Moreira Lima, Grazi tomou gosto pela música e o instrumento. Tanto que virou aluna da professora de piano Beatriz Gassenferth de Souza, agora em férias, mas só até o final do mês”  (DC, Juliana Wosgraus, 08.01.11).

Data: 09.01.2011 – “A entrevista de ‘Grubba’ e o que pensa sobre ‘unificação’ das polícias (não sobre a ‘unificação dos comandos das políciais’)”:

“Quanto maior a demora, pior fica  - César Grubba, Secretário da Segurança Pública de Santa Catarina - “A posse em meio a uma bomba. O promotor de Justiça César Grubba, 54 anos, assumiu o cargo de secretário de Segurança Pública e Defesa do Cidadão (SSP) na semana em que SC foi exposta internacionalmente com o assassinato do turista argentino Raúl Alberto Baldo, 48, na frente da família. Um crime de repercussão na madrugada, no começo da temporada e em Canasvieiras, a praia de Florianópolis preferida pelos estrangeiros do país vizinho. Foi mais um exemplo de um problema que só aumenta no Estado. A tarefa de reverter esse quadro cabe ao promotor que já enfrentou grandes desafios na carreira, como investigar a cúpula da Segurança Pública, em Joinville, entre 2003 e 2004. Na ocasião, Grubba presidiu o inquérito do rumoroso Caso do Bordel, quando o comandante-geral da Polícia Militar na época foi flagrado na boate da Marlene Rica – o episódio teve desdobramentos políticos e gerou uma das maiores crises no governo do então governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Grubba é visto com bons olhos por ser técnico. Na sexta-feira, em seu gabinete, na Capital, o secretário conversou com o DC. Diário Catarinense – Com exceção de um curto período, nos últimos oito anos a SSP foi comandada por pessoas com cargos políticos. O senhor é técnico. Como será sua gestão? César Grubba – Efetivamente, estamos fazendo a escolha e montagem da equipe priorizando o perfil técnico. Esta semana estou conhecendo a casa. Tenho trabalhado em colegiado. Não é decisão minha apenas. Dos 30 delegados regionais, mantemos 16. Houve troca de 14 em todo o Estado. Isso não significa dizer que a manutenção desses 16 fique em definitivo. Vamos analisar a eficiência e a estatística de cada trabalho. Estamos fazendo um levantamento das deficiências da estrutura da Segurança Pública, como das delegacias de polícia. Como diz o governador: “temos que governar para a sociedade”. A pessoa não pode ser vítima duas vezes, uma de um crime e a segunda de uma delegacia se não for bem atendida. (...) DC – O ex-governador Pavan encaminhou projeto para reconhecer a carreira jurídica de oficiais e delegados da Polícia Civil. O que o senhor acha? Grubba – Esse projeto está na Assembleia Legislativa. Não cheguei a ler ainda. É uma das metas da SSP a valorização do profissional. Teria que ver qual é a repercussão. Existe no Congresso Nacional uma PEC que trata dessa questão, que tem que ser tratada a nível de todos os estados da federação. DC – Em relação ao plano de carreira dos praças, tem algum projeto em vista? Grubba – Em toda a carreira tem que ter. Já existe, na verdade, um plano onde são feitas essas promoções dos praças. DC – Depois da eleição, o governador eleito Raimundo Colombo disse que não irá tolerar a disputa na PM entre praças e oficiais. Como o senhor pretende unir a categoria, que em dezembro de 2008 chegou até a se envolver em confronto? Grubba – Efetivamente, não só dentro da uma mesma categoria e corporação, mas tem que haver reaglutinação dos espíritos, esforços no sentido de melhorar esse relacionamento. Acho que o coronel Nazareno Marcineiro vai conseguir fazer essa união. DC – O que o senhor acha da unificação das polícias? Grubba – Unificação num comando único eu até acho que seria salutar. Mas a gente sabe que isso aí para ocorrer é muito difícil. Basta que haja unificação das polícias numa intenção única de combate à criminalidade, de integração. Seria suficiente, deixando de lado os interesses corporativos. (...) DC – O senhor foi o promotor que investigou a cúpula da Segurança no famoso Caso do Bordel (em 2003, o comandante-geral da PM foi flagrado em um bordel em Joinville). Como se sente hoje sendo o gestor da cúpula de Segurança? Grubba – Eu, naquela oportunidade, quando era promotor em Joinville, tomei todas as medidas necessárias com relação ao fato ocorrido, e a pessoa que na época foi lá fora, que todo mundo sabe que é o coronel Caminha, que sofreu o procedimento. Eu o denunciei, foi suspenso o processo. Ele cumpriu a pena, deu dois anos, cumpriu a pena na integralidade e foi extinta a sua punibilidade. Aquilo ali é passado. Para trás não se olha, a não ser para buscar os bons exemplos (...) (DC, 09.01.11).