Meu Cristo
Por Henrique Araújo | 05/06/2009 | Poesias01 -MEU CRISTO
Ainda que o cajado me for tão pesado
Que a corcunda do meu corpo
Não puder carregá-lo
Ainda que os meus pés tão inchados e doloridos
Não mais agüentarem a carcaça dos meus ossos
Mesmo assim não esquecerei você.
Ainda que os dias de minha vida
Forem tão breves
Que não der tempo de me refaz
De todas as torturas do passado já distante
Ainda que eu tenha de partir para a espiritualidade
Muito mais cedo do que eu esperava
Mesmo assim não esquecerei você.
Ainda que eu tiver que tirar o prato de sopa
Que me oferecerem
E dar para um mais faminto que eu
Ainda que tiver que deixar de me cobrir
E ficar tremendo do grande frio
Para cobrir um mais infortunado que eu
Mesmo assim não esquecerei você.
Ainda que eu tiver que dar minha própria vida
Que precise doar todos os órgãos do meu corpo
Para dar a vida a outros desesperados
Ainda que tiver que ceder minha própria sepultura
E ser jogado no ossuário da cidade
Deixando livre minha tumba
Para colocar outros corpos desestruturados
Mesmo assim não esquecerei você.
Não esquecerei você jamais
Pois estás comigo em todos os cantos
Todos os dias de minha vida
E assim que deixar este sofrido corpo
Correrei e me entregarei a teus braços
Na certeza de que serei acolhido para sempre.