Memória e Aprendizagem
Por Oldemar Nunes | 11/04/2010 | PsicologiaPrimeiramente é necessário diferenciar as memórias filogenéticas de memórias ontogenéticas. Circuitos que retém a informação inata, funções autônomas, são então chamados como memórias filogenéticas, enquanto que os que armazenam informação experimental são referenciados como memórias ontogenéticas (KAVANAU, 1997). Quando nos referirmos a memória isoladamente, queremos dizer memória ontogenética.
Segundo Damásio (2003), os fenômenos mentais, como o amar, o lembrar-se de algo, esquecer, o sentir dor, prazer, etc. foram revelados como comportamentos dependentes do funcionamento de complexas redes neurais nos circuitos cerebrais em ação. A principal atividade cerebral consiste em preservar o bem-estar e a sobrevivência do organismo. Toda resposta do organismo ao meio requer uma ou mais imagens mentais. Atividades sentidas como agradáveis ativam mecanismos de recompensa e liberam dopamina e serotonina, neurotransmissores que alteram o meio ambiente interno, o estado das vísceras, o sistema muscular, a expressão facial, as emoções, os sentimentos e o comportamento. Dessa forma, a experiência de uma situação prazerosa gera reorganização corporal e comportamental orientadas por um mapeamento mental neural.
Ao nascer, o cérebro já dispõe de uma enorme rede de mapeamentos e ligações neurais para orientar quando, quanto e como o organismo deve se organizar para responder ao meio e sobreviver. Ou seja, o cérebro leva o corpo a assumir um determinado estado, a comportar-se de certa maneira. E as idéias serão baseadas nestes estados e comportamentos do corpo. Nas palavras de Damásio (2000, p. 194), a consciência ocorre “(...) quando temos conhecimento, e só podemos ter conhecimento quando mapeamos a relação entre objeto e organismo”. Essa relação é mapeada e registrada pelo cérebro em forma de narrativa, para o que a memória tem uma contribuição insubstituível. Daí pode-se deduzir a importância da memória para a aprendizagem como fundamental.
Uma atividade motivadora e prazerosa contribui para o funcionamento dos processos mentais básicos, como a memória. O armazenamento da informação (processo chamado de memória) depende das sinapses. Certos tipos de sinais sensoriais passam por seqüências de sinapses, essas sinapses ficam mais capazes de transmitir, de novo, esses mesmos sinais, num processo chamado de facilitação (GUYTON, 1993, p.79).
Dentro do cérebro temos diversas estruturas com várias funções e muitas dessas áreas trabalham em conjunto para realizar tarefas, nos ajudando inclusive a aprender e a lembrar. Em relação à memória, o hipocampo desempenha um papel fundamental. Ele se localiza próximo a amígdala, que processa a emoção e ele, hipocampo, processa a informação factual que chega ao cérebro. Sua estrutura tem, portanto uma importância fundamental na facilitação do processo de ligação da memória de curto prazo, foco deste estudo, para a memória de longo prazo. O hipocampo também se comunica com o sistema de ativação reticular, podendo comparar a informação com o passado e supervisionar os eventos, novos ou habituais (RATEY, 2001).
O início do processamento das atividades cerebrais se dá no hipocampo e no córtex. Quando o indivíduo percebe um estímulo, a solidez de um determinado conteúdo aprendido requer a modificação de determinadas sinapses e suas principais conexões. Essas alterações estruturais das sinapses são diferentes para cada memória, determinando assim, a intensidade da aprendizagem (IZQUIERDO, 2000).
A amígdala tem uma forma amendoada e fica localizada no meio do cérebro (vide figura 1), ela processa a emoção, ou seja, filtra as informações que chegam e cataloga essa informação para um futuro. Atribui-se à amígdala uma relação fisiológica com: emoção, olfato, atividade viscerais, funções somato-sensoriais, envolvimento em reações de alerta e orientação, sono, luta, defesa, alimentação e atividades sexuais. Segundo Sarter e Markowitsch (1985) a amígdala é um órgão que processa estímulos sensoriais que já foram modificados por outras neuro-áreas primárias.
Os gânglios basais, localizados no fundo do córtex, são também responsáveis por algumas de nossas memórias. São o principal local das informações seqüenciais da aprendizagem (QUARTAZ & SEJNOWSKI, 1997).
O neocórtex, localizado na camada superior do cérebro, tem uma espessura de um quarto a um oitavo de polegada, armazenando muitas de nossas memórias nos diferentes lobos. É considerado como a sede do pensamento; contém os centros que reúnem e compreendem o que os sentidos percebem. “Acrescentou-se a um sentimento o que pensamos dele – e nos permite ter sentimentos sobre idéias, arte, símbolos, imagem.” (GOLEMAN, 1995 p.22). Nessa integração contínua e plástica do cérebro, o sistema de ativação reticular, localizado na base do cérebro, conecta justamente os lobos frontais, o sistema límbico, o tronco cerebral e os órgãos dos sentidos (RATEY, 2001).
Portanto, verifica-se que a memória não está localizada numa estrutura individual e isolada no cérebro. É um fenômeno psicológico e biológico envolvendo um conjunto de sistemas cerebrais que se articulam, funcionam juntos. Grandpierre (1999) relata que as informações provenientes de todas as zonas do córtex, utilizam um circuito complexo, que é a base da memorização.