MINHA RELAÇÃO COM A HISTÓRIA ORAL

Por Maria de Lourdes Leoncio Macedo | 28/01/2017 | Educação

MACEDO, Maria de Lourdes Leoncio.[1]

SANTOS, Jocyleia Santana dos.[2]

RESUMO

A presente produção é o resultado da experiência vivenciada por meio da pesquisa realizada na Escola Família Agrícola de Porto Nacional, estado do Tocantins, utilizando o método de pesquisa em História Oral. A escola trabalha com a pedagogia da alternância que traz qualidade de ensino e de vida para o educando e a comunidade de assentados. No tempo comunidade, o estudante troca experiências com a família e os camponeses, utilizando-se dos instrumentos da Pedagogia, melhorando sua produção e as técnicas agrícolas empregadas em seu meio rural. A pesquisa realizada objetivou discutir se o Plano de Estudos dos alunos do 3º ano do Curso Técnico em Agropecuária desenvolvia realmente a integração da teoria com a prática. Os dados foram coletados por meio de pesquisa documental e de campo, utilizou-se do método da história oral temática, com entrevistas semiestruturadas com pessoas ligadas ao objeto de estudo, sendo os pais, alunos e funcionários da Escola. O trabalho demonstra a aplicação da metodologia, o percurso e o aprendizado da pesquisadora, estudante do curso de Mestrado em Educação ofertado pela Universidade Federal do Tocantins UFT-TO.

Palavras chave: História Oral. Escola. Pesquisa.

Percurso da pesquisa

Sou professora de história da rede estadual de ensino do estado do Tocantins atuando há mais de quinze anos na educação básica. O interessante e que enquanto professora de história, ou atuando em funções pedagógicas, sempre trabalhei no campo da história oral. No entanto, não conhecia o método na sua integralidade, porém, sempre praticava a história oral-HO com meus alunos, claro, sem a instrumentalização necessária que o método exige. Ressalto que sempre orientei meus alunos a esta prática, sugerindo realizarem entrevistas, gravarem vídeos sobre as temáticas estudadas, tanto na disciplina de história como em outras orientações pedagógicas, e para a realização das atividades, exigia o planejamento.

Nas aulas da disciplina de História, Memória e Educação, do Curso de Mestrado em Educação ofertado pela Universidade Federal do Tocantins-UFT-TO, pude ler e compreender, discutir e conhecer o método da História Oral, por meio da pesquisa realizada na Escola Família Agrícola de Porto Nacional-EFA, tendo como objeto, o Plano de Estudo do Curso Técnico em Agropecuária, uma das mediações pedagógicas dentro da Pedagogia da Alternância.

Durante as aulas da disciplina, discutindo com autores que trabalham a História Oral, tais como: Burk (1992); Alberti (1996, 2004, 2005); Portelli (1997); Cruz (2005); Meihy (2006); Montysuma (2006) dentre outros, que oportunizaram o descortinar de inúmeras possibilidades de atuação neste método de pesquisa. O método a meu ver é instigante, envolvente e rico em detalhes, tornando a produção específica e autônoma. Como se refere Meihy (2006, p.194) em relação à História Oral: “sabe-se que ela é pelo menos uma janela que deixa ventilar o ar puro do “tempo presente” e que sem ele não se pode pensar a sociedade e os projetos de melhoria da vida coletiva com base em saber rigoroso e comprometido.”

Não somente as discussões durante as aulas nos apontaram a importância da História Oral, mas os autores, as apresentações dos colegas, os filmes, vídeos e documentários debatidos durante o percurso da disciplina. No entanto, não se faz história oral apenas gravando entrevistas por ai, faz-se necessário um projeto de pesquisa, conforme Alberti (2004):

Sendo um método de pesquisa, a história oral não é um fim em si mesma, e sim um meio de conhecimento. Seu emprego só se justifica no contexto de uma investigação científica, o que pressupõe sua articulação com um projeto de pesquisa previamente definido (ALBERTI, 2004, Pg.29).

Após conhecermos o básico em história oral, elaboramos o Projeto de Pesquisa cujo objetivo, foi à produção de um artigo científico em que o foco deveria ser o método da história oral. No entanto, o acadêmico poderia optar por uma das quatro ramificações: história oral de vida, história oral temática, tradição oral, ou a história oral testemunhal.  Segundo José Carlos Meihy, em entrevista publicada no Youtube, esclarece: __“história oral de vida, refere a narrativa da trajetória de vida de uma pessoa; história oral temática é aquela em que temos um tema central e as entrevistas endereçam a este tema; tradição oral é uma prática que deriva dos contatos com grupos onde as tradições, míticas, receitas de culinária e medicinais, acabam por carregar uma memória que tem uma certa antiguidade; história oral testemunhal, mistura a história de vida com traços de um trauma, cada uma delas possui um procedimento correlato, em algumas chamadas as entrevistas em aberto, em outras com um roteiro.” https://www.youtube.com/watch?v=rl8CDDXFmTE

Decidi pesquisar sobre o Plano de Estudo da 3ª série do Curso Técnico em Agropecuária da Escola Família Agrícola de Porto Nacional, pois já conhecia a escola, em função do acompanhamento pedagógico que realizei no primeiro semestre de 2015. https://www.youtube.com/watch?v=08jPTo1cZFo

  Após a aprovação do projeto, dei inicio à minha pesquisa.  Nas aulas seguintes, a professora da disciplina do curso, encaminhou-nos uma carta de apresentação que deveríamos levar a Instituição pesquisada. Criei o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE, que os entrevistados assinaram. Elaborei, fiz e refiz o roteiro que direcionavam as entrevistas em torno dos envolvidos com o objeto, no entanto, no momento da execução, sempre geravam dúvidas.

Para a elaboração do projeto, foi necessário ampliar o conhecimento em torno da Pedagogia da Alternância, e, conhecer os documentos da escola. Listei os entrevistados, sendo 11 pessoas: três alunos e seus respectivos pais, um professor, uma coordenadora, o diretor, uma auxiliar de secretaria, uma técnica em agropecuária. Ao dialogar com colegas nas aulas, explicitando a quantidade de entrevistados de minha pesquisa em HO, ouvi: ___ “Nossa é muito entrevistado, muita entrevista para transcrever.” Desconsiderei. Conforme Alberti (2004, p.): “Assim, é natural que, quanto mais entrevistas puderem ser realizadas, mais consistente será o material sobre o qual ele debruçará a análise.”

Realmente! Transcrever todo o material que resultou num total de 35 páginas de entrevistas, ouvindo mais de uma vez algumas falas, devido às dificuldades de entender as palavras ou as colocações, foi um tanto complicado. O importante é que, o entrevistador/pesquisador deve realizar todo o processo, o trabalho fica prazeroso e prático no momento da produção do artigo, e também, facilita o desenvolvimento de ideias.

Entretanto, mesmo tendo entrevistado 11 pessoas, percebi que deveria ter entrevistado mais um profissional da base comum do curso. Cita Alberti (2004, p.36) “É somente durante o trabalho de produção das entrevistas que o número de entrevistados necessários começa a se descortinar com maior clareza, [...]”.

No entanto esse texto possui esse objetivo; descrever a minha relação com a história oral, o percurso, o aprendizado e os equívocos vivenciados nessa valiosa experiência.

A necessidade de voltar várias vezes ao local onde se encontra o entrevistado, e mesmo assim não conseguir realizar a entrevista, pode gerar duvidas ao leitor, eu mesmo duvidei, no entanto, para concretizar as entrevistas, foi necessário percorrer, aproximadamente 760 quilômetros entre idas e vindas.

 Outra dificuldade sentida foi à aprovação da entrevista transcrita. Três entrevistados utilizaram-se do endereço eletrônico para a aprovação da transcrição, os demais, obrigou-me a retornar a Escola com a transcrição efetuada para a devida aprovação.

Dentro do método da História Oral muitos pesquisadores adotam o caderno de campo ou de registro, eu nominei caderno de registro, que segundo Montysuma:

Nele são anotados todos os dados que envolvem as circunstâncias da entrevista, distinguindo particularmente as pessoas que relata. As atenções do entrevistador são voltadas para perceber e registrar informações relativas às expressões faciais e corporais apresentadas pelas pessoas quando se manifestam (MONTYSUMA (2006, p.124).

Quanto ao caderno registro/campo entendo que não utilizei da forma correta, pois, ou eu realizava a gravação da entrevista ou realizava os registros.Desta forma, fiz as observações posteriores às entrevistas, por vezes rememorando os fatos.

Na realização da pesquisa, a aplicação do método mexe muito com o pesquisador e com o entrevistado. Vários momentos foram fortes e emocionantes nesse percurso, destaco a emoção do diretor, o senhor Ozéias Neres de Cerqueira, que foi aluno da instituição, foi técnico e atualmente é o diretor. Ele, emocionado, lembrou do dia que chegou à EFA para estudar, o atendimento que recebeu, as lembranças de seu pai. A emoção tomou conta de ambos, emociono-me quando leio a entrevista, pois para ele a educação ofertada pela Escola Família Agrícola mudou sua vida por completo.

Iniciei a relação com a História Oral, devagar, tímida, duvidosa e com pouco envolvimento, mas hoje, após a experiência, os laços foram fortalecidos. De acordo com Montysuma (2006): “Claramente assistimos a formulação de dois conceitos: sinceridade e respeito.” Minha relação com a HO será cada vez mais fortalecida e baseada não só nestes dois conceitos, mas também no aprendizado, persistência, dedicação e muito estudo, tonando-se um profícuo relacionamento.

REFERÊNCIAS

 

ALBERTI, Verena. A filosofia e os fatos. Narração, interpretação e significado nas memórias e nas fontes orais. Tempo. RJ, 1996.

_____ Manual de História Oral. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

_____ Tratamento das entrevistas de História Oral no CPDOC. RJ. 2005.

BURKE, Peter. (organizador) A escrita da Historia: novas perspectivas. Tradução Magda Lopes. SP. Editora UNESP 1992.

CERQUEIRA, Ozéias Neres de. Entrevista concedida a M.L.L.Macedo em 19/11/15 na Escola Família Agrícola de Porto Nacional.

CRUZ, Jose Vieira da. O uso metodológico da historia oral: um caminho para a pesquisa histórica. In:Fragmentada.Aracaju:UNIT,2005.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Os novos rumos da História Oral: o caso brasileiro. Revista de História 155. SP. 2006.

_____ Mas afinal, o que é história oral? https://www.youtube.com/watch?v=rl8CDDXFmTE Publicada em 20/01/15. Acesso em 03 de janeiro de 2016.

MONTYSUMA, Marcos Fábio Freire. Um encontro com as fontes em História oral. Estudos Ibero-americanos. PUCRS, V.XXXII, n.01, junho, 2006.

PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. Projeto História Oral. São Paulo, 1997.


[1] Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Tocantins, graduada em História, professora de Educação Básica da rede estadual de ensino. E-mail: malutocantins@gmail.com  

[2] Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco, orientadora e professora do Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Tocantins. E-mail: jocyleiasantana@gmail.com

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