Métodos de Interpretar e Análise Crítico-Textual da Bíblia.

Por Gilson Lopes da Silva Junior | 25/10/2012 | Religião

Método de Interpretar e Análise Crítico-Textual da Bíblia.

 

Prof. Ms Gilson Lopes da Silva Junior.

1. Interpretação Histórica dos Reinos Bíblicos.

Para entendermos este aspecto da interpretação, precisamos entender que o Velho Testamento é composto por Povos, Reinos e Nações que se diversificam em suas práticas administrativas, cada Reino tinha sua particularidade onde vamos ressaltar alguns povos com características bem marcantes nas suas gestões sobre o seu controle interno e externo, esse panorama político acaba influenciando diretamente os textos sagrados sobre diversos aspectos como o dominador e o dominado, o pobre e o rico, o forte e o fraco. Todas essas questões irão nortear o Velho e o Novo testamento com diretrizes marcantes nas direções dos textos bíblicos.

O Império Assírio continha uma característica peculiar ou diferente dos outros Impérios,  a marca desse império era a força, a violência a “troco de nada”, os assírios queriam ser lembrados por toda eternidade e usavam a bestialidade para serem temidos e notados, alguns textos remontam ideias de que o autor fala com propriedade dessa maldade e selvageria, encontramos em Jonas um profeta do Velho Testamento uma característica, segundo a bíblia ele não queria ter ido a Nínive (Capital da Assíria), o profeta era proveniente do Reino Norte (Israel 10 Tribos após o Cisma), provavelmente aprendiz de Eliseu (havia escola de profetas em Israel), o israelita presenciou toda a violência assíria sobre o seu povo, Jonas vivenciou momentos horrendos com a ocupação assíria em Israel, era natural que o provável aluno de Eliseu tenha sentido desejo de vingança, raiva, desprezo sobre os assírios, pois o mesmo havia visto familiares, amigos, autoridades, crianças, mulheres grávidas, idosos serem mortos com requinte de crueldade na sua terra natal. O contexto histórico bíblico apresenta um mensageiro de Yahweh que se negou (ou pelo menos tentou negar), a levar uma mensagem do judaísmo que representava uma missiva do Deus todo poderoso dos hebreus a Nínive que possuía um conteúdo de misericórdia, compaixão e salvação ao povo cruel e sanguinário que exterminou milhares de israelitas compatriotas de Jonas.

“Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado. E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso é que me apressei a fugir para Társis, pois eu sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Disse, pois, o Senhor: Tens compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer; que numa noite nasceu, e numa noite pereceu. E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem discernir entre a sua mão direita e a esquerda, e também muito gado?”

Bíblia Sagrada Jn 4: 1, 2, 10, 11.

Por volta do ano 612 a.C, o Império Babilônico tornou-se uma realidade no mundo antigo, a Babilônia conquistou Povos vizinhos e apoderou-se do título de potência mundial da época (retirando o posto dos assírios). O esplendor e a glória era a principal característica do governo babilônico, os monarcas babilônicos desenvolveram um império com luxo, desenvolvimento cultural e tecnológico, uma potencia econômica e militar no período. Os Chefes de Estado babilônico tradicionalmente retiravam as pessoas mais capacitadas (intelectuais, oficiais das forças Armadas, artesãos, príncipes, etc) dos Reinos conquistados e levavam para o centro administrativo babilônico, essas pessoas trabalhavam para o governo da Babilônia e geravam crescimento para a nova potencia mundial.

Construções arquitetônicas de luxo foram feita na Babilônia, a civilização babilônica vivenciou o auge do desenvolvimento arquitetural, representado pela construção das muralhas que protegiam a cidade, os luxuosos palácios, e os jardins suspensos da Babilônia, admirado mundialmente como uma das sete maravilhas do Mundo Antigo. As pessoas dos Reinos dominados (Províncias babilônicas), sem especialização ficavam em suas pátrias, pagando altos tributos ao monarca babilônico. Apesar da Assíria, Babilônia ser da mesma região, as administrações políticas eram diferentes, as colonizações eram díspares, o tratamento e a preocupação em manter o Império eram altamente distintos entre babilônios e assírios.

“E os mais pobres do povo, e o resto do povo que tinha ficado na cidade, e os desertores que se haviam passado para o rei de Babilônia, e o resto dos artífices, Nebuzaradão, capitão da guarda, levou-os cativos. Mas dos mais pobres da terra Nebuzaradão, capitão da guarda, deixou ficar alguns, para serem vinhateiros e lavradores.”

Bíblia Sagrada Jr 52: 15,16.

Após setenta anos de cativeiro babilônico em Judá (Reino Sul duas tribos), surge outra potência mundial com outra visão de administração e política. O Império Medo Persa tinha como característica central a captação de impostos e obediência total das leis persas, os medos não obrigavam pessoas a se deslocarem de suas terras para a Pérsia, as diferenças religiosas e culturais eram totalmente respeitadas. O rei Ciro (monarca persa), era um estudioso das culturas dos povos vizinhos dos persas, devido a isso não se importava em impor sua religião ou cultura sobre os povos dominados, o interessante para Ciro era manter a ordem no Império, nada melhor do que deixar todos os cativos a praticarem sua fé e suas tradições, a violência só era empregada quando houvesse necessidades de controlar rebeliões dentro do Império.

“ (...)  que digo de Ciro: Ele é meu pastor, e cumprira tudo o que me apraz; de modo que ele também diga de Jerusalém: Ela será edificada, e o fundamento do templo será lançado”.

Bíblia Sagrada 44: 28.

A administração dos medos persas foram em dividir seu vasto império em diversas zonas administrativas, os persas atingiram o apogeu político. Construíram estradas, criaram um bem dotado sistema de correios; uniformizaram o sistema de pesos e medidas; criou uma moeda padrão o dárico; dividiu o Império em Satrapias (Províncias) e nomeou Sátrapas (governadores), pessoas de confiança para governa-las. Através desse método, os persas mantiveram seu reino em paz, administravam e lucravam com uma alta carga tributária dos povos conquistados reservando o uso da violência somente em casos necessários, os administradores do reino eram bem informados e cultos, leitores das tradições e história dos povos, isso aumentou a capacidade de administração desse poderoso reino, que direta ou indiretamente beneficiou os judeus no retorno a Jerusalém.

“No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor proferida pela boca de Jeremias, despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, de modo que ele fez proclamar por todo o seu reino, de viva voz e também por escrito, este decreto: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus do céu me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá”.

Bíblia Sagrada Neemias 1: 1, 2.

O Novo Testamento tem a marca presente do Império Romano com alguns resquícios do Império Greco Macedônico presentes na cultura do dia a dia dos personagens Púbere Testamento Bíblico. A perfeição da política e do sistema político são as evidências do Império Romano, o sistema administrativo romano era fascinante, o governo de Roma era dividido em províncias onde havia um rei local governando a província (rei natural do Reino conquistando por Roma) sobre o comando do Império Romano, um proconsul ou um juiz romano atuava em cada comarca para garantir todas as leis obedecidas pelos distritos do Império Romano.

O sistema tributário era composto por diversos funcionários públicos romanos que obravam como publicanos em seus países e eram responsáveis em cobrar impostos das regiões dominadas por Roma, o dinheiro recebido ia para realizações de melhorias nas províncias e a maior parte dos impostos ficava retido na administração central de Roma. O Império Romano desenvolveu diversas obras públicas que significaram melhorias para o desenvolvimento social, econômico e administrativo romano. As principais vias do império foram pavimentadas e outras foram construídas ligando Roma ao mundo dominado pelos romanos no período, o exército foi profissionalizado e as estradas facilitaram a segurança e o deslocamento de tropas militares em caso de urgência, o direito foi estabelecido em Roma e variadas leis foram cunhadas desenvolvendo punições para povos cativos e romanos caso não atendessem as normas legalistas romanas. O direito romano e o sistema jurídico eram esplendidos continha uma eficiência tão perspicaz que ao longo dos anos foi introduzido na sociedade contemporânea.

É importante salientar que esses exemplos foram utilizados para ressaltar a importância de se entender o contexto histórico político e para delinear que toda a história bíblica é formada por contextos corteses de uma determinada época, pois sem levar esse aspecto em consideração, tornar-se-ia impossível a interpretação das Escrituras Sagradas, pois o Deus bíblico se mostra um Deus histórico que revela seus propósitos através das questões sociais das histórias dos textos. Outro aspecto importante desta interpretação é que sem levar esta em conta, fica até mesmo impossível uma real contextualização das Escrituras com a realidade de hoje.

2. Compreensão Teológica.

A análise deste aspecto é fundamental para se entender os propósitos dos testamentos, pois, as teologias do Antigo e Novo Testamento são frequentemente complexas pelo fato de não haver muitos estudos específicos nas instituições religiosas, onde transparecem diferenças teológicas que proporcionam um melhor entendimento do leigo a cerca da Bíblia.

O Antigo Testamento é uma coleção de 39 livros (Bíblia Protestante) e 46 livros (Bíblia Católica), onde se entrelaçam diversas correntes de ideias, filosofias, metodologias, tradições, culturas de povos e Reinos diferentes, muitas das vezes essas culturas se unem a cultura judaica e precisamos ter cuidado para analisar o período histórico para encontrarmos uma interpretação do assunto.

O Novo Testamento é um conjunto de 27 livros, possui um terço de toda a Bíblia, o grande diferencial é o tempo em relação ao Velho Testamento, o 2º testamento narra a história de aproximadamente um século enquanto o Velho descreve um período de milhares de anos, também discorre sobre vários Reinos em regiões diferentes, a geografia do Novo Testamento abrange a Palestina, a Grécia, o poderoso Império Romano e algumas regiões da Ásia.

O significado do Novo Testamento é “Novo Pacto”, em contraste com a “Antiga Aliança”, o vocábulo “testamento” transmite-nos a ideia de um testador ter tido a última vontade, só passa a ter efeito na eventualidade com o testemunho de vida e da morte do testador, caso ocorrido com a morte de Jesus Cristo.

“E por isso é mediador de um novo pacto, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões cometidas debaixo do primeiro pacto, os chamados recebam a promessa da herança eterna. 16 Pois onde há testamento, necessário é que intervenha a morte do testador. 17 Porque um testamento não tem torça senão pela morte, visto que nunca tem valor enquanto o testador vive”.

Bíblia Sagrada Hb 9: 15-17.

O Antigo Testamento limita-se a uma cultura, tradição, fé, religião nacional. O judaísmo está presente na 1ª parte da bíblia, com forte referencias ao povo de Israel e a história da construção desse povo, não existe uma definição clara de uma religião universal onde existam prosélitos de variados povos, nações, línguas etc; a existência é referente há uma fé nacional cujo objetivo é somente a edificação dos judeus.

O judaísmo presente no Antigo Testamento, refere-se muito pouco a possessões espirituais, anjos, demônios, a queda do homem etc;  a fé judaica relaciona-se com o desenvolvimento da vida do povo judeu, o incremento de histórias vitoriosas dos hebreus na conquista da Palestina, vitórias esplendida do Rei Davi sobre o forte inimigo, a reconstrução do segundo templo etc. essas informações consolidam a estruturação desse povo, confirmando a força dos judeus e de todo poderoso Yahweh o Deus dos hebreus.

Já o Novo Testamento, possui ensinamentos inéditos ou pelos menos quase inéditos, são mencionados versões de esclarecimentos sobre satanás, demônios, curas, milagres, o sobre natural de Yahweh presentes em homens de carne e osso. Esses atributos não são de grande valor para o povo judeu, apesar de haver situações semelhantes no Velho Testamento, foi no Novo Testamento que esses assuntos ganharam força e prestigio.

Permanece um contraste entre a teologia judaica e a do Novo Testamento, os israelitas não dão ênfase a uma determinada importância sobre as promessas de Yahweh a povos gentílicos, isso é raro no Velho Testamento. As festas mosaicas, costumes dietéticos, sacrifícios de animais e vida do povo judeu sob a lei de Moisés resultam na construção da teologia do Antigo Testamento que os colocava na condição de nação separada por Deus.

Na teologia do Novo Testamento a individualidade da salvação de cada um passa a ter importância decisiva para se alcançar o Reino de Deus. A questão do juízo final divino é bem mais enfocada nas páginas do Novo Testamento. Enquanto as batalhas no Antigo Testamento são conflitos entre nações, no Novo Testamento são espirituais e não patrióticas como no Velho Testamento. Na teologia paulina a batalha no Antigo Testamento mais intensa e feroz não é a luta com as armas de guerra comum, e sim, uma luta espiritual.

“pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes”.

Bíblia Sagrada Ef. 6:12.

A ação demoníaca não é tão ensinada nos ensinos judaicos, no Novo Testamento mais especificamente nos Evangelhos, muitos que eram curados por Jesus, deles saíam demônios. Inclusive os ensinos teológicos dos ensinos de Jesus Cristo, há um imperativo para se curar enfermos e expulsar demônios.

“Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai”.

Bíblia Sagrada Mt 10:8.

Os contrates encontrados nas duas teologias nos permitem assegurar que somente os ensinos do Antigo Testamento não seriam o suficiente para a pregação da libertação que a história humana ainda tem necessidade. A doutrina que encontramos na teologia do Novo Testamento complementa ou elucida melhor o que ficou um tanto obscuro pela teologia judaica.

3. Análise Cultural.

A palavra cultura reporta a ideia de costumes, habilidades, artes de um grupo específico de pessoas numa determinada época. A cultura começa a ser incutida em nós a partir da infância, primeiramente pela família onde nascemos ou pela qual fomos adotados.

Os povos bíblicos eram tão influenciados pelas suas tradições quanto nós somos pela nossa cada escritor bíblico escreveu de acordo com a sua perspectiva cultural. Isto significa que alguns dos termos e conceitos da bíblia podem ser pouco familiares para muitos de nós, devido à distância em que nós encontramos das terras e dos tempos bíblicos e aos muitos séculos de separação.

Por exemplo, um estudo dos costumes patriarcais mostra que, nos dias do período bíblico, nascer homem era muito mais importante que nascer mulher. Os meninos tinha privilégios e liberdade que as meninas em uma posição mais elevada que continuava na idade adulta. Através deste conhecimento, Cristo deu abordagem revolucionária às mulheres, considerando os costumes da época. Os discípulos do Messias não entendiam e ao mesmo tempo admiravam o seu mestre com o tratamento dado as mulheres.

“E nisto vieram os seus discípulos, e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe perguntou: Que é que procuras? ou: Por que falas com ela?”

Bíblia Sagrada 4: 27.

Este trabalho foi feito com a intenção de tentar esclarecer a interpretação bíblica, talvez essa obra não seja a melhor forma de interpretar a bíblia, mas com certeza é um meio de ajudar estudantes leigos que apreciam as Escrituras Sagradas.

 Bibliografia.

BRIGHT.  John. História de Israel. Editora Paulus, 4ª Ed., 2004.

CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. São Paulo, SP: Hagnos, 2ª Ed., 2001.

HOFF, Paul. O Pentateuco. Editora Vida, 2ª Edição., 1983.