Memórias apagadas...

Memórias apagadas...

 

Que falta me faz um álbum de fotografias...

Não conheço as feições dos meus avós.

Nem as feições dos meus irmãos que morreram antes deu nascer.

Do meu pai, se não fosse uma foto opaca num binóculo, que até hoje guardo em minha gaveta, não teria nenhum registro.

Da minha mãe, algumas poucas fotos, dentre as quais a do binóculo, onde ela está ao lado do meu pai.

Que pena que eu pertença a uma geração dum tempo de poucos registros fotográficos.

Tempo em que as poucas fotos eram encaixadas em belas molduras e vaidosamente afixadas nas paredes da sala de visitas.

Tempo em que, em quase todas as casas, existia afixado na parede da cozinha um Quadro da Última Ceia.

Tempo de casa de cozinha ampla, de família de muitos irmãos, de mesa de refeição perto do fogão.

Tempo de Santuário no quarto do casal.

Parentes e amigos que hoje vivem a senectude costumam afirmar que eu sou a cara do meu pai...

Os de agora afirmam que o meu filho é a minha cara...

Mas a mim não foi dado o direito de conhecer a cara dos meus avós...

Justo o tempo, feito gafanhoto,

Devorou tudo...

Apagando memórias que hoje me fazem tanta falta.