Meu Herói

Por NERI P. CARNEIRO | 26/08/2008 | Educação

Meu herói

Nestes tempos de eleição, ou de campanha à cata de votos, são muitas as reflexões que podem ser desenvolvidas tanto a respeito da postura que se deveria esperar do candidato como dos eleitores. Vamos aproveitar o embalo para mais algumas linhas de pensamento, nem contra nem a favor, mas, pelo contrário, na direção da busca de posturas que sejam benéficas à população e não somente a alguns figurões ou ao individuo isoladamente, alimentando seu egocentrismo individualista.

A propósito disso vamos tomar emprestado um texto, que andou circulando por e.mail; meio pelo qual chegou a nós. A autoria é atribuída ao conferencista Luiz Almeida Marins Filho. O texto começa com a fala de um interlocutor:

"Ninguém joga papel no lixo, simplesmente porque ninguém joga papel no
lixo e se ninguém joga, não vou ser eu o único herói a jogar" – disse-me um funcionário de uma empresa, ao perguntar-lhe o porquê dele não ter jogado o papel de seu sanduíche no lixo.

Temos um problema sério no Brasil: As pessoas têm vergonha de ser "certinhas". As pessoas são levadas, pelo meio e pelos colegas e amigos, a fazer as coisas mal-feitas, pela metade, com baixo comprometimento.

Temos vergonha de ser "heróis" e por isso acabamos vivendo em ambientes cada vez mais degradados e temos serviços cada vez mais de baixíssima qualidade. Parece mesmo que desenvolvemos uma cultura de que "é errado fazer o certo" - vão nos chamar de "bajulador, lambe-botas, maçaneta", etc.

Precisa-se de um herói.

Estamos precisando de pessoas que façam bem feito. Que se importem. Que se comprometam com o certo, com o correto. Que tomem para si a responsabilidade de fazer. Que se preocupem com a qualidade do que fazem e do que os outros estão fazendo.

Essa atitude de ter vergonha de ser "herói" precisa acabar. E precisa acabar já - "pelo bem de todos e pela felicidade geral da nação". Só assim sairemos deste verdadeiro subdesenvolvimento mental que nos tem atacado e feito tão mal a nós próprios e ao Brasil.

Nesta semana, gostaria que você pensasse nisto. Perca a vergonha de ser "herói" e passe a comprometer-se cada vez mais com a melhoria da qualidade de vida de todos nós, fazendo o certo e tendo orgulho desse seu "heroísmo".

Se entendermos corretamente não só o que está afirmado nesse texto, mas a nossa alma de brasileiros, somos levados a dizer que esse é o nosso problema: "As pessoas têm vergonha de ser "certinhas". As pessoas são levadas, pelo meio e pelos colegas e amigos, a fazer as coisas mal-feitas, pela metade, com baixo comprometimento". Somos conduzidos pela onda de desonestidade. Então, por causa da vergonha da honestidade, somos lavados pela senda da malandragem e da corrupção. Assim sendo, por sermos desonestos, votamos, elegemos e nos alegramos com os políticos malandros e desonestos. Por sermos o que somos, projetamos naquele que é candidato os nossos comportamentos ou anseios. Por esse motivo não combatemos a malandragem e a corrupção: somos malandros e corruptos.

Por vezes até falamos e condenamos algumas atitudes de alguns desonestos, mas nosso sonho é ocupar o lugar desses contra quem falamos, dizendo que são desonestos; nosso sonho é ocupar seu lugar e agir da mesma forma que esse, contra quem vociferamos.

"Temos vergonha de ser "heróis" e por isso acabamos vivendo em ambientes cada vez mais degradados e temos serviços cada vez mais de baixíssima qualidade. Parece mesmo que desenvolvemos uma cultura de que "é errado fazer o certo" - vão nos chamar de "bajulador, lambe-botas, maçaneta". E poderíamos acrescentar: temos vergonha de sermos honestos e por isso valorizamos o desonesto; temos vergonha de sermos honestos e por isso temos não só serviços de péssima qualidade, mas não denunciamos aqueles que prestam os maus serviços. E com isso se desenvolve a mentalidade de que o serviço público tem que ser péssimo para ser e por ser público. E ainda justificamos dizendo: "é público mesmo!" ou "é assim porque é do governo!"

Nos esquecemos que o serviço público, da mesma forma que o servidor público, são pagos, com os nossos impostos. Lembrando que os impostos existem para realizar atividades em favor da população e não contra ela. Nós nos esquecemos que aqueles que foram eleitos para o serviço da coletividade: vereador, prefeito, deputado, senador ou presidente da república, nada mais são do que servidores do povo que os elegeu e, portanto, não estão no cargo que exercem para serem bajulados, mas para prestar serviços à coletividade.

Frente a essa realidade somos levados a dizer que se algum candidato demonstra tendências à desonestidade, não deve ser votado, pois será desonesto depois de eleito; se algum candidato demonstra ser descumpridor da lei, enquanto candidato, não deve ser eleito, pois não cumprirá a lei depois de eleito... A essência do cargo eletivo consiste na delegação de poderes: o eleitor delega seus poderes àquele que foi eleito para que o eleito desenvolva atos em favor de quem o elegeu – e não somente em favor de quem lhe financiou a campanha e não contra o eleitor.

O problema é que nos acostumamos a receber tapinha nas costas, durante a campanha e sermos esmurrados, após a eleição. E se estamos mantendo a cultura de que "é errado fazer o certo", é porque estamos considerando o errado como certo... embora isso seja errado. Sendo assim está fácil reverter o quadro. Já que valorizamos o errado, por considerarmos "errado fazer o certo", talvez esteja na hora de fazermos o errado – o que implica fazer diferente do que se tem feito – para que as coisas fiquem certas. Somente assim poderemos dizer para a imagem do espelho: meu herói!

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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