MEDO DA MORTE

Por Maria de Lourdes Leoncio Macedo | 21/03/2017 | Adm

MEDO DA MORTE: elucidações dos Espíritos

Cemitério Parque

MACEDO, Maria de Lourdes L.[1]

Iremos morrer, é fato. Você já parou para pensar na morte? Quem nunca pensou nessa situação que vivenciará, ou pela morte de um ente querido, ou a própria morte? Essa reflexão sobre a morte motivou-me a análise que segue: “[...] a pessoa que deseja aumentar o seu conhecimento sobre a morte e o morrer está desembarcando em uma exploração que nada mais é do que uma viagem à descoberta de si mesmo” Santos (2014, p.03). O objetivo desse texto é explicar como ocorre o processo da morte, com base nos ensinamentos dos Espíritos.

Viver é impossível estar distante da morte. A reflexão de Santos nos remete a compreender as nuances da vida, vida oportunizada pelo Criador de todas as coisas, Deus. Segundo os Espíritos, Deus jamais iria criar seres para a inutilidade e para viver uma única e mísera existência de mais ou menos 60 a 80 anos, (hoje a expectativa de vida no Brasil, tem sido ampliada) IBGE (2010). Mas afinal o que é a vida? Segundo consta em o Livro dos Espíritos, Kardec (2004), os seres orgânicos são aqueles que têm, em si mesmos, uma fonte de atividade que lhes dá a vida. Compreendendo, neste caso, os homens, os animais e as plantas. Estas matérias animadas pelo fluído cósmico universal, oportuniza a vida biológica. Se estamos vivos, porque não aceitar a perspectiva da morte? A partir dessa premissa, passamos a refletir na importância da vida e de vivê-la dentro da Lei da Natureza, ou seja, respeitando as Leis Divinas ou Naturais.

Desta forma, viver bem a vida, dentro do respeito à Lei Natural, e se preparar para a morte pode ser interpretada como uma regra básica. Na questão 68 de O Livro dos Espíritos – LE. Os Espíritos respondem: Qual a causa da morte entre os seres orgânicos? Encontra-se “O esgotamento dos órgãos.” No entanto, a nota explicativa completa a reflexão do sentido de morrer:

Morrendo o ser orgânico, os elementos que o compõem experimentam novas combinações que formam novos seres, os quais tiram da fonte universal o principio da vida e da atividade, o absorvem e assimilam para devolvê-lo a mesma fonte, quando deixarem de existir (KARDEC, 2004, p.67). 

Portanto, pode-se utilizar da famosa frase de Antoine Lavoisier “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, uma vez que morto, o corpo físico, o material que servirá para sua vitalização, o será agora vida para outros seres. Nessa perspectiva, Kardec afirma: “Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei.” É a perfeição Divina.

Ao nascer tem-se toda uma expectativa de vida Segundo o Espiritismo, há uma programação reencarnatória, que pelo “véu do esquecimento”, o indivíduo não sabe o que foi, nem as ações efetuadas em vidas passadas. Inicia-se uma nova jornada, trazendo na intimidade do ser o aprendizado e as experiências de outras existências. A aceitação ou não da reencarnação, dependerá da visão de cada um, no entanto, nela está impregnada a questão do progresso, o melhorar-se, tornar-se um ser dotado de todas as qualidades, em especial no aspecto moral e espiritual.

Desta forma, a experiência física é de fundamental importância para o Ser conquistar esse progresso, que ocorre nos dois planos da vida, físico e o espiritual. Para as ilustrações devidas, optou-se por utilizar algumas citações de Franco (1978), ditado pelo Espírito de Otília Gonçalves, que retrata sobre a morte. O Espírito relata o seu desencarne, demonstrando os momentos de dor e sofrimento, no entanto, nem todos sentirão as mesmas sensações. Acrescenta ainda Kardec (1998), “a cada um, segundo as suas obras”. Kardec questiona (questão 154 do O LE): A separação da alma e do corpo é dolorosa? Ao que os Espíritos respondem: Não, o corpo sofre, frequentemente, mais durante a vida que no momento da morte. No entanto, Otília relata: 

A princípio, com as carnes sacudidas pelos estertores do coração que não mais podia cooperar com a vida física, inenarrável sofrimento tomaram-se todas as fibras, do peito ao cérebro e deste aos pés, fazendo-me enlouquecer. Atormentada ente as ideias da “morte” apavorante que eu temia e a ansiedade da “vida” que escapava ao peso cruel do sangue que se negava a irrigar artérias, veias e vasos, senti que ia tombar (FRANCO, 1978, p.13). 

 O Espírito descreve na citação, como ocorreu seu desencarne e as dores físicas que foi acometida. Como ocorre no momento da morte e após, quais são as situações, e acrescenta:

Respirei algo facilmente. De longe, pareciam-me chegar aos ouvidos sons e vozes abafadas. Embora de olhos fechados, “vi” que algumas pessoas choravam. Atraída, desejei erguer o corpo; senti sair de dentro do casulo carnal, que então pude ver. Encontrava-me deitada, no esquife mortuário, e de pé, ao seu lado simultaneamente. Apalpei-me apressada e senti-me fisicamente. Tudo em mim vibrava com a mesma intensidade doutrora, avolumando-se as impressões da carne a agressão da dor (FRANCO, 1978, p.16). 

Desta forma, constata que havia morrido, no entanto, respirava, sentia, movia-se, pensava, sem estar no corpo físico. Otília destaca outra percepção, o sepulcro:

Força incoercível detinha-me atenta no esquife que era depositado no fundo da sepultura. Escutei o som da laje a cobrir os despojos e o dos instrumentos que eram usados para o lacramento da tampa. Apavorada, encontrei-me ligada as vísceras mortas, estando viva. [...] Verifiquei que, embora o corpo estivesse morto e começasse a avolumar-se, tomando aspecto horrendo, eu me sentia em um corpo gêmeo, àquele que caminha para a putrefação e, em tudo, idêntico a ele, inclusive o vestuário (FRANCO, 1978, p.23). 

Um corpo igual ao corpo carnal, o que seria isto? Esta cópia idêntica, como retrata o Espírito Otília, é o perispírito, que além de ligar um ao outro, o molda, conforme relata Léon Denis:

O perispírito é, pois, um organismo fluídico; é a forma preexistente e sobrevivente do ser humano, sobre a qual se modela o envoltório carnal, como uma veste dupla e invisível, constituída de matéria quintessenciada, que atravessa todos os corpos por mais impenetráveis que estes nos pareçam. A matéria grosseira, incessantemente renovada pela circulação vital, não é a parte estável e permanente do homem. É o perispírito que garante a manutenção da estrutura humana e dos traços fisionômicos, e isto em todas as épocas da vida, desde o nascimento até a morte. Exerce, assim, a ação de uma forma, de um molde contrátil e expansível sobre o qual as moléculas vão incorporar-se (DENIS, 1994, p.175). 

Ainda junto aos seus despojos mortais, o Espírito é socorrido por irmãos abnegados ao bem, retirando Otília da situação de sofrimento em que se encontrava, mas isso só foi possível por meio de suas preces. Demonstrando que a oração é o grande remédio para todos os males, nos dois planos da vida. Antes de ser levada para a Colônia Espiritual, a irmã Liebe, Espírito que vem auxiliá-la, leva-a à beira mar e fala da fonte de energia e vitalidade que o mar oferece, sendo ele laboratório de forças vitais, um mundo inexplorado a conquistar. Otília adormece para ser transportada para a Colônia Assistencial, próxima à crosta planetária, para tratamento e recuperação das energias.

A obra de Franco (1978) descreve o período em que Otília permanece em tratamento na Colônia Espiritual, envolta em aprendizados. Nesta vivência escolástica, ela aponta para que venhamos a melhorar a nossa vida, presente e futura. Tais como os relatados por Franco, (1978, p.58): “Exercitar o espírito na simplicidade é imperioso”. Quantas vezes depara-se com tantas necessidades efêmeras que os humanos criam, e que na vida verdadeira, a espiritual, o valioso é a simplicidade. Quantos só pensam em ter coisas, e até pessoas: onde está a fraternidade, a caridade e o verdadeiro amor? Ressalta como: “Todos quantos se ligam mentalmente à vida física, pela fixação mental, se intoxicam espiritualmente, permanecendo presos aos centros em que concentram suas energias.” (FRANCO, 1978, p.58)

Outro fator apontado pelo Espírito são os questionamentos em torno das crenças religiosas e da fé. “A crença é um meio de realização objetiva nos domínios da alma” (FRANCO, 1978, p.92). No entanto, a fé sem ação, de nada serve. Segundo Otília, quando vivia na terra, em suas práticas religiosas e nas pregações doutrinárias, comovia-se até as lágrimas, da mesma forma na prática mediúnica. Neste sentido, realiza a crítica que serve de parâmetro para todos, ouvia as pregações, os atendimentos mediúnicos, no entanto, ao adentrar ao lar, pouco ou em nada, mudava. O que fazer? Afinal, o livre arbítrio é para todos, no entanto, colher-se-á o que plantar. “As ações criam consequências que, por sua vez, geram efeitos, mais ou menos graves, apressando, estagiando ou retardando a marcha.” (FRANCO, 1978, p.94)

De maneira geral, acredita-se que morrendo, tudo se encerra aí, no entanto as colocações advindas dos Espíritos podem nos orientar: 

Felizmente não existe, além da morte, a quitação indébita, mediante favoritismo especial para uns, em detrimento de outros, filhos todos, do mesmo Pai. Cada espírito sofre depois da desencarnação a má Pedagogia a que se ajustou na Escola Terrena, carregando a canga a que se nos jungiu vários compromissos com a vida. Despertamos sempre com a angelitude ou com o santanismo que vitalizamos em pensamento e ações. Cada alma é o que pensa. O céu e o inferno são construções pessoais de cada ser. [...] Repomos na Criação o que tiramos na vida. Na vida universal tudo são permutas, em incessantes transformações evolutivas. Não existe repouso, vácuo, silêncio. Se tal houvesse, significaria o caos do próprio Universo (FRANCO, 1978, p.143). 

Somos responsáveis pelo que cativamos em todos os sentidos da vida. Deus é perfeição, bondade e justiça, a citação, mostra que cada um carrega o aprendizado para onde for, bem como, as construções mentais e que tudo evolui, e a vida continua.

Desta forma, a obra psicografada por Divaldo Franco, tomada como exemplo, e outras obras da codificação Espírita, apontam como passar pela experiência da morte e transpor as barreiras da perturbação e seguir confiantes no Cristo, para a continuidade da existência. A regra básica é seguir a Lei Natural, pode-se ser feliz aqui ou em qualquer outra morada na casa do Pai.

Quer ser feliz, comece agora, mudando os pensamentos, a linguagem, as atitudes, melhorando o conquistado até agora, ou mudando a rota. Pode-se plasmar para o futuro, uma matéria física e espiritual perfeita, plasme hoje a vida futura. 

REFERÊNCIAS

 DENIS, Léon. Depois da Morte. Federação Espírita Brasileira. 18 ed. RJ. 1994.

FRANCO, Divaldo Pereira. Além da Morte, ditado pelo Espírito de Otília Gonçalves. 2 ed. Salvador-Bahia. 1978. 

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB. 1998. 

KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 154 ed., 2004. 

SANTOS, Franklin Santana. Perspectivas Histórico-culturais da Morte. In: Tratado Brasileiro sobre perdas e lutos/Franklin Santana Santos; Editores Associados: Ana Laura Schliemann, Pedro Paulo Consentino Solano, São Paulo: Ateneu Editora. 2014. 

XAUSA, Izar Aparecida de Moraes. O sentido da vida e o sentido da morte. In: Tratado Brasileiro sobre perdas e lutos/Franklin Santana Santos; Editores Associados: Ana Laura Schliemann, Pedro Paulo Consentino Solano, São Paulo: Ateneu Editora, 2014. 

[1] Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Tocantins, graduada em História, professora de Educação Básica-Rede Estadual de Ensino do Tocantins.Email: [email protected]