MEMÓRIA, MEMORIAL E AUTOBIOGRAFIA

Por Hélida dos Santos Sindor | 18/07/2013 | História

MEMÓRIA, MEMORIAL E AUTOBIOGRAFIA

Hélida dos Santos Sindor

         

 Conceito de Memória

Memória é um conceito bem complexo, que pode ser discutido sob o olhar de diversas disciplinas. É um trabalho minucioso que exige dedicação daquele que o constrói, nele será exposto sentimentos reais que fizeram parte de uma História, por esse motivo é de premente importância. Sendo memória a descrição, a recordação de fatos vividos no passado, que foram simultaneamente organizados e armazenados pelo ser que os rememora.Assim como não pode-se discutir memória sem apresentar todos os fatores envolvidos, não pode-se falar em memória sem relacioná-la com tempo.

 Memorial

 Por mais que o conceito de memorial possa ser trabalhado em várias disciplinas, é importante saber que é um processo rigoroso, produzido com nossas memórias fundamentais que aguça extremamente nossas áreas do saber. Ainda que existam conceitos de memória no interior da filosofia, da psicologia, das neurociências e das ciências da informação, entre outras, a idéia de memória social significa que perguntas provenientes de cada uma dessas disciplinas possam ir mais além do conhecimento alcançado, uma vez que realizados novos estudos mais aprofundados. Fazendo surgir um campo de problemas que até então não tinha sido investigado por essas ciências da memória.

 Autobiografia

     É crucial conhecermos nossa História e nos identificar como parte integrante de um meio social, ou seja, como indivíduos agente e construtor de sua própria História, exercendo um papel de destaque na sociedade, tendo como base para realização desse trabalho a memória coletiva – que do meu ponto de vista - existe apenas na forma dos registros coletivos, tanto orais quanto escritos ou reais. Não há um meio de todos se recordarem coletivamente, fisiologicamente falando. Mas sim, recordações, registradas e guardadas por vários indivíduos, porém, relembrada de maneira particular.

      Para escrever as páginas que se seguem, foi necessário cobrar-me muita concentração - apesar de as memórias invocadas serem classificadas como sendo de longa duração. Organizamos as memórias de forma caótica, conforme vão ocorrendo. Quando precisamos relatar os acontecimentos, o cérebro precisa pôr em ordem as informações e separar apenas as que são relevantes para relembrar. E assim vagarosamente são revistos em nosso cérebro acontecimentos de punho importante para o memorial.  Meu relato foi construído com base nos princípios já abordados: Que as lembranças acontecem de maneira particular a cada indivíduo exigindo do mesmo muita concentração, a fim de criar uma ordem cronológica para as lembranças relatadas.

 

             Experiências de Vida Escolar: Comunidade de Campo Verde

 

      O espaço geográfico: Município de Itaituba, na comunidade de Campo verde, no  km-30, no ano de 1995. Eu, Hélida dos Santos Sindor, situo  este ambiente como cenário da minha história, até onde minha memória me deixa recordar, a qual irei discorrer sobre acontecimentos que marcaram minha trajetória de vida até os dias atuais.

        Com mais ou menos cinco anos de idade, lembro que eu era uma menina levada, gostava de subir em arvores e andar de bicicleta, também me recordo que quase sempre o dia brincando na rua ou na casa da minha tia, minha mãe não tinha muito tempo para se preocupar com as minhas brincadeiras, pois passava o dia trabalhando com cozinheira e atendente em um restaurante chamado Maloca, na época era muito movimentado. Porém, tenho certeza que mesmo ocupada ela estava atenciosamente olhando para mim que brincava em frente ao restaurante. Minha mãe sempre se dedicou muito comigo e a minha irmã, mesmo sendo mãe solteira batalhou para nos dar o melhor possível. Fato que me lembro muito bem é que sempre pela tarde ela gritava meu nome com um tom de voz preocupado e sempre que ouvia sua voz saia correndo ao encontro. Quando a noite chegava, nós duas rezávamos, e minha mãe sempre me falava de seus planos futuros. Eu admito que na maioria das vezes não entendia o sentido de suas, mas hoje sei exatamente o significado do que ela dizia e ate sua expressa facial que ficou registrada em minha memória.

          Os dias se passavam eu sempre me dedicava as minhas tarefas diárias como estudar e brincar. Porém, um dia foi diferente para mim, pois quando cheguei em casa vi minha mãe arrumando todas nossas roupas em  caixas e bacias, minha irmã brincava no chão, estranhando e observando aquela movimentação percebi que estávamos de mudança. Nós nos mudamos para um barraco velho e feio que a minha mãe comprou da minha tia, de início não gostei muito do lugar, depois de organizado e limpo tudo parecia ser muito melhor, além disso sempre ouvia minha mãe dizendo para suas amigas esse barraco é feio, mas é meu, e se ela estava feliz eu também estava. Aos poucos as coisas foram se modificando, com a venda de refeições, ela pode investir e melhorar o local, como morávamos no barraco mesmo, tudo teve que ser construído com a gente dentro; às vezes dormíamos sob a luz do luar e céu estrelado, pois não tinha telhado, mas no dia em que nossa nova morada foi coberta logo pela noite caio um pé d água. Ela dizia que São Pedro só estava esperando os pedreiros terminar para mandar chover, e eu inocente acreditava e até hoje acredito. Ver tudo se transformando, para mim era o máximo, lembro que ao termino da construção tudo foi pintado de verde a cor da esperança como ela mesma dizia.

           A partir desse momento adquiri uma nova diversão, assistir TV, pois tinha que ajudar minha mãe no atendimento às pessoas. Sempre que chegava da escola fazia e gostava muito. Na verdade, a realização dessa tarefa era como se uma disputa entre meninos e meninas, pois ambos queriam se mostrar melhor que o outro. Enquanto realizava minhas tarefas, minha mãe me olhava e ria; dentro de mim eu sentia estar tudo certo. Em uma mesa reservada, estudava e fazia minhas refeições. Era muito comum sempre pela tarde ficar cuidando do balcão do restaurante. Eu adorava ganhar 50 centavos, isso também me fazia imaginar que eu era independente. Na escola, meu professor sempre dizia que estudar significa ser independente, sendo assim eu imagino estar no caminho certo; assim eu me dedicava mais aos estudos. Porém, eu também era uma menina muito levada, brigava muito na escola e quase toda semana ficava sem recreio, e só assistia meus colegas brincando fora da sala de aula.

       Com exatamente nove anos, em 1999, deparo-me com outra mudança, pois onde nós morávamos ia ser destruído para que fosse realizada uma obra de asfalto de 25 km da BR 163. Como nossa casa fica próxima à rua, tivemos que mudar para outro local dentro da Comunidade de Campo Verde; nesta época eu já fazia a 4ª série, fase que eu brinquei mais que estudei e como consequência a recuperação. Minha mãe ficava brava e eu nem dei atenção, pois o que me interessava era explorar o novo local em que morávamos que era adequado para brincadeiras. Mas, minha alegria durou pouco, porque em Janeiro de 2000  nós mudamos novamente para a residência de minha tia que estava vazia, enquanto minha mãe trabalhava em um ponto comercial eu ajudava nos afazeres de casa e levava minha irmã para a escola.

Outra mudança que marcou muita a minha infância foi quando eu iniciei a 5ª serie do Ensino Fundamental. A partir deste período da minha vida despertou em mim um significativo interesse pelas disciplinas de Historia e Geografia, devido um professor que passou uma grande dedicação e compromisso com a as mesmas, Mario Luis Ghizome que conseguiu transmitir essa energia positiva. Para mim ele é um exemplo de educador e pessoa que com suas sabias palavra dizia que tudo era possível quando nós queremos conquistar o grande e bom para nossa vida. Desde então passei em me empenhar mais, e dessa maneira prosseguiu durante toda a minha vida escolar.

 A Faculdade de Itaituba e as minhas Aulas na Escola de Campo Verde

       Aos 18 anos, finalizei o Ensino Médio, determinada a ingressar em uma faculdade, no ano de 2009 prestei o vestibular pela Faculdade de Itaituba e tive êxito, iniciando uma nova etapa na minha vida acadêmica a licenciatura plena de Historia. Para mim foi um grande impacto estar em uma sala com pessoas estranhas e na grande maioria mais experientes do que eu. Lembro bem que todos tinha algo a dizer uma história bonita a contar, porém  restava repetir a façanha de realizar um sonho de alcançar a graduação.De início me senti envergonhada, desconfiada eu contei que fui mãe aos 15 anos, comigo já carregava uma responsabilidade muito grande que assumi cedo de mais, de alguém que dependia de minha força e coragem de nunca desistir, Ruan Pablo minha motivação de vida. Ao citar esse detalhe da minha vida a docente Domiciane me olhou com um olhar assustado, que eu gostaria de saber o que quis dizer aquela expressão no seu olhar, não somente dela, mas de toda a turma. No fundo eu já sabia, pois a idade já me contava.

No primeiro trabalho expositivo na disciplina Metodologia da Pesquisa ministrada pelo docente Claudio, eu parecia uma menina de 5 anos que falava de mais e arrancava risos de todos, foi um dos melhores momentos da faculdade. Nesse mesmo período iniciou-se também uma grande caminhada para a Secretaria de Educação, meu objetivo era conseguir uma carga horária pelo município, para manter meu curso e adquiri experiência. Esse objetivo foi alcançado em fevereiro de 2010 comecei a jornada como docente do Ensino Fundamenta II  ministrando a disciplina de Artes.

Meu primeiro dia como professora foi muito bizarro, a hora parecia não passar e aquelas crianças falavam muito, e em um segundo de reflexão sentir que provei do meu próprio veneno. O desafio era conseguir a atenção daquelas crianças, no momento a melhor estratégia foi assumi o papel de professora linha dura, no entanto não deu muito certo, depois de meses percebi que o correto e importante era se tornar amiga daquela pessoazinhas e assim me dediquei. No final do ano mesmo, sem agradar a todos consegui a atenção de grande parte de meu alunado, e recordo que juntos dançamos e cantamos. Eu descobri que me prendi no meu próprio laço, pois surgiu entre nós uma grande amizade.

No ano de 2011, estava ansiosa para saber se iria continuar como professora, quando recebi a notícia positiva de que iria continuar pelo município, e assim continuei a estudar em paz, tranquila na  faculdade. Entre nossa turma surgia uma grande cumplicidade e boas amizades. E no decorrer do curso desenvolveu entre nosso grupo a alta defesa em conjunto, ou seja, não eram mosqueteiros, mas era cada um por todos.

Portanto, em relação ao Estagio do Ensino Fundamental II não haverá necessidade da realização desse trabalho, pois eu conto com a experiência de sala de aula ministrando a disciplina de História Escola Engenheiro Francisco Barros sob a responsabilidade da direção de Rita Almada com a declaração em anexo. Somente irei realizar o Estágio do Ensino Médio, por que necessito  dessa experiência em sala, em prol do enriquecimento do meu conhecimento acadêmico e profissional.

 

Identificação da Escola de Atuação: Aspectos Físicos  

       O memorial de atuação foi realizado com base na atuação na escola de Ensino Infantil e Fundamental Engenheiro Francisco Barros, situada na zona Rural do município de Itaituba, Campo Verde Km-30 CEP 68180-000, telefone:(93) 91542986. A escola está em funcionamento das 7h30 as 11h30 no turno da manhã e das 13h00 as 17h00 no turno da tarde, funcionando ainda no turno da noite com EJA de 5º a 8º, 3º Etapa e 4º Etapa, funcionando também como anexo da escola estadual BENEDITO CORREIA DE SOUSA no turno da noite. Com o objetivo de educar a comunidade, para que o homem da zona rural tenha qualificação profissional, para que o mesmo tenha a oportunidade de exercer o papel de agente transformador de sua própria história e do meio em que vive.

 Estrutura do Funcionamento e Descrição da Estrutura da Escola.

         Pertence ao órgão Municipal de ensino, sob a administração da Diretora Rita Almada Ghizone que reúne um Núcleo Gestor composto por uma Vice Diretora sob a administração de Cláudia Almada, como auxiliar conta com o apoio de um grupo de um secretário (Cristovão) e três auxiliares.

         No total de 6 funcionários, 3 são concursados e efetivos, 3 são contratados temporariamente por tempo indeterminado. No quadro docente conta com 12 professores; 12 contratados e 11 efetivos, 8 trabalham no Ensino fundamental I e Educação Infantil. Somando assim o total geral de 54 funcionários.

        A estrutura física conta com um aparato de iluminação natural, ventilação em sala de aula, o espaço físico a parti deste ano 2013 encontra-se em ótimo estado devido sua recente construção, porém, a escola conta temporariamente com laboratório de informática, portanto seus recursos tecnológicos são insuficientes.

           As condições materiais dos móveis da secretaria encontram-se em bom estado, pois são novos, mas os recursos áudio visuais são insuficientes, contando com um TV, dois DVD, um Notebook, um data show e uma caixa amplificada em funcionamento.

        

  Fundamentos do Projeto Político Pedagógico da Escola: Planejamento

     

       O planejamento consiste na adequação das características da comunidade para que haja um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis de conhecimento do alunado; como estudo do espaço geográfico e recursos históricos, buscando desenvolver meios de possíveis de soluções dos problemas locas, por contribuição da educação como fator principal para o melhoramento e transformação da comunidade, no âmbito social e conseqüentemente no espaço físico.

       Esse projeto conta com a prática em sala de aula, projeto de festas juninas com o objetivo de inserir o aluno no meio musical, desfiles do dia sete de setembro, trabalhando o aspecto cultural dos alunos e a noite cultural no intuito promover interdisciplinaridade.

         A escola também conta com reuniões pedagógicas, envolvendo o quadro de funcionários, pais e comunidade em geral, para possibilitar entre os diferentes grupos uma discutição em prol do melhor desenvolvimento educacional dos jovens e adultos.

 

 A importância da prática docente na formação profissional.

    

 Minha experiência em sala de aula iniciou no ano de 2010, na comunidade de Campo Verde km-30, na escola Engenheiro Francisco Barros, com as turmas de 5º a 8º, com a disciplina de artes. Esta experiência foi marcante para mim, pois foi única e desafiadora, com apenas 19 anos, foi a minha primeira atividade profissional.

Os principais problemas enfrentados por mim foi a indisciplina do alunado que pouco se interessava pela disciplina, por se considera inferior, nessa momento tive que desenvolver meios diferentes de avaliação para desperta o interesse do aluno para com a disciplina de artes. 

Infelizmente, outro grande obstáculo deveria ser vencido, a minha falta de experiência. Para esse problema, contei com a ajuda de colegas professores, mas confesso que tive muita vontade de desistir e não mais voltar, na maioria das vezes me via perdida e chorava muito em casa, mas a esperança é a ultima que morre. Eu continuava na minha luta diária e árdua e em relâmpago de inteligência percebi que não era um jeito, mas sim era o carinho dos meus alunos que eu precisava conquistar.

A partir deste momento, depois de três meses, passeia a tentar conhecer melhor a realidade de cada aluno, para que dessa forma surgisse um elo entre professor e aluno. Partindo dessa estratégia, me aproximei daquelas pessoinhas que passavam boa parte de seu tempo na minha companhia. Ao término do ano letivo senti ter desempenhado um bom trabalho. As dificuldades são muitas, enquanto profissional da educação, pois a realidade enquanto acadêmica é totalmente diferente da realidade escolar. Ser professor é deixar de lado tudo e buscar uma nova forma de vida, de maneira a cobrar de si mesmo algo melhor, pois a realidade do docente é de desafios diários que envolvem a responsabilidade de educar várias crianças, de níveis diferentes, sendo esse um dos maiores impasses, seguido da falta de participação de familiares. Mas como perspectiva profissional, tenho como objetivo ter um papel de grande contribuição, em relação ao meio educacional de minha comunidade.      

        No ano de 2011, ministrei a disciplina de História, área a qual estou cursando, várias dificuldades surgiram e existem até hoje, chego até a acreditar que necessitamos delas. Mas aprendi com elas, que o aluno precisa ver sua realidade em sala de aula, para que haja o interesse mútuo. No ano de 2012, continuei com a mesma carga horária (História) e cada ano é um desafio diferente, tenho muito por aprender e descobrir desse universo educacional. Atualmente, estou no sétimo período do curso de História e há três anos em sala de aula.  Acredito hoje que, é muito importante e necessária a preocupação com a realidade do alunado, e principalmente, compromisso com a educação, pois é por meio do conhecimento das necessidades de cada um é que se modifica de maneira positiva a sociedade. 

    

Conclusão

   Tendo um hoje um olhar mais amplo em relação à prática docente, é relevante relatar que a profissão em questão se fez presente em minha vida através de um grande acaso, inesperado,  porém crucial. Trabalhar como docente hoje faz parte de uma rotina que quero ter em minha vida, essa atividade me fez enxergar com mais humanidade a realidade social de minha comunidade  de Campo Verde , no município de Itaituba, Pará.

Ao ingressar na faculdade (FAI) recebi por meios das disciplinas ministradas, apoio pedagógico e conhecimentos voltados para área de História que me proporcionaram subsídios para torna-me uma profissional prepara para a missão a mim incumbida.  

Um profissional que se dispõe a trabalhar com auxílio à construção de um ser humano precisa ter plena consciência que, ser educador é estar verdadeiramente comprometido com as pessoas, não somente com o conhecimento a ser repassado, mas acima de tudo com o bom uso desses conhecimentos, pois o papel do educando têm vínculos estreitos com o social, e o mesmo necessita compreender sua função de profissional, para usar de maneira positiva, sua influência em relação aos demais. 

O docente absorve para si a responsabilidade de transformar outro ser humano, e o receptor deve ser bem preparado, com bases em valores que visão desenvolver nos indivíduos em questão noções de respeito ao próximo, desde o semelhante ao diferente, tendo plena consciência que no meio social há diversos costumes, culturas e religiões.

Essa pessoa deve em seu convívio escolar, entender que cada um respectivamente representa uma história, de importância particular na vida dos que os rodeiam. Cabendo ao professor, o papel de ser, a ponte que faz a ligação do conhecido ao mundo novo que necessita de cuidados para seu desenvolvimento. Portanto, seguindo com harmonia com os argumentos já relatados, conclui-se que o profissional da educação é um agente transformador da sociedade, consciente da necessidade de ser flexível para seu crescimento pessoal e dos outros.  

 

 

 

                                            

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