Meu primeiro fio de cabelo branco

Por Mário Paternostro | 23/05/2010 | Crônicas

Hoje me olhei no espelho e me assustei. Vi o tempo passando no reflexo da minha imagem. Senti o poder que ele tem sobre o meu corpo e assim descobri sua força inefável. Com os olhos fixados em meu reflexo, avistei um fio de cabelo branco, mas como se ainda estou na dita flor da idade? O tempo me pareceu cruel, pois estava querendo com esse fio branco me vergar diante das idades. Num gesto ignorante pensei até em arrancá-lo, mas pensei: - Esse fio branco é conseqüência de vida, vida essa que vivi, vivo e quiçá ainda viverei muito.
Esse fio branco pode ter nascido da preocupação escolar, o fracasso nessa idade pode deixar traumas. Pode ser resultado do primeiro amor não correspondido ou da primeira desilusão. Acho que deve ser resultado da febre de alguma doença, curável, mas dolorosa. Pode ser causa de um sonho não realizado e que tive que acordar. Quem sabe pode ter sido por brigas banais e corriqueiras que a convivência provoca. Esse frio branco pode ter vindo do primeiro verso que não conseguir rimar, do primeiro acorde que não conseguir formar, do primeiro texto que parecia mais rascunho. Com certeza esse frio branco é resultado de vida, minha vida para ser exato. A vida que caminha lado a lado com o tempo e que de mãos dadas vão colocando marcas em meu corpo. A vida e o tempo dão rugas e cabelos brancos, mas também oferecem a sabedoria para admirá-los. Estou velho, coroa? Não! Eu estou vivo, cultivando ações que me dêem mais cabelos brancos e rugas talvez.
O tempo senhor de tudo continua passando e eu ainda em frente ao espelho olhando, mas sem susto o fio branco reluzente e insistente que brilha em minha cabeça. Posso agora dizer sem titubear: - esse fio branco é apenas o começo de uma cabeleira alva, se também o tempo não me levar os cabelos. O tempo é senhor de tudo, mas a vida vivida não tem preço. O fio branco vai continuar em minha cabeça, nada vai mudar e sem pressa vou ver a vida grisalhar meus cabelos. A vida segue o seu tempo e eu sou servo dos dois.