MEU PÉ DE DINHEIRO
Por Jose Wilamy Carneiro Vasconcelos | 28/07/2015 | CrônicasMEU PÉ DE DINHEIRO
Lá estava ele, meu pé de dinheiro, no quintal da vovó, com folhas alongadas, pontiagudas, alteras e duras de cor amarelo-ouro, reluzindo em conformidade com a luz do sol em pleno mês junino.
As férias chegaram. Após o primeiro semestre, tudo volta ao normal, para nós estudantes, claro. Dormir tarde da noite, conversando no quarto, jogando conversa fora. Acordar despreocupado com o horário, brincar bastante, ficar na calçada com os primos recém-chegados da capital.
As visitas se tornam rotineiras todo mês de julho e de dezembro. Os vizinhos curiosos chegam de mansinho pra reconhecer os novos habitantes da rua, os primos que vieram de outra cidade pra passar as férias na casa da Tia Côinha, minha mãe. É assim de forma carinhosa que a chamam.
Parede e meia, como falavam meus avós é a distância entre nossa casa e da vovó. Vovó mora numa casinha simples, com piso de mosaico, parede com tinta d’água. A casa é rebaixada, não tem porta no quarto, somente no banheiro. Separados pelo corredor e sala com uma cortina feita por ela com retalho de pano.
No quarto dela, tem um grande santuário. É tanto santo que não dá pra escrever todos. Santa Luzia, Santo Antônio, São Francisco das Chagas de Canindé, Nossa Senhora de Fátima, de Lourdes, do Desterro, Nossa Senhora Aparecida e aí é santo que não acaba mais.
Na cozinha, tem um fogão à lenha; abaixo um lugarzinho pra colocá-la. Um pequeno armário de três gavetas de ferro que serve pra guardar seus talheres e panelas, que não são tantas. Ao lado, uma mesinha simples com toalha de plástico, contendo um desenho de várias frutas. Acima, uma bandeja redonda de alumínio mal areado contém vários copos de vidros, a maioria deles são copos de geléia e embalagem de azeitona.
Tem também uma porta que dá pro quintal. Nele, vem a grande surpresa da casa da vovó. Um pedaço do céu numa casinha tão simples. Chamo assim, pois é lá que guardamos um grande segredo. Não é só meu, mas de muitos.
Lá se encontra o “Meu Pé de dinheiro”.
O quintal é maior do que a casa; é o lugar predileto de nossas brincadeiras no período das férias. Lá se encontram várias mudas, entre elas pé de goiabeira, pé de coqueiro, de limão, sapoti, e muitas ervas medicinais plantadas, que são: boldo, capim-santo, cidreira, malva corona, pé de mastruz. Todo cuidado é pouco, pois vovó abastece a rua inteira com suas receitas caseiras. Lá no final um pequeno galinheiro, feito de tela e coberto com palha de coqueiro e estaca de sabiá.
De manhã cedinho, ao acordar e saborear as belas tapiocas com queijo e cuscuz com leite feito pela Tia Coinha, minha mãe, saímos pra o quintal da vovó. Lá temos uma grande surpresa. A porta do quintal está fechada, e ao abrir encontramos um grande amontoado de moedas brilhando ao redor do Pé de dinheiro.
É uma grande festa e, democraticamente, vovó divide para todos nós os bons frutos do pé de dinheiro, digo, as moedas caídas das folhas pontiagudas e amarelinhas do Meu Pé de Dinheiro. E no mês de julho os bons frutos do Meu Pé de Dinheiro reproduzem com mais vigor.
Diz minha avó que é porque checou a safra e, em toda safra, as árvores dão bons frutos, se cuidarmos direitinho com adubo e regarmos diariamente.
Talvez por isso que o quintal da vovó tem esse grande segredo, as plantas de seu quintal abastecem toda a rua com suas ervas caseiras medicinais. E nós usufruímos com os bons frutos do meu pé de dinheiro.