Método de Produção de Sabão à Base de Cinzas e Óleo de Coco
Por Rodolfo Chissico | 13/09/2011 | EducaçãoMétodo de Produção de Sabão à Base de Cinzas e Óleo de Coco
Rodolfo Bernardo Chissico & José Soares Castelo Branco
Curso de Química, Universidade Pedagógica de Moçambique, Delegação de Nampula
e-mail: rodochissico@yahoo.com.br; rodochissico@gmail.com
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Resumo
Considerando a intensa necessidade do sabão, um dos produtos de limpeza conhecido, usado pelas civilizações a bastante tempo e a situação económica, educacional e social de Moçambique, surgiu a necessidade do desenvolvimento da pesquisa que visa elaborar um método de produção de sabão à base de substâncias de fácil aquisição e produção (cinzas e óleo de coco) capaz de ser usado para a produção de sabão pelas comunidades, como também pelas escolas principalmente rurais para experiências laboratoriais nas aulas de Químic. A pesquisa consistiu no método experimental, através do qual fez-se a determinação da concentração de álcalis totais nos extractos de cinzas do carvão brachystegia spiciformis, comummente conhecido como messassa, mpapa, tsonzo e a realização de experiências de produção de sabão à base das matérias referenciadas no tema. Realizou-se duas experiências preliminares de produção de sabão com base nos métodos já estudados que empregam o hidróxido de sódio no processo de saponificação com objectivo de analisar a função das substâncias envolvidas e, seguiu-se a fase do estudo de método de produção de sabão à base de cinzas e óleo de coco. Das diversas experiências desenvolvidas conclui-se que o sabão à base de cinzas e óleo de coco deve ser produzido a partir do extracto de cinzas e não a partir do emprego directo de cinzas como augurava-se. A reacção de produção do sabão deve ocorrer a quente e deve-se submeter ao processo de salga que consiste na transformação do sabão líquido em sólido e também contribui para a separação do sabão das lixívias e glicerina que possa conter. Verificou-se que muitas variáveis como: temperatura, proporções das substâncias: extracto de cinzas e óleo de coco, concentrações de álcalis totais nos extractos de cinzas definem a qualidade do sabão a ser produzido à base desse método.
Palavras-chave: sabão, cinzas, óleo de coco, extracto, método.
1. Introdução
A melhoria das condições e qualidade de vida da sociedade em geral, depende em grande parte da aplicação dos conhecimentos da Química, que permitem a produção de diversos produtos desde a limpeza até às diversas necessidades. Num país do terceiro mundo, como Moçambique é indispensável o desenvolvimento de acções que visam facilidades na aquisição de certas substâncias do uso quotidiano, como é o caso do sabão, objecto do estudo da pesquisa.
Sabão é o mais antigo produto de limpeza, definido como resultado da reacção designada saponificação, que envolve ácidos graxos e hidróxidos principalmente de sódio e potássio, (ALLINGER, 1976).
No processo de produção do sabão são usadas variedades de matérias, de acordo com a metodologia e os tipos de sabões a produzir porém, essas matérias podem ser classificadas em três (3) tipos: graxas, alcalinas e auxiliares. Contudo, muitas metodologias estudadas envolvem o uso de matérias de elevado custo. Face a isso, a pesquisa encontra a sua extrema relevância pelo tipo de material a privilegiar.
Analisando a constituição básica das cinzas que inclui dentre muitos óxidos os de sódio e potássio (SILVA e LANGE, 2008), e na perspectiva de encontrar um método que possibilitará a produção do sabão (nas comunidades como nas escolas “práticas laboratoriais”), surge o seguinte problema de pesquisa:
Como produzir sabão a partir de cinzas e óleo de coco?
O emprego directo de cinzas, ou, a extracção do material solúvel existente nas cinzas para o emprego na saponificação com o óleo de coco constituem as vias alternativas para a produção do sabão à base dessas matérias.
O objectivo geral do trabalho, centra-se na elaboração do método de produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco, substâncias que podem ser encontradas, produzidas ou importadas/exportadas em ou para qualquer ponto do nosso vasto Moçambique.
- 2. Parte experimental
2.1.Colecta da matéria – prima
As cinzas foram produzidas e colectadas pelo autor a partir da incineração do carvão das espécies: brachystegia spiciformis (messassa, mpapa, tsonzo) designado MS e bridelia micrantha (melacha, melelha, mussaba) designado ML, classificadas como espécies da 2ª e 3ª classes respectivamente, (Ministério da Agricultura, 2005). O carvão foi obtido em duas regiões do distrito de Massinga, província de Inhambane nomeadamente: Chicomo e Xihunze nos meses de Novembro de 2008 e Maio de 2009
O óleo de coco foi obtido em Massinga, província de Inhambane. Geralmente para o produção do óleo de coco, primeiro descascam-se os cocos e são ralados. Uma vez ralados, prensam-se para lhes extrair até a última gota do sumo que é comummente conhecido pelo nome de leite de coco. Coa-se bem o leite de coco e é colocado numa panela para a cozedura. A cozedura é feita até a massa secar pois, o óleo de coco fica pronto quando a água que o leite contem para de ferver. Nesse momento retira-se a panela da fonte do calor e coloca-se num recipiente até esfriar por completo, engarrafando-se em seguida.
2.2.Caracterização das cinzas
Para os testes físicos, foram analisadas as características do carvão e das respectivas cinzas.
As análises químicas consistiram na determinação da concentração de álcalis totais (teste de lixiviação) por titulação com o padrão primário ácido oxálico (titulante) a 0,2 N. Neste caso, preparou-se cinco extractos de cinzas (cinza:água 1:2) de carvão MS com tempos de maceração diferentes e submetidos ao processo de agitação por meio duma vareta, três vezes por dia até a efectivação das análises. Após aos resultados das análises, preparou-se o extracto a ser usado nos ensaios de produção do sabão. O processo de maceração durou nove dias.
3. Experiências de produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco
Realizou-se uma série de experiências de produção do sabão com o objectivo de obter recomendações úteis para a elaboração do método de produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco. As experiências consistiram no emprego de cinzas e extracto de cinzas, variando-se as proporções das substâncias, conforme resultados obtidos em cada experiência. Foram usadas as seguintes substâncias: cinzas, extracto de cinzas, óleo de coco, cloreto de sódio (sal da cozinha comum) e água. Os sabões obtidos foram submetidos aos testes de verificação das propriedades de acção de lavagem negro – de – fumo, tensioactivas e emulsionante, (CHITEVE, 2004 citando Teixeira).
4. Resultados e discussão
Os resultados dos testes físicos das duas variedades de carvão e respectivas cinzas, mostraram favoritismo à espécie MS que é sensível ao fogo e produziu cinzas brancas, ricas em óxidos dos metais alcalinos (MONTEIRO, 1966).
A Tabela 1 mostra os resultados das análises químicas da determinação da concentração de álcalis totais nos extractos de cinzas do carvão MS feitas com objectivo de verificar a relação existente entre o tempo de maceração das cinzas e a concentração de álcalis totais.
Tabela 1: Concentração dos álcalis totais dos extractos de carvão MS
Extracto |
Tempo de maceração (dias) |
Volume em ml |
Concentração normal dos álcalis totais |
|
Extracto |
Titulante |
|||
1 |
1 |
15 |
25,8 |
0,34 |
2 |
2 |
15 |
30,6 |
0,41 |
3 |
3 |
15 |
46,6 |
0,62 |
4 |
4 |
15 |
49,9 |
0,67 |
5 |
5 |
15 |
51,2 |
0,68 |
Os dados da Tabela 1 mostram claramente que quanto maior for o tempo do processo de maceração mais elevado será o valor da concentração de álcalis totais. Pois, a velocidade do processo de maceração é lenta. Consoante esta dependência o extracto a ser aplicado para os ensaios de produção do sabão, levou nove dias em processo de maceração, tendo alcançado uma concentração de 0,96 N de álcalis totais.
Tabela 2: Características dos sabões produzidos à base de cinzas e óleo de coco
Experiência e designação do sabão obtido |
Características dos sabões obtidos |
||||
Consistência |
Cor |
Espuma |
Estado físico |
Cheiro |
|
1* |
Duro e áspero |
Cinzenta à branco (cor das cinzas) |
Não forma |
Sólido |
Semelhante ao cheiro do óleo de coco
|
2 |
Duro |
Branca amarelada |
Formação rápida, bolhas pequenas |
Sólido |
|
3 |
Líquido |
Amarela vermelhada |
Formação lenta e não duradoura |
Líquido |
|
4 |
Muito duro e quebradiço |
Branca |
Formação muito rápida, bolhas grandes e duradouras |
Sólido |
|
5 |
Muito duro e pouco quebradiço |
Branca |
Formação rápida, bolhas grandes e pouco duradouras |
Sólido |
|
6 |
Apresentam características semelhantes às do sabão 4 |
||||
7 |
* Obtido a partir do emprego directo de cinzas. Para os restantes empregou-se extracto.
A saponificação em 1 foi incompleta. Isso deve-se em parte as cinzas usadas que continham muitos resíduos sólidos alguns inertes e outros com propriedades desconhecidas. Também, o sistema de cozedura das substâncias operava a uma temperatura de 110º C, aquém da temperatura mínima (138º C) recomendada, (KOULECHOVA e MUAMBE, 2001) citando Manual da Saboaria.
Depois dos resultados em 1, usou-se para as restantes experiências extracto de cinzas, variando as proporções das substâncias. Para a experiência 2, obteve-se o extracto (0,2 N) via fervura de cinzas. A fraca solubilidade deste sabão, justifica a saponificação incompleta, (FERNANDO, 2002).
A validação do cloreto de sódio como substância fundamental no processo de salga, foi testada na experiência 3 que resultou num sabão líquido, impulsionado pela não adição do cloreto de sódio. Isso revelou o maior teor de óxido de potássio na composição de cinzas (CHIES, SILVA E ZWONOK, 2008) cujo hidróxido origina geralmente sabões líquidos.
Sabões altamente clarificados foram obtidos em 4, 6 e 7, resultados da saponificação completa do óleo de coco, comprovada pela não observação do excesso de óleo após a cura contrariamente aos sabões 1, 2, 3 e 5. Nessas experiências, elevou-se previamente a concentração do extracto de cinzas até 2N pela evaporação da água (experiências 4 e 6) e pela introdução repetitiva de extracto (experiência 7). As proporções das matérias para esses sabões foram: 40 ml de extracto, 2 ml de óleo de coco e 8g de cloreto de sódio excepto para o sabão 7.
O sabão 5 apresentava um excesso de óleo. Salienta-se que foi adicionado 10 ml de vinagre na perspectiva de diminuir o grau de alcalinidade do sabão, facto não comprovado devido a falta de equipamentos no local onde desenvolveu-se a pesquisa.
Quanto aos testes de verificação da propriedades, os sabões 4 e 6 produzidos apresentam alta capacidade tensioactiva na ordem de 80% quando comparados com o sabão maenato[1]. O mesmo verificou-se na propriedade da acção de lavagem negro-de-fumo onde as soluções desses sabões arrastaram maior parte das partículas do negro-de-fumo pela adsorção, tornando os seus filtrados bastante turvos e na capacidade emulsionante, o que leva a concluir que esses sabões são os melhores.
Com base nas experiências de produção de sabão à base de cinzas e óleo de coco desenvolvidas, obteve-se recomendações a partir das quais, propõe-se dois métodos de produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco.
- 5. Métodos de produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco
Substâncias
Extracto de cinzas
Óleo de coco
Cloreto de sódio (NaCl) “sal de cozinha comum”
5.1. Método A
Procedimentos
1. Ferver no mínimo 80 ml de extracto até o volume baixar à metade e depois resfriar num banho–maria até a temperatura do extracto baixar aproximadamente para temperatura ambiente (25º C);
2. Introduzir 8 g de cloreto de sódio no recipiente a usar para a cozedura das substâncias;
3. Adicionar 2 ml de óleo de coco;
4. Introduzir 40 ml de extracto previamente concentrado do ponto 1;
5. Mexer a mistura muito bem até a dissolução total do cloreto de sódio;
6. Levar a mistura à fervura. Após cerca de alguns minutos, poderá observar a formação de espuma que irá elevar-se de nível e depois de um tempo baixará até ao nível mais baixo. Neste momento, aparecerão salpicos, o sabão está pronto.
7. Retirar o recipiente da fonte do calor. Despejar a massa numa forma. Depois de um dia do processo de cura do sabão já está em altura de ser usado.
5.2. Método B
Procedimentos
1. Pesar 8 g de cloreto de sódio e introduzir no recipiente a usar para a cozedura das substâncias;
2. Adicionar 4 ml de óleo de coco;
3. Introduzir 40 ml de extracto;
4. Mexer a mistura muito bem até a dissolução total do cloreto de sódio;
5. Levar a mistura à fervura. Após cerca de alguns minutos, poderá observar a formação de espuma não consistente que baixará de nível imediatamente. Neste momento adicionar mais 40 ml de extracto. Depois, a espuma aparecerá novamente, eleva-se de nível e baixa seguidamente. Finalmente, aparecem salpicos que indicam que o sabão está pronto.
7. Retirar o recipiente da fonte do calor. Despejar a massa numa forma. Depois de um dia do processo de cura do sabão já está em altura de ser usado.
Nota: poderá observar na forma (recipiente onde vai despejar a massa) um líquido (excesso: glicerina e extracto). Retirar o excesso antes de usar o sabão. Caso queira quantidades elevadas, deve multiplicar todas variáveis pelo mesmo factor.
Precauções: Os extractos de cinzas são produtos cáusticos que podem queimar a pele por isso, deve-se tomar muito cuidado no processo da produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco. Deve-se usar recipientes de vidro ou de barro.
6. Conclusões
O sabão à base de cinzas e óleo de coco, só pode ser produzido a partir dos extractos de cinzas (ricas em óxidos dos metais alcalinos, como o caso de cinzas da espécie MS). As cinzas a partir das quais serão obtidos os extractos, devem ser submetidos ao processo de maceração que deve levar o mínimo de nove dias e deve empregar quantidades elevadas de cinzas e água na proporção de 1:2.
O processo de salga é indispensável neste método para evitar a obtenção dum sabão líquido devido ao elevado teor de óxido de potássio que as cinzas contêm. O processo deve operar a altas temperaturas. Contudo, não existe um único método específico para a produção desse sabão.
7. Recomendações
Recomenda-se a pesquisa doutras espécies de carvão e outras gorduras para a produção de sabão; que se desenvolva um método de produção do sabão sólido ou mole à base de cinzas sem o emprego de cloreto de sódio ou doutros sais; o desenvolvimento de um método de produção do sabão à base de cinzas e óleo de coco empregando corantes e perfumes.
8. Referência bibliográfica
1. ALLINGER, Normam L. et al, Química Orgânica, 2ª Edição, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1976.
2. CHIES, F., SILVA, N. I. e ZWONOK, O., Desenvolvimento de blocos e tijolos a partir de cinzas de fundo de carvão–CIPECAL, [online] Disponível na Internet via WWW.URL.http://habitare.infoorg.br, Arquivo capturado em 2008.23.08
3. CHITEVE, L. Rafael, Pesquisa Exploratória da Produção e Uso dos Detergentes Naturais, Monografia Científica para a obtenção do grau académico de Licenciatura em Ensino de Biologia–Química, Departamento de Química – Biologia, Beira, Universidade Pedagógica, 2004.
4. Instituto de Tecnologia do Paraná, [online] Disponível na Internet via correio electrónico: www.tecpar.br, Sabão em pó; Fabricação; Processo, 09 de Março de 2005.
5. Ministério da Agricultura, Manual de Legislação de Florestas e Fauna Bravia, Maputo, Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia (DPFFB), Volume 1, 2005.
6. MONTEIRO, Eugénio, Elementos de Física–Química, 6ª edição, Coimbra, Editora Limitada, Volume II, 1966.
7. ------------------------------ Propriedades do Sabão [online] Disponível na Internet via WWW.URL:http//www.cdcc.sc.usp.br/química/.../sabãohtml Arquivo capturado em 13 de Julho de 2008.
8. SILVA, M. L. e LANGE, L. C., Caracterização das Cinzas de Incineração de Resíduos de Serviços de Saúde, [online] Disponível na Internet via WWW.URL:http://www.scielo.br/scielo.php Arquivo capturado em 02 de Setembro de 2008.
9. KOULECHOVA, Tatiana e Manuel Muambe, Compêndio dos Trabalhos Feitos e Defendidos no Departamento de Química Período 1999 a 2001, Departamento de Química, Beira, Universidade Pedagógica, 2001.