MERGULHANDO NO TERROR - O PINTO RAFAEL

Por Mara Nascimento | 27/05/2013 | Contos

O PINTO RAFAEL

AUTORIA - ATIANA GOMES E MARA NASCIMENTO

“... Calisto percebia que o pinto crescia bastante...”.

  Era uma vez um Senhor chamado Calisto. Seu Calisto vivia caçando sem necessidade, pois ele era um rico fazendeiro. Caçava somente porque sentia satisfação ao ver os animais mortos. Isso lhe garantia o título de cidadão mais bravo e corajoso da região.

            Certa vez seu Calisto foi à caça sozinho. Chegando lá no local de espera, armou seu mutá no alto de uma árvore, em seguida desceu e fez uma fogueira para assar um pássaro que ele havia matado para o jantar.  Enquanto saboreava seu delicioso jantar sentado à beira da fogueira, seu Calisto ouviu uma voz estranha que vinha de muito perto:

            _ Boa noite, seu Calisto... Obrigado pelo jantar, mas eu não costumo comer meus parentes.

            Seu Calisto olhando para os lados, viu um pintinho pelado. Então arregalou os olhos ao perceber que o pinto havia falado. Ele arrepiou-se inteirinho, um frio inexplicável tomou conta do se corpo e de sua voz. Calisto ficou paralisado de tanto medo. Um silêncio tomou conta da floresta, parecia que toda bicharada sentia o mesmo pavor que seu Calisto sentia. O vento também cooperava com o terror, pois não mexia uma folha em toda a floresta.

O pinto começou a tossir e exclamou:

            _Está tão frio, né, seu Calisto.!

            E continuou:

            _ Ah! Seu Calisto, eu nem me apresentei: pode me chamar de Rafa!

            Foi esticando a asinha em direção a mão de seu Calisto, mas seu cumprimento foi interrompido por um grito que estremeceu mata adentro.

            _ Eeeeeeeeei Rafaeeeeeel.

             E o pinto disse:

            _ Eu não tenho nada a ver com quem me chama fora de hora. Concordas comigo seu Calisto?

            Seu Calisto completamente desesperado diante daquela desconfortável situação, levantou-se devagar e tratou logo de se escafeder daquele local, deixando tudo para trás: lanterna, bolsa e armas.  O pinto Rafael o seguia  dizendo que iria com ele. E outro grito medonho estrondou na floresta:

                 _ Eeeeeeeeei Rafaeeeeeel!!!

             Calisto percebia que o pinto crescia bastante, que já estava maior que ele. O pinto encostava-se em seu Calisto com uma temperatura bastante quente. O grito se aproximava estrondando na floresta, e o pinto dizia:

                  _ Vou com você porque adoro fazer companhia para perversos caçadores, que saem de suas casas para matar animais indefesos.

            Então seu Calisto chegou a suas terras, entrou imediatamente em um de seus currais, escondeu-se entre o gado conseguindo assim, fugir. O pinto ficou gritando e crescendo. Calisto já chegando à calçada de sua casa ainda avistava o pinto num raio de dois quilômetros mais ou menos de distância. O caçador entrou na casa, assombrado, contou tudo o que acontecera na floresta e jurou:

            _ Nunca mais irei caçar e, também, jamais matarei uma formiga, se quer por acidente.

             Depois disso, pegou fama de medroso e covarde em toda a região. Agora vive rezando e pedindo a Deus para nunca mais se encontrar na torturante companhia do pinto Rafael. Agora coitado de seu Calisto, vive cheio de problemas: não toma mais banho sozinho, tem medo do pinto aparecer, não pega em armas, tem medo de sua sombra, da escuridão, da claridade, do vento, da chuva, de trovão, de relâmpago...Seu Calisto não pode ver pinto, que se apavora, sai correndo, chorando e gritando socorro. Agora pense num homem medroso...                                                                                               Atiana e Mara