Mitos não existem mais!

Por Raimundo Nonato Fontes | 16/08/2014 | Crônicas

Mitificar! Palavra difícil, pouco usada em nosso vocabulário, mas se tratando da nossa mídia e analisando melhor seu poder de atuação veremos que a Mitificação está grudada, enraizada em nosso povo.

Na época dos heróis gregos como Aquiles, Heitor, Ulisses, dentre muitos outros, costumávamos tratá-los como mitos após sua morte o que ainda dá certa emoção as suas histórias. Depois de algum tempo passamos a adorá-los em seus marmóreos panteons – Difícil até de escrever – Fazíamos monumentos de tamanho gigantesco, como se quiséssemos que até Deus os visse. Trabalhávamos centenas e centenas de dias de sol-a-sol em busca do melhor tamanho. Depois de construídos, gastávamos muitas horas em adoração ao pé daqueles gigantes feitos de barro. Hoje os Mitos não são de barro de gesso ou cimento, estão aí desfilando nas páginas da imprensa, que insiste em endeusar as pessoas como se santos aparecessem do nada. E o pior, querendo induzir os telespectadores a seguir suas adorações. Sem querer tornar estas linhas grosseiras, nem descabidas, mesmo porque a razão se sobrepõe a emoção, deixo bem claro que o presente artigo não trata de uma revolta contra isso ou aquele, mas sim, uma sugestão pouco provável que seja seguida. No entanto não posso deixar de escrever o que penso sobre tal fanatismo.

Voltando a tranqüilidade do nosso lar; aproveitando a folga de fim de semana, deixando de lado essa vida corrida que hoje vivemos, sentimos um enorme prazer com as pequenas coisas que acontecem a nossa volta, talvez por estar desligado das partes duras que adormecem nosso lado calmo. Ligamos a televisão e deparamos com vários tipos de canais, alguns educativos, outros aberrativos, uns discordantes, religiosos, protestantes, rurais, etc... Todos buscando seu tipo de espectador. Por um instante pensamos que até somos respeitados. Disputam nossa audiência! Buscam nossa atenção! Estamos certos ou errados de pensar assim? Claro que esta é uma pergunta bastante difícil de responder, mesmo porque, o que eu penso não é a mesma coisa que meu vizinho ou minha cunhada pensa, seu vizinho ou sua cunhada também, possivelmente, tem gostos diferentes do seu. Sabendo disso, deixemos de lado nossas diferenças e vamos ao assunto que nos conduziu a este papel. Dia de domingo, jogo na televisão, nada pra fazer! Folga! Tudo uma maravilha! Mas eis que de repente, não mais que de repente, encontramos um programa no qual seu apresentador está fazendo a seguinte enquete: QUEM É O MELHOR? E coloca duas figuras importantes do futebol mundial, uma brasileira e outra estrangeira, claro! Até aí, quase nada a acrescentar, no entanto, a coisa fica irritante mais à frente quando surgem os adjetivos, uns sem-números de adjetivos direcionados a figura do jogador brasileiro, e no fim uma ressalva: “não podemos interferir na votação”... Imaginem como estou me sentindo nesse exato momento que escrevo! Não! Não gosto de xingar! Xingar por quê? Se eu tenho o papel para desabafar. Mas o pior não é saber que toda vez o brasileiro ganha, sabe-se lá como são essas pesquisas! Pior é ter que aguentar os comentários depois – uma semana é pouco – sem falar na tonalidade de voz e arrogância do locutor para detalhar o merecimento da vitória do brasileiro.

Porém, antes que me reclamem! Não se trata aqui de desprezar nossos atletas que muito fazem para enaltecer o nome do nosso país. O objetivo é mostrar que não necessitamos de mitificar nenhum dos nossos craques, pois elogios já existem para que eles vejam o resultado de sua luta. São atletas bons, não Deuses. São destaques no que fazem, parabéns! No entanto um salva vidas, um bombeiro, nossos pais, também são merecedores e nem por isso são mitos. Deixemos para trás essa cultura, estamos no século XXI, não há mais espaço para esse tipo de enaltecimento, os tempos dos mitos é passado. Acima de tudo, temos de entender que moramos num país onde a diversidade cultural é imensa. Temos gente de várias nacionalidades que construíram suas famílias por aqui, mas nem por isso deixaram de cultivar as belezas e os destaques de sua terra. Então, uma sugestão está em aprendermos a respeitá-los, parar de criar essas disputas que, talvez, nem no conhecimento dos atletas chegam. Deixar de menosprezar uns para enaltecer outros, isso é o mínimo que eles podem esperar. E finalizando, respeite as opiniões dos outros, não queiram que aceitemos tudo que vocês gostam – isso inclui todos nós, brasileiros ou não, que trabalhamos e merecemos nossas folgas tranquilas.