MECANIZAÇÃO PARA IMPLANTAÇÃO E MANEJO DE PASTAGENS EM SOLOS DEGRADADOS

Por Afonso Peche Filho | 24/05/2009 | Adm

PqC. AFONSO PECHE FILHO

CMAA/IAC

No planejamento das atividades de mecanização para implantação e manejo de pastagens é importante lembrar que se pretende implantar uma nova forma de cobertura superficial do solo, bem como imprimir um novo ritmo no ciclo de produção vegetal e que isso acarreta um impacto ambiental no ecossistema local, caracterizando uma forte interferência na dinâmica das relações entre a população vegetal, outros seres vivos e materiais organominerais componentes do solo. Lembramos ainda que pastagem artificial é na verdade uma monocultura e permanecerá estável de acordo com o sistema de manejo adotado; a durabilidade produtiva dependerá em muito da adequação de ações promovidas em benefício do equilíbrio ecológico local. Somente através de um manejo ajustado dos fatores ambientais locais é que poderemos ter a certeza de sucesso na perenidade da forrageira introduzida. Uma mecanização bem sucedida deve estar muito relacionada com o estado estrutural do solo, com a disponibilidade de nutrientes, e com a adequação da forrageira para as condições climáticas.

Em áreas degradadas não existe uma harmonia entre as propriedades físicas, químicas e biológicas. Geralmente quando um solo degradado é preparado para implantação de uma cultura forrageira acarreta sérios problemas para o sucesso do manejo adotado.

Um exame no local pode ajudar num diagnóstico mais próximo da realidade, podendo ser fundamental para a mecanização e estabelecimento de uma pastagem sem problemas futuros ou nas ações de recuperação de uma pastagem degradada. Para examinar corretamente podemos empreender dois tipos de diagnóstico: um visual ou expedito e um clínico que é realizado com base em análise laboratoriais; o resultado de um complementa o resultado o outro sendo importante que as informações venham contribuir para um conjunto de observações minuciosas que formarão as diretrizes básicas para a mecanização e um manejo bem sucedido.

Examinando visualmente o sistema radicular das plantas nos pastos degradados podemos encontrar raízes bem desenvolvidas, densas e profundas; geralmente essas condições indicam que pode estar havendo uma deficiência de nutrientes, que, por exemplo, pode ser o fósforo, e isso pode ser verificado através de uma análise química do solo. A deficiência de nutrientes pode ser reconhecida também pela ausência de desenvolvimento de pontos de crescimento ou popularmente brotos, que em plantas decumbentes (coast cross, tiftons, etc) geralmente estão muito próximos da superfície do solos e encobertos pela massa vegetal, ou de ausência de perfilhos em plantas cespitosas como o colonião, andropogon, etc... Em solos pobres, podemos observar que o material orgânico (raízes, fragmentos de caule, etc) sofre uma decomposição muito lenta e isso também pode indicar uma falta de fósforo e de cálcio. Ainda com relação a um exame do sistema radicular, podemos encontrar raízes retorcidas, rasas, fracas e curtas, e isso pode indicar a presença de compactação e consequentemente uma falta aguda de ar no solo provocando a elevação do sistema radicular que explora somente as camadas superficiais não adiantando a disponibilidade de nutrientes na subsuperfície. A presença de raízes na superfície do solo também pode indicar a presença de elementos químicos tóxicos em subsuperfície, como é o caso do alumínio.

Em se tratando de áreas degradadas, podemos definir as atividades mecanizadas de acordo com a gravidade da situação; o quadro 1 mostra, de uma maneira global, os possíveis cenários e as ações a serem empreendidas com máquinas.

QUADRO 1 - PROBLEMAS DE DEGRADAÇÃO E AÇÕES MECANIZADAS

Tipo de degradação

Problemas encontrados

Ações mecanizadas

1 – Inicial

1.1 - Sinais de erosão:

- pequenos sulcos;

- compactação;

- vazios entre plantas;

- sementes soltas na superfície.

1.2 - Definhamento vegetativo:

- plantas fracas;

- ausência de brotos;

- folhas necrosadas;

- folhas secas;

- sistema radicular retorcido;

- ausência de brilho nas folhas.

- terraceamento;

- mobilização vertical;

- distribuição de corretivos e fertilizantes e MO;

- subsemeadura.

2. Química

2.1 - Acidez elevada

2.2 - Presença de alumínio

2.3 - Deficiências de macronutrientes

2.4 - Deficiências de micronutrientes

- aplicação de corretivos e fertilizantes;

- incorporação de corretivos e fertilizantes;

- aeração superficial;

- plantio de adubos verdes.

3. Física

3.1 - Compactação superficial

3.2 - Camadas compactadas na subsuperfície

3.3 - Desagregação do solo

3.4 Mineralização acentuada

- mobilização superficial;

- mobilização vertical;

- incorporação de corretivos;

- incorporação de MO.

4. Biológica

4.1 - Ausência de poros naturais (orifícios, galerias de organismos de solo)

4.2 - Ausência de insetos

- distribuição de MO;

- incorporação de MO.

5. Severa

5.1 - Erosão acentuada:

- exposição de terras da subsuperfície;

- voçorocas;

- ausência de vegetação.

5.2 - Alta variabilidade de condições do solo:

- manchas com cores diferentes;

- vegetação desuniforme;

- escorrimento superficial;

- terraços deteriorados.

- terraceamento;

- terraplanagem;

- construção de carreadores;

- plantio em nível;

- roçadas;

- aração;

- gradagem;

- escarificação;

- reformas.

Quando constatamos que a pastagem mostra sinais de degradação, com as plantas comprovadamente cansadas, principalmente em função de um pastoreio baseado em altas lotações de animais, podemos estar diante de situação em que a área requer uma ação de renovação onde as atividade de mecanização serão no sentido de promover uma mobilização buscando melhorias no estado estrutural do perfil principalmente em relação a aeração, adição de corretivos e fertilizantes, como também uma adição extra de sementes no sentido de promover a reconstituição do estande inicial de plantas. Esse processo é conhecido como ressemeadura. Há no mercado brasileiro máquinas que realizam essas operações simultaneamente e com eficiência: são as chamadas renovadoras de pastagens; essas máquinas geralmente apresentam um chassi-porta-ferramentas onde são acopladas as unidades de trabalho. Os modelos variam de acordo com a composição, sendo que temos renovadoras que apresentam basicamente unidades de semeadura e de fertilização; há modelos que apresentam dois mecanismos para semear, um para gramíneas e outro para leguminosas, e um único mecanismo para fertilizantes. Essas máquinas também utilizam discos de cortes; há modelos que apresentam-se mais simples com uma só unidade de semeadura e uma para fertilizantes, sendo bem semelhantes as máquinas para plantio indireto. Podemos encontrar renovadoras que além das unidades de semeadura e fertilização, apresentam hastes escarificadoras que servem para desestruturar o solo na vertical, arejando o perfil e mantendo intacta a parte superficial, portanto, sem eliminar o manto vegetal. Essas máquinas utilizam tratores acima de 60 cv de potência e a operação deve ocorrer em meados de outono, quando as plantas presentes estão com o crescimento paralisado e provavelmente não competirão com as novas plantas oriundas da ressemeadura. Tem-se também a opção de realizar uma operação única, com o objetivo de aeração do solo, e para isso podemos utilizar além dos escarificadores, um implemento que promove a quebra de crostas superficiais, afofando o solo sem provocar danos severos na vegetação. Esse implemento é conhecido comercialmente como aero-solo e é composto de um chassi que tem acoplado na sua parte inferior um eixo rotativo composto de um conjunto de lâminas com ângulos de ataque que variam de zero a dez graus e estão dispostas ao longo do eixo a distâncias regulares. Essas lâminas ao tocarem no solo, agem de forma descontínua promovendo a mobilização. O trabalho realizado por esse implemento é também conhecido como revitalização de pastagens e normalmente é executado após a aplicação de corretivos ou de fertilizantes.

Em áreas de pastagens que apresentam problemas de degradação acentuada com presença de erosão generalizada e baixa fertilidade, é realmente recomendável uma reforma total onde o ponto inicial é uma calagem profunda e a fosfatagem, se possível utilizando um arado de aivecas, que é o implemento mais indicado, pois mobiliza o solo, revolvendo as camadas, e com isso posiciona o corretivo ou o fosfato a uma profundidade adequada. Posteriormente, após a segunda aplicação do insumo, a incorporação deve ser realizada por uma grade média, cujo objetivo é mobilizar o solo, posicionando o produto nas camadas superficiais. A semeadura do capim pode ser consorciado com culturas de grãos e toda a área deve ser terraceada, sendo que em terrenos com declividade até 8%, deve-se construir terraços de base larga, e para isso pode-se fazer uso de implementos terraceadores, que podem ser de arrasto e tracionados por tratores acima de 80 cv de potência, ou serem montados com engate no sistema de três pontos, sendo que tem-se modelos que podem ser tracionados por tratores de 60 cv. Em áreas com declividade acima de 8% é indicado a construção de terraços de base média ou estreita, que podem ser construídos com diversos implementos ou máquinas, sendo que com o arado constróem-se ótimos terraços.

A reforma de pastagens, quando realizada com equipamentos tradicionais: arados de discos ou grade aradora e grade niveladora, também é muito eficiente quando acompanhada das práticas de controle de erosão.

Um método de mecanização bem eficiente é o preparo mínimo ou reduzido que utiliza somente o trabalho da grade de discos, geralmente indicado para área com processos de degradação química e biológica, através da mobilização superficial preserva-se as condições físicas da subsuperfície, a cobertura existente e consegue-se incorporar superficialmente fertilizantes, corretivos e novas sementes.

A mecanização de renovação, que utiliza métodos de restabelecimento sem mobilização do solo, é indicada para áreas que apresentam degradação biológica, principalmente em pastagens com plantas que não suportam o pisoteio dos animais ou para áreas de solo raso, como é o caso das terras montanhosas. Nestes casos, podemos utilizar da semeadura a lanço, através de avião ou com máquinas tratorizadas, cujos mecanismos distribuidores são do tipo centrífugo ou pendular, e normalmente as sementes são lançadas em terrenos previamente roçados, e posteriormente promove-se o enterrio através do pisoteio de animais. As máquinas para o plantio direto podem perfeitamente serem utilizadas para esse fim, com excelentes resultados, principalmente em processos de semeadura cruzada. A utilização dessas semeadoras, como também as renovadoras, permitem a introdução em consórcio, de plantas invernais, como as aveias, azevens, milhetos, trevos, entre outros, que são introduzidas antes do inverno para que as áreas possam conter vegetação e consequentemente serem pastoreadas no período que o capim está em franca decadência, justamente em função da época; a ressemeadura, utilizando plantas invernais, é mais indicada para pastagens de plantas decumbentes.