DI –  “‘UNIVERSOS DÍSPARES ENTRE DELEGADOS E PROMOTORES: PAULO KOERICH NUMA ‘PROVA DE FOGO’ E OS DESAFIOS DE RENATO HENDGES

Por Felipe Genovez | 10/07/2018 | História

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 20.12.2010, horário: 09:00 horas:

Estava viajando para concórdia, com as Delegadas Ester Fernanda Coelho e Sandra Andreata e mais Silvane. O assunto que tomava conta de nossas mentes era o futuro da Polícia Civil. Sandra soltou uma pérola:

- “Eu consigo esquecer a polícia, mas é a polícia que não quer sair de dentro de mim...”.

(...)”.

Horário: 10:10 horas:

Depois de algumas tentativas infrutíferas,  finalmente Ester Fernanda conseguiu estabelecer um contato com o Delegado Paulo Koerich que acabou entrando para o registro dos fatos históricos que envolviam a transição na Secretaria de Segurança Púiblica.

Logo que Este me passou o celular iniciei a interlocução:

- “Alô, alô, é o Paulo Koerich?”

Do outro lado da linha uma voz soou distante, contida, hesitante e discreta respondendo afirmativamente, então continuei:

- “Paulo, é o Felipe Genovez, tudo bem contigo?”

Veio a resposta no mesmo modal:

- “Tudo bem, Felipe!”

Continuei:

- “Paulo, é verdade que tu fosses convidado para o cargo de Delegado-Geral? Segundo eu soube...”.

Paulo respondeu de maneira indireta, parecendo meio ressabiado:

- “Sim, sim..., mas existem vários nomes”.

Logo que percebi que Paulo deveria estar numa situação incômoda naquele momento para conversar abertamente, procurei ser mais prudente:

- “Ah, sim! Eu imagino que tu estejas em Florianópolis, com o Secretário neste momento, certo?”

Paulo respondeu de forma bem econômica nas palavras:

“Sim, sim!”

Continuei:

- “Bom, eu estou te telefonando porque não sei se tu sabes, o Nilton Andrade também foi convidado na semana passada e declinou do cargo, tu sabias disso?”

Paulo respondeu:

- “Sim, eu soube”.

Continuei:

- “Pois é, eu sei que o momento é delicado para falar sobre o assunto”.

Paulo:

“Sim, é verdade!”

Enquanto ouvia vozes ao fundo, com nítida impressão de conversas paralelas, dando a nítida impressão que era o Secretário Grubba e mais uns dois ou três..., então insisti:

- “Bom, Paulo, eu estou te telefonando para que tu reflitas bem em que ‘condições’ tu estais aceitando o cargo, veja bem as condições, porque o Nilton foi convidado e não aceitou...”.

Paulo:

- “Sim, agradeço muito!”

Continuei:

- “Nós temos muitas questões institucionais para serem discutidas, como o resgate da Corregedoria-Geral, bom, são tantas coisas que estão em jogo, mas eu espero que tu estejas ligado nisso, não é só aceitar um cargo...”.

Paulo:

- “Sim, claro, claro, sim!” 

Percebendo que Paulo estava numa situação delicada para conversar, partir para os encerramentos:

- “Bom, Paulo, sem qualquer pretensão pessoal, apenas preocupado com nossos interesses institucionais, eu me coloco a tua disposição para te ajudar em qualquer frente...”.

Paulo:

- “Agradeço tu teres ligado, abrigado!”

Assim encerrei a ligação com todo o pessoal quieto no interior da viatura Ester  fez seu comentário:

- “Imagina se ele não vai aceitar, claro que já aceitou!”.

Sandra reiterou esse comentário, enquanto que Silvane balançava a cabeça em sinal de agonia, frustração, decepção, e  desesperança. Aproveitei para comentar:

- “Bom, a escolha do Paulo Koerich foi cirúrgica. Imagina, ele já foi o ‘c. p.’ do ‘Carvalho’ (Promotor Luiz Carlos Schmidt de Carvalho – ex-Secretário de Segurança Pública – 1998-2000 – Governo Amim), era novinho e é claro que se serviu bem naquela época então por que não agora novamente?”

Sandra fez um aparte:

- “Não, não, o Paulo sempre tem se manifestado na rede mandando e-mails criticando os salários, falando dos subsídios. Ele sempre tem se manifestado com novidades, sugestões. Eu já recebi diversos e-mails dele, tenho gostado muito, acho que vai ser uma boa...”.

Interrompi:

- “Espera aí, Sandra, isso ele fazia quando era Delegado de Gaspar, aí é muito fácil, mandar e-mails para rede com sugestões. Agora, outra coisa vai ser ele no ‘poder’ como na época que estava com o ‘Carvalhinho’, é só esperar para ver, o Ministério Público vai usar ele direitinho...”.

Silvane arrisca um comentário fulminante e quixotesco:

- “Vocês não conhecem a história do ‘cavalo-de-padeiro?”

Ester, bastante cautelosa e mais ouvinte, acabou concordando que o futuro parecia “negro” e relembrou a conversa que teve com o Delegado “Renatão” da Adepol, dois dias atrás:

- “É, o ‘Renato’ disse que vamos ter dias difíceis pela frente”.

Interrompi:

- “Sim, por isso que eu defendo que o ‘Renatão’ continue à frente da Adepol. Fica muito melhor para ele sair pela porta da frente batendo e, depois, voltar para a ‘Antissequestro’. Agora o ‘Renatão’ vai ter a oportunidade de provar o real valor dele, fazer jus à votação que tem tido no Conselho Superior da Polícia Civil e, também, porque assumiu no lugar da Sonéa na presidência da Adepol. Acho ele entra para história  na defesa de nossos ideais ou então vai mostrar uma outra face, vai ser mais um... Por isso que esse negócio de eu ser o candidato para substituí-lo na Adepol não vai funcionar. Eu disse lá para o Dirceu em Joinville e vocês ouviram, não tenho medo de desafios, mas também não sirvo para ser rotulado de mais um, de medíocre. Agora o momento vai ser de pedreira...”.

Ester foi a primeira a concordar com meus argumentos, enquanto  Sandra Andreatta já parecia um pouco mais de ‘arrasto’, isso porque sua torcida era grande para que eu me candidatasse à presidência da Adepol. Durante as horas seguintes de viagem Sandra fez alguns contatos telefônicos relatando a conversa que tive com Paulo Koerich, inclusive com o próprio “Renatão”. Ester começou a citar os possíveis nomes fortes da Polícia Civil na “Era Grubba”, passando a citar são os Delegados Márcio Fortkamp, Paulo Koerich, Nivaldo Claudino, Marlus Malinverne, Nilton Andrade, Artur Nitz...  Imediatamente lembrei dos nomes fortes na época do Luiz Henrique e Blasi: “Dirceu Silveira, Thomé, Ilson Silva, Neves, Sonéa, Maurício Eskudlark, Ademir Serafim, André Mendes....

Agora outro time se formava e me questionava sobre o “porvir”. Mais uma vez teria que se esperar o tempo para se conhecer os destinos, novos personagens, mais protagonistas... e quais seriam seus projetos?  Um novo pessoal sedento por cargos, posições, privilégios..., muitos com discursos de falsa modéstia, se preparava para entrar no círculo do poder e vai fazer o quê?

Sim, só que agora temos novamente o fator ‘MP’ depois das passagens de políticos como Blasi de Benedet... Se antes o cenário era político agora a impressão é que retornaria os tempos em que a Polícia estaria atuando dentro de uma ótica ministerial, como um braço do Ministério Público para fins operacionais, gerando ‘factóides-policialescos-de-vitrine’  midiáticas...

De outro vértice, era sabido que se o MP realmente quisesse ajudar os Delegados a consertar muitas coisas, poderiam fazer a diferença..., mas isso era outra história porque não havia qualquer evidência que desejariam esse caminho, contribuir para uma “polícia” forte, para que “Delegados” tivessem mesmas prerrogativas que Promotores de Justiça nas investigações criminais..., o que estaria em jogo e interessava era o “quantum” de mais poder na balança pendente para um único lado.  

Horário: 14:20 horas:

Tínhamos acabado de almoçar em Lages  e Ester ligou para o Delegado “Renatão” que depois de informado do teor da conversa que tive com Paulo Koerich disse que não ligaria para o mesmo, inclusive, confidenciou que teria sido convidado para ser o novo Diretor da Deic, mas que não aceitou, chegando a comentar que quando foi procurado pelos emissários de Grubba argumentou que não estava participando de nada, não sabia de nada e que daquela forma estava fora, e preferia continuar somente à frente da  Adepol. Depois que Ester relatou o teor dessa conversa com “Renatão” eu não tive como deixar de reconhecer grandeza nessa sua atitude, assim como de Nilton Andrade. Mas era muito cedo para se tirar conclusões cartesianas...

Horário: 15:00 horas:

Estávamos próximos de Campos Novos e Ester ligou para o Julio Teixeira para fazer um relato da conversa que tive com “Paulo Koerich”. Julio Teixeira depois de ouvir o teor da conversa, mais parecendo um “El Bigodão Fanfarrão Sem Terra”, argumentou que depois daria um parecer técnico sobre os últimos acontecimentos e que tudo estava “ok”. Depois que Ester concluiu a ligação tive que fazer um comentário:

- “Que triste a situação do ‘Julio’, sabe, na verdade eu estou com pena dele, fritaram o cara direitinho. Primeiro, deram corda para ele, depois escolheram o ‘Grubba’ que certamente impôs condições para aceitar o cargo e nessa dança das cadeiras o Julio dançou bonito...”.

Ester e Sandra acabaram tendo que concordar com minha observação e ficou uma pergunta no ar: “Mais uma vez qual seria o destino de Julio Teixeira?”

A seguir, lembrei do Delegado Flares do Rosar, tão vívido ainda em meus pensamentos, tão esperto, tão ligeiro..., especialmente,  quando o convidei para ir a luta pela Adepol e,  depois, foi fenecendo lentamente, até seu triste fim..”.

Quando já estávamos chegando próximo de Joaçaba, Sandra reiterou o que já tinha dito tempos atrás... que os Promotores Alexandre Grazziotin e Cid Goulart foram seus ex-colegas do curso de formação de Delegado de Polícia, no início da década de noventa. Sandra relatou que Graziotin e Cid sempre andavam juntos no curso e foram apelidados de “dupla dinâmica”, o Robin e o Batman. Graziotin porque era falante e pequenino, já Cid mais parecia encarnar o “Adam West”. Sandra contou que costumava brincar com Grazziotin chamando o coleguinha de “Menino Prodígio”, e que todos riam, achavam graça... Depois de alguns anos, quando Grazziotin e Cid passaram no concurso para o “MP”, um determinado dia o primeiro apareceu na 2ª DP/Capital, acompanhando de sua irmã que havia se envolvido num acidente de trânsito. Logo que entraram em seu gabinete Sandra espontaneamente relatou que abriu os braços e “euforicamente”  gritou: “Menino Prodígio!” Graziotin continuou impávido, formal, intransponível, inacessível...,  simplesmente estendeu o braço e a cumprimentou como se fossem dois desconhecidos. A partir desse momento Sandra comentou que caíram suas fichas porque percebeu que havia um abismo que separava a ambos... Já Cid Goulart nunca mudou, jamais, sempre se revelou aquela pessoa simples, "descontaminada", acesssível, verdadeiro gentleman..., independente do planeta que habitasse.