Memorial Descritivo

Por Sátiro Ramos | 14/03/2017 | Educação

Memorial Descritivo

 

Raimundo Sátiro dos Santos Ramos

Discente do Curso de Especialização em Docência Para a Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Docente do IFPA-Campus de Santarém.

 

Rever a trajetória profissional e pessoal é um processo de aprendizado e de autoconhecimento. Essa “volta ao passado” nos permite refletir sobre nossas escolhas, nossas crenças e valores de outrora, e fazer comparações com nossa personalidade atual. Neste contexto, o memorial é um instrumento útil e que segundo Brasil (s/d) é uma autobiografia que descreve, analisa e critica acontecimentos sobre a trajetória acadêmico-profissional e intelectual, avaliando cada etapa de sua experiência.

Nasci em São Miguel do Guamá, em 02 de agosto de 1977, cidade do interior da região Guajarina do Estado do Pará. Sou filho de uma professora do Ensino Infantil e de um vigilante e ex-garimpeiro da Serra Pelada.

Sempre gostei de estudar e, hoje, mais do que nunca, procuro conhecer-me, pois, definitivamente, entendi a seguinte frase que li há alguns anos: “Quanto mais você se conhece, mais você se cura”.

Fiz o Ensino Fundamental no Externato Santo Antônio Maria Zacarias, instituição particular católica, na qual minha mãe, com muito trabalho, conseguiu uma bolsa integral. Já, naquela época, percebia a diferença entre a educação escolar pública e a particular no Ensino Fundamental – a particular era bem melhor na minha cidade.

Tive uma infância tranquila, apesar da separação dos meus pais quando tinha 10 anos, isso afetou a dinâmica de minha família, pois minha mãe ficou com três filhos para criar sozinha. Por muitos anos, guardei mágoas de meu pai, porém, nos reconciliamos há uns 10 anos atrás. Depois de passados uns dois anos dessa reconciliação, ele faleceu.

Sempre fui muito introspectivo, reflexivo e sonhador, e sabia que mais cedo ou mais tarde, teria que sair de minha pequena cidade natal e conhecer outros ambientes. Comecei a entender minha natureza, após conhecer a numerologia cabalística, que mostrou o mapa da minha personalidade, e por que não dizer, da minha alma.

Estudei um ano (1993) de Administração no Ensino Médio, que não gostei, em uma Escola Estadual em minha cidade natal. Fui então para Castanhal/PA participar do processo seletivo para a Escola Agrotécnica Federal de Castanhal (atual IFPA – Campus Castanhal) no Curso Técnico em Agropecuária, foi onde pude amadurecer um pouco mais e sair em parte de minha inocência e ignorância em vários assuntos.

Em Castanhal, vivi em regime de internato, por 3 anos (1994 a 1996), indo aos finais de semana para casa, quando o dinheiro era suficiente para pagar a volta, quando não, ficava na escola mesmo por 15 ou 21 dias seguidos. Sempre pegava carona para ir para casa, era arriscado, mas também divertido.

No final de 1996, prestei vestibular para Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, onde vivi (na própria Universidade) de agosto de 1997 a abril de 2003, passando nesse período por 3 greves de 3 a 4 meses cada. Durante minha permanência na UFRRJ, fiz estágio no Departamento de Solos, Departamento de Fitopatologia, Departamento de Fitotecnia, Jardim Botânico e no Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade do Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Na UFRRJ, também atuei na Empresa Júnior de Agronomia (Agrojunior), onde desempenhei a função de diretor jurídico-financeiro e diretor de projetos. Atuei também pela Agrojunior na organização do I Simpósio de Hidroponia do Rio de Janeiro.

Após formado, fui aprovado para a residência profissional para trabalhar na Delegacia Federal de Agricultura (representação do Ministério da Agricultura no Estado do Rio de Janeiro) no centro do Rio de Janeiro, o que me consumia de 5 a 6 horas por dia, no trânsito engarrafado da avenida Brasil. Observei in loco as disputas políticas que iriam se repetir, a sua maneira, nos diversos órgãos posteriores por onde iria trabalhar. Na Delegacia, desenvolvi atividades ligadas ao fomento das cadeias de Floricultura e Apicultura. Também atuei na organização do Seminário de Homeopatia na Agropecuária Orgânica do Rio de Janeiro.

Em 2004, fui aprovado no mestrado em Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, concluído em 2006. Neste período, morei em Belém, na casa de amigos e em Castanhal novamente, local de meu experimento de campo. Pesquisei sobre a produção de biomassa e nutrientes em florestas secundárias da região nordeste paraense.

Em 2007, fui aprovado no Concurso Público da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará, no cargo de Agente de Defesa em Agropecuária como agrônomo. Trabalhei  nesse órgão até agosto de 2009, na cidade de Monte Alegre/PA. Desenvolvi, na referida agência, trabalhos de inspeção fitossanitária de plantações de cacau, laranja, limão e soja; além de fiscalização de agrotóxicos, sementes e mudas.

Em novembro de 2009, fui aprovado no concurso para o IFPA - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará-Campus Santarém/PA, atuando no Curso Técnico em Agropecuária, bem como em Cursos de Licenciatura em Informática e Pedagogia do PARFOR - Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica em Juriti/PA e Santarém. Também, atuei no PROCAMPO - Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo e PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, todos programas institucionais.

No IFPA, atuei também como Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação, Coordenador do Eixo de Recursos Naturais (englobando os Cursos de Mineração, Pesca, Aquicultura e Agropecuária), Fui Membro da CPA, Comissão de Processo Seletivo, Orientador de Estágio, Orientador de TAC, Coordenador do Grupo de Pesquisa em Recursos Naturais da Amazônia. Publiquei diversos artigos sobre Socioeconomia, Ciência do Solo e Fitotecnia. Recentemente, publiquei artigos na área educacional. Ministrei diversos minicursos pelo IFPA, sendo o minicurso de Programação Neurolinguística Básica e o minicurso de mapas mentais alguns deles. Desenvolvi pesquisa relacionada à comercialização da cultura do abacaxi e, atualmente, coordeno a pesquisa sobre a Agricultura Urbana em Santarém.

Fiz formações em Coaching e PNL – Programação Neurolinguística no Rio de Janeiro e São Paulo para compreender melhor meus alunos e melhorar o processo de comunicação e ensino-aprendizagem com eles. Foram formações extremamente importantes para mim que não tenho formação em licenciatura. A PNL me ajudou entre outras coisas a entender os alunos e os motivos pelos quais uns aprendem mais, outro menos, o mesmo conteúdo.

Nesta minha trajetória tive a oportunidade de ver o curso e o técnico em agropecuária de diferentes perspectivas. Como aluno, como profissional e como professor. Portanto, posso falar com base na minha experiência o que funcionou e o que não funcionou para mim em termos de ensino-pesquisa-extensão no âmbito da formação do técnico em agropecuária.

Uma coisa é certa, a prática foi fundamental para consolidar meu aprendizado. Com muita franqueza afirmo que muita coisa aprendi com mais propriedade na escola agrotécnica do que na faculdade de agronomia.

Em 2012 enveredei no caminho do Doutorado em Educação via DINTER – Doutorado Interinstitucional entre UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas e UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará, onde tinha como projeto de pesquisa “A Implementação da Educação Profissional no IFPA – Campus Santarém: Implicações na Formação do Técnico em Agropecuária”. A linha de pesquisa que atuei foi a de políticas, administração e sistemas educacionais. Na UNICAMP também atuei no Lapplane – Laboratório de Políticas Públicas e Planejamento Educacional. Morei em Campinas por alguns meses para cumprir parte das exigências acadêmicas do curso. Esse período me proporcionou bastante crescimento profissional e pessoal.

A pós-graduação me permitiu inseri-la em minha trajetória: aluno-profissional-docente-pesquisador. Essas diferentes experiências proporcionaram e ainda proporcionam um enriquecimento e compreensão extremamente importantes no que diz respeito à formação do técnico em agropecuária, bem como sobre os determinantes econômicos e políticos que influenciam a formação do referido profissional e também a pesquisa.

Meu projeto de pesquisa para o doutorado surgiu em grande parte de minhas indignações sobre diversas áreas que observo dentro do IFPA:

 

  • Gestão ineficiente;
  • Comunicação ineficiente;
  • Falta de recursos materiais e humanos para o bom desenvolvimento das aulas;
  • Programas institucionais confusos e ineficazes;
  • Cursos extremamente teóricos;
  • Cursos desconectados com o mundo do trabalho;
  • Falta de foco e identidade na Instituição como um todo;

 

Procurando agora fazer uma análise otimista aponto alguns itens:

 

  • Interiorização da educação profissional Brasil afora;
  • Mais vagas no ensino profissional;
  • Tentativa de integração da educação profissional com alguns programas sociais.

 

Desde o final do ano de 2016 até o momento atual faço parte do Núcleo Docente Estruturante, que possui a tarefa de produzir o projeto pedagógico do curso de bacharelado em agroecologia. Neste aspecto, estamos discutindo bastante a questão do currículo, uma vez que esse curso é inovador em nível de Brasil.

O primeiro desafio foi conscientizar alguns professores que o curso é viável e que existe demanda específica. A resistência se dá por conta das formações dos docentes na graduação terem sido voltadas para a agropecuária convencional, portanto, utilizando um modelo específico de currículo. Já o curso de agroecologia exige uma agropecuária alternativa, que utiliza as bases da agricultura orgânica, portanto, mais sustentável que a agricultura convencional, e que, portanto, exige outro tipo de currículo.

Procuro com meus trabalhos de pesquisa contribuir de alguma forma para que a educação profissional, principalmente na região Oeste do Pará possa ajudar a formar pessoas preparadas para o mundo do trabalho, e que também possam compreender a realidade política e econômica que os cercam. Que essas pessoas possam ser reflexivas, críticas, possuam capital cultural e sejam essencialmente humanas.

Em suma, trabalho sempre para que as pessoas tenham consciência de forma ampla do mundo, de como ele é um espaço de disputa. Sustento a crença de que se cada um de nós mudarmos, se nos tornarmos pessoas melhores a cada dia, no final teremos um mundo melhor.

O sistema em que vivemos está posto, alguns defendem a revolução total, outros a reforma. O importante para mim em primeira instância é que as pessoas tenham consciência de que vivem nesse sistema.

Não se pode mudar aquilo que não se conhece.

 

 

Referências

 

BRASIL. Orientações para a elaboração do memorial descritivo. Disponível em <http://tudosantatereza.com.br/documentos/11-1262883038.pdf>. Acesso em 09 de março de 2017. 6p.