MEDIAÇÃO DOCENTE NO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS

Por Roure Santos Ribeiro | 25/01/2017 | Educação

MEDIAÇÃO DOCENTE NO ENSINO DE CIÊNCIAS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO.

Visando a melhoria do ensino de CIÊNCIAS, emergiram diversas propostas de intervenções e práticas pedagógicas com alterações consideráveis nos conteúdos e nos seus métodos. Esse movimento é decorrente da necessidade de mudanças nas mediações no intuito de melhorar o processo ensino-aprendizagem, de forma que os alunos não apenas memorizem conceitos, mas consigam oferecer significados aos conhecimentos adquiridos a partir de suas vivências, tendo a capacidade de participar da tomada de decisões nas relações de ciências, tecnologia, sociedade e ambiente.

Apesar das inúmeras propostas educacionais, o ensino de ciências, principalmente na educação infantil e nas séries iniciais, tem sido praticado na maioria dos casos, como elaborações teóricas, que predominam nas salas de aula baseadas na mera transmissão de informações, tendo como recurso exclusivo na mediação, o livro didático e consequentemente, sua transcrição na lousa. Isso decorre desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1961, quando o cenário escolar era dominado pelo ensino tradicional. Aos professores cabia à transmissão de conhecimentos acumulados pela humanidade, por meio de aulas expositivas, e aos alunos a reprodução das informações, deixando até hoje, um forte legado pedagógico e resistências para mudanças.

LEV VYGOTSKY defende, que o processo de aprendizagem humano é desenvolvido através da interação com o ambiente no qual ele está inserido, numa relação dialética, na qual o homem modifica o meio, e este o modifica. Neste sentido, o papel mediador do professor adquire grande importância no desenvolvimento psíquico humano, sendo uma ponte entre o estudante e o conhecimento para que o aluno aprenda a “pensar” e a questionar por si mesmo, e não mais receba passivamente as informações como se fosse um depósito do educador.  PAULO FREIRE busca aprofundar esse entendimento defendendo que o conhecimento é um processo de busca feita pelos alunos e o professor, e para isso, a mediação através do diálogo se torna imprescindível para o estudante sentir-se sujeito do seu pensar, discutir seu pensar, sua visão e as visões de seus colegas. Nesse sentido, podemos afirmar que a contribuição do educador é promover uma educação crítica, que rompa com as limitações de receber ideias, metodologias e instrumentação para o ensino de Ciências sem utilizá-las, verificá-las e/ou transformá-las. A mediação através do diálogo pode ser aplicada em aulas teóricas ou práticas, estudos dirigidos e como processos avaliativos. Os conceitos ficam mais inteligíveis, e as aulas se tornam mais agradáveis e interessantes, desafiando a imaginação e a vivacidade dos estudantes. O diálogo é o caminho para conhecimento verdadeiramente engajando aos envolvidos na problematização permanente de sua realidade. A Dialogicidade está em permitir aos alunos agir e refletir sobre a ação pedagógica realizada, para se chegar à práxis, ou a "teoria do fazer", com ação e reflexão simultânea, em reciprocidade. Trata-se de permitir a liberdade de expressão, ao conceder aos participantes do processo ensino aprendizagem o controle da ação para construir entendimentos, expor-se em público, combater a imposição de conteúdos e ajustar coletivamente a compreensão dialética do conhecimento problematizado, por novas vias de esclarecimento. Mas para isso, o professor deve mostrar competência na sua área de atuação e consequentemente na sua mediação, demonstrando domínio na ciência que se propõe a lecionar, pois do contrário, irá apenas "despejar" os conteúdos "decorados" sobre os alunos, sem lhes dar oportunidade de questionamentos e criticidade.

Frente às competências científicas, técnicas, humanas e políticas desenvolvidas pelo professor, é essencial propiciar aos alunos as condições para o desenvolvimento da capacidade de pensar crítica e logicamente, fornecendo-lhes meios para a resolução dos problemas inerentes aos conteúdos trabalhados e interligados ao seu cotidiano, fazendo compreender que o estudo é mais do que uma mera memorização de conceitos e termos científicos transmitidos pelo professor ou encontrados em livros. A criatividade na mediação do professor inicia no rompimento do que já está pronto, indo além do tradicionalismo em sala de aula para em seguida, busca compreender o processo do conhecimento de seus alunos, de como eles se situa em termos de desenvolvimento emocional e de interação social visando encaminhar um processo de aprendizagem de forma agradável e produtiva. É preciso ter clareza de que cada aluno possui diferentes retornos da aprendizagem. Cabe aos professores observar como eles se desenvolvem, dentro de seus limites, mas sempre motivando e estimulando-os com mediações capazes de despertar a curiosidade e o interesse frente ao ensino das ciências. A mudança para uma mediação docente dialógica está na adoção do lema cooperação em sala de aula, abdicando do papel propagandista e centralizador, para desempenhar, lado a lado com seus alunos, uma parceria transformadora da sociedade, na revisão do sentido de suas regras. O processo pedagógico mediado pelo dialogo é mais democrático, não é o operador da aula, mas um educador de fato, por visar garantir aos alunos o máximo de acesso eficaz e crítico ao conhecimento proposto no conteúdo programático, alicerçado principalmente, pela sua própria realidade existencial.

Artigo completo: