Militância e activismo. Uma perspectiva comparativa dos meios de participação política em Angola

Por António Ndelesse Epifânio | 07/09/2020 | Política

António Ndelesse Epifânio *

Resumo

O presente artigo tem como objectivo comparar os vocábulos militância e activismo e suas respectivas práticas enquanto meios de participação política em Angola. A ideia central é analisar semelhanças e diferenças entre os vocábulos e as práticas militância e activismo. Não obstante, o activismo ter criado um ambiente para o surgimento dos partidos tradicionais angolanos no período colonial, no pós-colonial, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que proclamou a independência e que governa o país desde então, vai dominar e controlar esse espaço. A má governação, que oscila entre o desvio e o fracasso do projecto Angola do MPLA, abre espaço para uma sociedade civil que se vai libertando, é o caso dos jovens que contestam nas redes sociais, ruas e praças. Inclusive, se negam, chamar de suas acções políticas de militância, preferindo o vocábulo activismo. Relativamente a metodologia, fez-se recurso as fontes bibliográficas e uma entrevista semiestruturada em grupo aos jovens manifestantes.

Palavras-chave: Militância. Activismo. Participação política. Manifestações públicas.

Abstract 

This article aims to compare the word militancy and activism and their respective practices as mean of political participation in Angola. The central idea is to analyse the similarities and differences between the words and practices of militancy and activism. Despite, the activism having created an environment for emergence of the Angolan traditional parties in colonial era, in post-colonial, the Popular Movement of Liberation of Angola (MPLA) who proclaimed the independence and has governed Angola since then, will dominate and control the space. Bad governance that oscillates between deviation and failure of the Angolan project of MPLA, open space for the emergence of a civil society that is liberating itself, is the case of young people who contest in social media, streets and squares. They even refuse to call their political actions as militancy, preferring the word activism. Regarding the methodology, bibliography sources were used and semi-structure interview with groups of young protesters was conducted.  

Keywords: Militancy. Activism. Political participation. Public manifestations.

 

1. Introdução

Militância versus activismo é um tema bastante debatido na sociedade angolana, contudo, carece de estudo que o possa analisar, explicar e descrever enquanto vocábulos e práticas em disputas. Por exemplo, se diz que foram os partidos e as ideologias que devastaram o país com guerra e corrupção. Além do mais, a velha crença, que discursos políticos  são  charlatões e não passam de propagandas irrealizáveis, diz-se uma coisa no manifesto eleitoral e faz-se outra durante a governação. Esse discurso, crítico a todo tipo de organização partidária, não obstante, ser partilhado por muita gente, tem como testa de ferro, jovens contestatários, que criticam a prática da política partidária e os seus respetictivos vocábulos. Preferem, por exemplo, fazer o uso do vocábulo activismo em vez de militância. “Mais activismo, menos militância”, é um lema famoso na actualidade que expressa bem essa ruptura de participação política (PP) pelos meios tradicionais a favor dos informais, espontâneos e com interesses bem localizados, caso de manifestações nas redes sociais, ruas e praças.

O presente artigo tem como objectivo comparar os vocábulos militância e activismo e suas respectivas práticas enquanto meios de PP em Angola. No período colonial, aquando da formação dos partidos tradicionais angolanos, existiu um forte activismo cultural e político, o surgimento desses partidos está associado a esse activismo. No período pós-colonial, este (s) partido (s), outrora criado (s) num ambiente de forte activismo, vai (vão) estrangular o desenvolvimento da sociedade civil (SC). A este propósito, tomamos o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) como exemplo, por ter (1) proclamado a independência reconhecida e, ter (2) formado o governo que dirige o país até ao momento que redigimos o presente artigo. 

Por conta de um conjunto de situações, que oscilam entre desvio e fracasso do projecto Angola do MPLA, há um reavivar do activismo, sobretudo nos anos 2010 e 2011, influenciada pela Prmavéra Árabe que derrubou regimes ditatoriais em África, no caso angolano, deu dinamismo ao activismo.

Os jovens contestatários, são uma das formas desse activismo, críticos e céticos no partido no poder,  na oposição ou na organização partidária, de modo geral, usam as redes sociais, as ruas e as praças como meio de PP, demostrando descontentamento pela forma de governação.

Na abordagem sobre a militância foi usado o recurso bibliográfico, por se tratar de um período consideravelmente longínquo e por outra, pelo fracasso em entrevistar militantes e governantes do partido da situação-excesso de burocracia, como pedir autorização ao superior hierárquico. Na abordagem sobre activismo foi usado a entrevista semiestruturada, realizada em grupo, aos jovens manifestantes, o que permitiu considerar pontos de vistas, contradições e omissões.


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