Minhas crônicas
Por Rafael Carreiro da Silva | 10/07/2012 | CrônicasConstruindo sonhos
Rafael Carreiro da Silva, fev. 2011.
Quando pequenos logo que aprendemos a andar, a falar e começamos a interagir com o outro começamos uma das fases mais mágicas da vida: a fase do faz de conta e dos sonhos. Conversamos e damos vida aos nossos brinquedos, temos os mesmos poderes de nossos heróis, “somos” ou queremos ser os adultos que admiramos e estes, às vezes, no auge da ignorância ou da arrogância de ser adulto, não nos entendem. Muitos podam nossos sonhos mesmo antes deles brotarem.
Os primeiros sonhos de “querer ser” que temos são os de super-heróis e personagens de contos de fada; os meninos querem ser o herói do momento e as meninas, como sempre, querem ser alguma princesa ou bailarina. O comum a ambos nesta idade é querer ser mãe ou pai ou mesmo filho e filha uns dos outros. Todos brincam com todos os brinquedos e se engana quem pensa que meninos não gostam de brincar de casinha. Isso é comum nesta idade e se eles são aceitos no grupo, não se importam nem um pouco sobre o que vão pensar deles. A maldade de se brincar com brinquedos de gêneros opostos está na cabeça de alguns adultos que esqueceram o que é ser crianças e não entendem muito de infâncias.
Passado esse primeiro momento vem os sonhos de profissão: os meninos querem ser jogadores de futebol ou piloto de carro ou moto; as meninas querem ser cantoras, atrizes, modelos ou médicas; algumas querem ser professoras ou veterinárias. Tanto meninos quanto meninas estão sempre mudando suas profissões do futuro. Estas só serão definidas no final da adolescência ou na vida adulta. Alguns se formarão em algo e chegará um momento que perceberão que não era aquilo que queriam; esse momento é o que chamo de “crise de profissão” onde os futuros técnicos ou bacharéis poderão ir até o fim do curso, mas no final desistirão pois, quase sempre há algo ou alguém que fala mais alto que o grau que obteremos. Às vezes, esta fala é do próprio curso: os professores não nos entendem; temos que pensar da forma que querem e não da nossa forma, não aceitam nossas críticas e estão sempre com razão porque, afinal são mestres ou doutores. Com todo respeito ao leitor, melhor não tocar mais neste assunto. Façam suas próprias críticas e tirem suas próprias conclusões.
Quando as crianças já não são mais crianças porque chegaram na adolescência os sonhos da meninice dão lugar ao sonho de liberdade, de dominar e não querer ser dominados. Querem completar logo 18 anos para poderem fazer tudo sem a autorização dos pais. Muitos se apaixonam e planejam todo o começo do namoro, porém, alguns não pensam direito: as meninas se engravidam, os meninos não as assumem (nem a elas, nem seus filhos) e elas terão e criarão seus filhos na casa de seus pais, que além de avós, alguns se sentirão pais novamente. Para estes pais (que cuidam dos filhos de seus filhos), assevero: não acho que esta seja uma boa forma de passar responsabilidade para seus filhos. Meninos e meninas que geram meninos e meninas tem que ter um mínimo de responsabilidade e arcar com o produto de seu desejo e não jogá-lo em cima de seus pais.
Pois é, passamos a vida construindo sonhos isso é fato. Às vezes, somos felizes e bem sucedidos até que um dia vem um vento, uma chuva ou um tremor e leva tudo embora. Tudo que construímos, as pessoas que amamos, às vezes, se vão de forma tão repentina que nos perguntamos: por que conosco? O que fizemos para merecermos isso? Podemos não ter feito nada, talvez ninguém tenha feito por nós e mesmo que nos respondam nossas perguntas não nos contentaremos com as respostas por mais lógicas, referenciadas ou mesmo ilógicas que sejam porque para nós, quando nossos sonhos caem por terra, no momento nada tem lógica ou fundamento, nossas perguntas são retóricas, não requerem esclarecimento. São nossas perguntas e as fazemos porque vivemos, porque buscamos sentido e não queremos esquecer o ocorrido. Fazemos perguntas aos outros e a nós mesmos para dar razão ao nosso viver, porque nossa existência deve fazer algum sentido, senão para nós, para os outros.
Quando nossos sonhos se vão, no entanto, não se vão por completo ou sozinhos: levam um pouco da vida, um pedaço de nós e deixam aquilo que só cabe aos sonhos, aquilo que temos guardado em algum lugar no fundo de nós: o desejo de realizarmos novos sonhos, o recomeço, pois quando começamos a construir um sonho este já não é mais sonho, já é parte de uma realidade e esta faz parte de nós e nos acompanha a cada dia.