Meu Amigo

Por Ary Carlos Moura Cardoso | 17/07/2008 | Filosofia

Meu Amigo:

 

A ninguém é dado viver sem dores, quem pensa o contrário sofrerá as penas da vida. Há pouco, reli em Sêneca: “Eu me revoltaria se cada um tivesse a Sorte segundo seus costumes e nunca os males perseguissem os bons; mas vejo, agora, que, sem exceção, maus e bons são atormentados do mesmo modo”.

 

A despeito da faculdade de sermos felizes, nossa condição maior é a dor. Quantas lágrimas, pelos mais variados motivos, estão sendo derramadas nesse momento? Os estádios de alegrias por que passamos se me parecem apenas tréguas, nada mais. A ínfima parte da vida de que dispomos, corremos aos sepulcros mais do que aos banquetes, até porque estes podem não passar de simulacros.

 

Sabes bem que tristeza perene cauteriza a inteligência gerando um rol de insensibilidades cujas conseqüências deságuam em auto-ilusões. De modo que nossas pobres mentes devem mirar sempre a novidade, na expectativa de que algo inesperado, salutar, pode explodir a qualquer momento. Não falo, é óbvio, de fenômenos inexoráveis.

 

É razoável temermos o que te digo; mas é profundamente sábio acolheres em teu espírito essa verdade. Não existem, amigo, consolações.

 

O lado estúpido dessa experiência consiste no multiplicar nossas dores quer por ação, quer por omissão. Deves, portanto, ir ao mais fundo de tua alma procurando as reais causas de tuas desgraças, arrancando das entranhas tudo o que for indesejável a fim de que uma vida plena de sentidos (eventualmente sem dores) vá, conscientemente, se concretizando.

 

 

                                                      Ary Carlos