Minha Japonezona
Por claudine teles moreira | 23/12/2010 | CrônicasMinha Japonezona
Hoje faz cinco dias que tive uma grande surpresa que me deixou magoado, e mais descrente na humanidade. Aos poucos vamos tornando céticos, maus e desconfiando de todos e de tudo.
Faltavam alguns minutos para vinte horas, quando abri o portão para ir à reunião de bairro. Em frente havia um táxi com as rodas atoladas na lama. Apesar de estar atrasado para os meus compromissos, dentro do possível tentei ajudá-los. Emprestei enxadas, enxadão, tábuas e cordas. Por fim, deixei o portão aberto para que guardassem as ferramentas, e se banhassem no chuveiro de fora. Até as toalhas para se secarem.
Eles tinham aparência tão angelical. Um, possivelmente, era sansei. O outro, um senhor moreno, com mais de cinqüenta anos, muito educado e de boa conversa. Senti remorsos por não poder em ajudá-lo mais.
Nunca, na santa inocência, poderia passar na mente que aqueles sujeitos fossem maus intencionados, que tinham tudo planejado para levar a minha japonesa.
Há sete anos me propus a viver sozinho, tendo como companheiros os meus livros, pássaros e animais de estimação. Era como se estivesse vivendo em um paraíso. Todo cercado de flores. Mas, parece que isto não era normal. Todos os meus amigos, parentes e vizinhos, faziam os mesmos comentários. De forma maldosa, insinuavam, como um homem de verdade pode viver nos dias de hoje como eremita.
Nunca deixando de afirmar que sós os paupérrimos e os anormais vivem sem elas. Os mais atrevidos propuseram a trazer uma para fazer-me companhia.
Não sei se foi persistência, status, ou havia chegado à hora exata. Resolvi ceder, após muitas pesquisas e consultas confesso que até chequei a trazer algumas para um breve convívio. Mas, quando vi em minha frente aquela japonezona senti que tinha tudo que procurava.
De fato acertei em cheio. Era delicada, econômica e prestativa. Estava sempre disposta, mesmo assim alguns invejosos dizia que apesar de ser bonita, eficiente, era muito quadradona.
Claro que não confessava que ela era moderníssima, sempre aceitava acompanhar-me até altas horas da noite nos filmes eróticos, pornográficos, e completava todos os meus desejos.
Estava me apaixonando por ela, quando a comparava com as outras sempre descobria ter algo a mais. Todos que a conheciam davam me os parabéns pela escolha. Ficavam completamente orgulhosos. Mudei os meus costumes. Passava o dia todo ao seu lado, ria de tudo e de todos. A casa estava sempre alegre, havendo sempre algum barulho de alegria, ensinava-me os valores dos alimentos, algumas receitas, como comportar na mesa, o que deveria comprar e aonde. Dava me aulas de danças, ginásticas, inglês, francês e espanhol...
Dei as minhas mãos a palmatória. Meus amigos estavam certos como pude passar tantos anos sem ela. Éramos tão felizes que não importava com mais nada. Até com Deus deixei de conversar, só penso nela!
Deveria ter percebido que aqueles dois homens estavam maus intencionados,
Fui irresponsável, deixando o portão aberto e ela sozinha! Quando voltei da reunião tudo que eu possuía de valor eles levaram. Até ela!
Fiquei desesperado, sai nas ruas gritando por socorro. Fiz o possível, contratei detetive particular, todavia, não consegui qualquer informação de seu paradeiro. Não passo um minuto sem pensar onde ela poderá estar.
Não sei como conseguirei viver sem ela. Tudo em minha volta é silêncio fúnebre, nem os pássaros ouço mais. Passo o dia orando e pedindo aos ingratos que a levaram: "Por favor não a maltratem. Tratem-na com carinho. Ela é muito sensível!".
Sei que tenho que devo me conformar e juntar novamente dinheiro para comprar outra TV Semp Toshiba. Sem ela não poderei viver.
Claudinê 15-12-2010 -Klaus