MEU PECADO BEM SUCEDIDO

Por Mariana Dias | 11/12/2014 | Crônicas

Então...

Começar com a palavra “então” seguida de três pontinhos não é bom sinal, mas cabe tanto de mim nesta combinação. Três pontinhos silenciosos ou a sequência de reticências que podem ser infinitas.

Ah estes três pontinhos que têm tirado a minha concentração, que são os responsáveis por minhas noites em claro e pela minha falta de apetite. Como podemos sofrer tanta influência em tão pouco tempo de convivência? Tudo culpa dos tais três pontinhos.

Sabe quando você é apresentado a uma pessoa e tem aquela sensação que já a conhece há muito tempo?! Foi o que aconteceu quando te vi, sensação muito estranha que veio acompanhada de um frio na barriga e que me fez corar a face.

Justo eu que de vermelho no rosto tenho apenas um batom!

Você veio com um aviso de perigo estampado na testa. Preveniram-me sobre a sua essência envolvente e sua maneira de tocar, uma espécie de conquistador nato. E quanto mais me falavam, mais eu interessava.

É besteira atribuir o adjetivo conquistador como algo negativo para uma escorpiana, pessoa que mais gosta de brincar com fogo, que gosta de fogo, que pega fogo. Signo do desejo, da sensualidade e intensidade.

Como uma escorpiana legítima, sou viciada em tudo que provoca adrenalina e faz o sangue correr mais forte pelas veias. Que você se tornasse meu pecado mais bem sucedido.

Falaram-me que você tinha o hábito de cumprimentar pegando na cintura, porém não, comigo foram vários “ois” distantes. Justo comigo, a pessoa que mais adora um contato físico.

Qual é o seu problema garoto? Como aquilo me enlouqueceu, em todos os sentidos. E como não sou mulher de passar vontade imitei o seu péssimo hábito, para ver se entendia que a minha cintura era uma zona de acesso.

Vários meses se passaram, sem qualquer contato, até que surgiu certa piada sobre uma índia que sabia fazer a dança da chuva. Chuva eu ainda não sei se ela sabe fazer, mas ela me lembrou de que eu era mulher e que estava viva.

Em meio a vários açaís que não foram degustados, surge o convite para um almoço. Sem pensar muito nas consequências eu fui. O mais engraçado é que, mesmo sendo uma das pessoas mais detalhistas que conheço, não consigo lembrar o sabor do crepe que dividimos. Acho que não estava muito interessada em comida, à companhia era mais interessante.

Não sei o que estava acontecendo, a energia que nos envolvia fez surgir o convite para um passeio. Nem vestida para isto eu estava, mas nem pensei e logo aceitei.

Passeio este que nunca aconteceu. Em compensação, foi a primeira vez de várias coisas, acho que um lado meu que estava adormecido acordou e gostou de toda a bagunça. Tem gente que fala que me dei um presente.

Não sei o que aconteceu, mas as horas passaram rápidas e me senti bem, o que afirmou a minha tese inicial de que já te conhecia de algum lugar.

Mesmo assim, não tive coragem de me entregar por inteira, porém senti muita vontade. Tanto é verdade que eu nem esperava pelo o que aconteceu que usava no dia uma calcinha de algodão branca... Pelo menos não era bege.

Fiquei com você em meus pensamentos o resto do dia, parecia que eu tinha sonhado e que tudo não passava de uma ilusão. O mais engraçado é que eu não sou de confiar nas pessoas, mas com você eu fui sincera, me entreguei e deixei aparecer um lado que poucos conhecem.

“Ah, que se dane”, pensei, já que não aconteceria mais nada mesmo.

Como poderia ser verdade. Dia seguinte e eu estava na sua cama. Dessa vez já ciente do que poderia acontecer e com muita vontade, porém bastante receosa. Senti medo, vergonha e desejo, como uma garota virgem.

Percebi que não existe melhor sensação que ficar nua na frente de outra pessoa pela primeira vez. A cada beijo e toque eu media o seu corpo, analisava cada parte. Seu cheiro e seu gosto ficaram grudados em mim e fizeram com que eu me entregasse.

Fui sua aquela noite, literalmente sua. Esqueci o mundo lá fora e vivi intensamente o momento, muito mais que meu corpo, minha alma te pertencia. E como eu gostei.

Não foi algo somente de pele, não foi sexo só por ser sexo. Você me viu nua, mas não fisicamente, você conheceu a mulher que sou. Você viu minha parte mais íntima, a minha essência e, novamente, comecei a pensar de onde é que eu te conhecia.

Terceira vez que nos encontramos aconteceu um fato que eu gostei. Você dormiu deitado entre as minhas pernas, com os braços em volta do meu quadril e fazendo minhas coxas de travesseiro.

Não consegui dormir, fiquei o tempo todo acariciando seu rosto e te vendo suspirar enquanto dormia. Você realmente estava relaxado, nada comparado ao seu péssimo humor matinal. Definitivamente, te prefiro a noite que pela manhã.

Quando te acordei, você beijou a minha coxa. Depois me mandou ter uma alimentação melhor, comer mais ovo e para sua surpresa eu soltei “ah, eu como pão de queijo, e tem ovo na massa”. Neste instante sua armadura caiu, você sorriu de uma maneira que só tinha visto quando provoquei cócegas ao passar as unhas na lateral das suas costas.

Naquele momento eu soube que seria a última vez que nos encontraríamos. Caso contrário, iria me envolver... Tudo o que eu nunca quis. E como me alertaram o quão envolvente você era.

Por qual motivo você não saia da minha cabeça? Por mais que eu tentasse não pensar em você, o meu corpo te queria. Sentia o seu cheiro e, consequentemente, ficava arrepiada. Nunca desejei tanto uma pessoa.

E nessa vontade de você, me deixei levar.

Toda fantasia tem que ter o seu fundo de realidade. Em meio a uma conversa sobre determinada festa, surge o seu nome e o de outra pessoa, de certo envolvimento e carícias que foram trocadas.

Como assim? Na hora fiquei tão decepcionada que eu queria chorar e gritar, porém não consegui e fiquei muda. Não pelo fato de você ter saído ou sair com essa tal pessoa, mas por ter mentido pra mim quando perguntei se eu era a primeira.

Que direito eu tinha de ficar brava ou triste? Nenhum, não sou nada sua, sei muito bem disso, e não cabe a mim lhe cobrar nada.

Mas a verdade de toda esta história é que meu coração foi partido, porque eu gostava de quem você era e da maneira como me tratava. Principalmente, gostava da pessoa que eu era quando estava com você, quando conversava com você.

Pensei que fui tão sincera o tempo todo, era o mínimo que você poderia ter feito.

Por um mês você fez com que eu me sentisse especial, me fez acreditar que eu poderia ser desejada e que eu sou bonita. Porém, foi como se tudo isso não passasse de mentiras para me levar para cama, para transar comigo.

Mais uma vez me senti como um objeto, um produto para ser usado e descartado conforme as suas vontades.

Você me disse que eu estou fria e distante, como se estivesse te evitando. Minha resposta foi que se fosse isso, seria mais fácil e que as coisas são mais complicadas.

Percebi no tamanho do impacto que a notícia teve e se fiquei tão abalada, é porque estava mais envolvida que acreditava. No momento, não estou te evitando, estou tentando te esquecer.

Estou tentando te tirar do meu coração e te voltar para o seu posto inicial, a minha cintura. E quanto mais eu penso em toda esta história, quanto mais forço minha mente lembrando os detalhes para encontrar onde foi que me envolvi, sempre me faço a mesma pergunta: De onde é que eu te conheço?

Mariana Dias