Me Tarzan, you Jane
Por Osorio de Vasconcellos | 16/01/2014 | CrônicasResumo : Tece alguns comentários a respeito da fobia aos textos longos, e prevê a reabilitação da escrita rupestre.
Me Tarzan, you Jane
Corre em itinerário consensual pleno e convicto o entendimento de que textos longos são absolutamente indesejáveis e incompatíveis com o padrão rítmico dos modos hodiernos de ler. Radicalismo castiço e assustador.
Que seja assim no âmbito das redes sociais, a exemplo do facebook, dá para aceitar de boa sombra, sem críticas nem doestos. Afinal, nesses bolsões de virtualidade prevalece a ideia de que a exibição das figuras e dos simulacros visuais consegue satisfazer as necessidades cognitivas, reduzindo confortavelmente a níveis mínimos o esforço intelectual de articular uma narrativa, um relato ou uma interpretação. Desiderato semelhante ao da revista Caras.
A tal ponto sofisticou-se o zelo sintetizador do sistema que um simples clique eletrônico denominado “curtir” pode significar tanto o gosto de contemplar uma tela de Van Gogh, quanto o desgosto de ver a cara risonha do José Dirceu a caminho da prisão.
Não há dúvida, a ideia de priorizar a imagem é brilhante e vitoriosa. Um verdadeiro olé de criatividade.
Uma única fissura consigo localizar nas sólidas paredes desses gigantes eletrônicos. Refiro-me ao perigo de que a rejeição aos textos longos, coerente na dimensão das redes sociais, vaze para o mundo real e atinja áreas suscetíveis de contaminação, a saber, as livrarias, as bibliotecas, as escolas e as universidades.
Dito de outro modo, se a rejeição aos textos longos tornar-se uma atitude cultural, o espaço reservado ao conhecimento será paulatinamente comprimido até o esmagamento final.
O que parece hoje uma brincadeira, uma curtição, um sonho cibernético, poderá roubar-nos o hábito da leitura, o dom da articulação, os horizontes incomensuráveis do conhecimento.
- Me Tarzan, you Jane – o primitivo modo de cortejar a namorada – terá ressuscitado em futuro não muito remoto. Paralelamente, ressurgirá a escrita rupestre, assim como o velho hábito de rabiscar bilhetes e corações em troncos de árvores.
Se ainda restar alguma árvore disponível aos rabiscos da juventude enamorada, bem entendido.