Metus, medo, pânico
Por Idanir Ecco | 01/04/2012 | EducaçãoMETUS, MEDO, PÂNICO
Idanir Ecco[1].
Sem coragem para enfrentar o medo, permitimos que o medo, a ansiedade e a vergonha se apoderem do melhor que há em nós.
(Harriet Lerner).
Por que contrata-se seguranças, vigias para residências, instituições, locais de trabalho, de lazer e (pasmem) para locais de culto ou orações?
Por que são colocadas cercas elétricas, além de grades ou murros imponentes com cães, rosnadamente, rangendo os dentes sempre que o limite é ameaçado de transposição por intrusos?
Por que indivíduos andam de carros blindados, com vidros escurecidos que bloqueiam a visualização interna?
Por que se anseia por segurança, proteção quase que doentiamente?
Por que, costumeiramente, assiste-se passivamente a “mandos e desmandos”, observados ou velados, em determinados segmentos da sociedade?
Por que muitos gritos de indignação ficam presos em gargantas parecendo estranguladas?
Por que, por vezes, o olhar não quer ver a fome, a barbárie, a negação da dignidade humana, que humanos estão submetidos, condicionados por forças letais e letrais?
A resposta para a amostragem das indagações registradas a cima é simples, breve e única: medo.
A vida humana, na contemporaneidade, está assinalada por uma espécie de ansiedade constante manifesta, por exemplo, no medo de fracassar, no medo de perder o emprego, de ser vítima de violências, das premonições sombrias... Portanto, a sensação que advém do medo é uma sensação de perda.
Incontestavelmente a era atual é uma era de temores. No entanto, os medos que experienciamos cotidianamente, por estarem associados às diferentes subjetividades, caracterizam-se, invariavelmente, pela sua unicidade, pois cada indivíduo age/reage de maneira singular frente às situações ameaçadoras.
O medo é uma emoção antiga, tanto quanto a vontade de querer explicá-lo que a mitologia grega tinha um deus em sua honra: o deus Pã, sendo que sua história encarna o medo humano. E disso deriva o termo “pânico” (do grego Panikon).
O medo que marca a atualidade não é um medo imaginário, mas um medo concreto devido à perversidade das situações reais, com sérias conseqüências uma vez que acarreta sofrimento, que afeta negativamente seres humanos e o conjunto da sociedade, como afirma Juvenal Arduini (2002, p. 43) na obra Antropologia: ousar para reinventar a humanidade: “O medo corrói as fibras humanas. Asfixia talentos. Esvazia a vida e embota-lhe a criatividade. O medo anula o ser humano. Assusta crianças e apavora adultos. Mais do que inquietante, o medo é transtornante. Entristece e deprime. Invade a consciência, semeia pânico. Desmancha resistências, convulsiona as raízes existenciais”.
Metus, do latim, que significa medo, temor, desassossego, inquietação, ansiedade é um elemento corrosivo, pois intimida, ameaça, subordina, dispersa protestos, amedronta, aniquila sonhos, inibe a criatividade... de quem é afetado por esse estado afetivo.
Perante o medo, há que se varrer o sentimento de fraqueza, de impotência e instaurar a cultura da ousadia, da audácia da coragem, buscando a eliminação das causas geradoras de sentimentos aterrorizantes, extirpando-as. É fundamentalmente necessário, também, para não sucumbirmos à multiplicidade de temores, resgatar e/ou ampliar a capacidade de lidar com a presença de ameaças, aptidão, esta, herdada biologicamente e relacionada ao instinto de preservação da vida.
O pânico nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai os nossos percalços...