Maximiliano Kolbe

Por Guilherme Schmidt de Lima | 02/09/2010 | Bíblia

MAXIMILIANO KOLBE: MÁRTIR DA CARIDADE

INTRODUÇÃO

Deus derramou abundantemente a sua oferta de amor por sobre toda a humanidade na pessoa de Jesus Cristo. Para tanto, pode-se dizer de Jesus que Ele tanto amou a ponto de entregar Sua vida para nos resgatar para Deus.
Com este ato de entrega total, os discípulos de Jesus compreenderam que também eram chamados a testemunharem sua fé e seu amor através da caridade com o próximo. Tal é a força da fé cristã que a própria Igreja tem continuado através dos séculos a reforçar este ato de amor em forma de martírio, isto é, deixar-se morrer para testemunhar a suprema verdade que é o amor de Deus.
Há momentos na história que nos apresentam situações contrárias a toda fé e esperança, contudo, necessariamente nestas situações em que a humanidade se torna vulnerável ao desespero, sempre surgem pessoas com tamanho amor e fé que vivem de modo aparentemente ilógico diante dos olhos de quem não crê em Deus e, até mesmo de quem crê. Não só na antiguidade, tempo em que os cristãos eram perseguidos e mortos, mas também, e sempre de um jeito novo, continua a se derramar o sangue dos mártires na Igreja de hoje.
Assim, por meio deste estudo, fruto de uma pesquisa bibliográfica, pretendemos discorrer sobre a vida e o martírio de São Maximiliano Kolbe no contexto da Segunda Guerra Mundial, ele que soube exercer a caridade sem perder a fé e a esperança mesmo estando imerso na barbárie dos campos de concentração nazistas.









1 FALANDO SOBRE MARTÍRIO

Ao tratarmos sobre a temática do martírio, uma pergunta parece ser fundamental: O que significa o martírio e quem é o mártir? Para melhor respondermos a esta questão, também se faz necessário adentrarmos na história, especificamente na história do cristianismo em seus primeiros tempos.
Quando Jesus Cristo, em sua condição humano-divina, esteve de um modo muito especial ligado à humanidade através da sua própria humanização, ele soube cativar as pessoas, ao menos as que estavam desejosas de uma mudança radical em suas vidas. Assim, Jesus conseguiu ganhar a amizade, a admiração e o respeito de muitos.
Também Jesus conseguiu mover a fé de uma multidão perdida em meio a uma sociedade mascarada que oprimia e explorava o povo menos favorecido. Estamos falando da sociedade do Império Romano no século primeiro da era cristã e de todo o território sob o domínio deste, no qual estava incluso o ambiente familiar de Cristo.
O fato é que Jesus, através de suas ações e palavras, revelou às pessoas desta sociedade a grandeza do amor de Deus, do qual ele era enviado. Com isso, só por uma oferta de amor e de libertação, a proposta de Jesus ganhou crédito e, mais ainda, transformou energicamente a fé de muitos.
Após Cristo ter sido morto pela violência e falta de compreensão dos sistemas políticos e religiosos de sua sociedade doentia, pois fixada na antiga Lei mosaica e na figura do imperador, os seus seguidores continuaram a divulgar esta proposta de amor e de libertação. Assim, a fé judaica e as crenças pagãs dos que se deixaram tocar pelos ensinamentos de Jesus se converteram em uma nova fé, a qual muitos renegaram à própria vida para defendê-la.
É nesse sentido que pretendemos apresentar a ideia de martírio, justamente como a capacidade de entregar a vida em nome da fé em Jesus Cristo.
É possível notar na história do cristianismo que o evento "martírio" não foi simplesmente um dar a vida como prova de fé no primeiro século cristão. Ao contrário, toda a vida da Igreja, apesar dos momentos de crise e dificuldades, sempre contou com esta significativa presença dos mártires.
Portanto, é possível afirmar que a figura do mártir não nos é estranha. Compreendemos que alguém movido pela força de sua fé é capaz de se dar à morte para não ter de renegar o que crê. Esta compreensão, no entanto, pode nos conduzir ao erro de pensar o martírio como uma realidade que não nos é próxima e que, portanto, não ocupa espaço em nossa imaginação como uma realidade possível de acontecer em nosso tempo e perto de nós.
Contudo, os mártires não podem ser considerados como personagens heróicos e longínquos de nosso mundo real. O martírio é parte de nossa atualidade, é marca que permanece como sinal de fé e de amor a Cristo. "Se assim não fosse, há muito tempo a igreja teria deixado de apresentar o querigma como um anúncio salvífico compreensível para os dias de hoje e significativo para a vida do homem." (LATOURELLE; FISICHELLA, 1994, p. 568).
Em outras palavras, o "mártir é nosso contemporâneo" (ibidem), é alguém que continua dando a sua vida como testemunho de amor por Cristo e fé na ressurreição, mesmo hoje, mesmo após dois milênios de caminhada de fé. Isso torna ainda mais fascinante a presença da Igreja em nosso tempo, pois é magnífico pensar que Cristo, embora tenha vindo ao mundo há mais de dois mil anos, continua suscitando o ardor da fé nas pessoas da atualidade.
Assim, neste ato de entrega total, a pessoa por sua fé se faz mártir, sendo identificada como quem "dá a vida pela verdade do evangelho" (ibidem, p. 569).
Etimologicamente, o termo "mártir" designa alguém como testemunha de um fato, entretanto, este conceito foi adquirindo um novo caráter com o passar do tempo. Assim, o termo "mártir" evoluiu de sua caracterização genérica passando a ser caracterizado mais precisamente como o testemunho de algo que se crê como verdade e pelo qual se permite derramar o próprio sangue (cf. ibidem).
Em seu manual acerca da História da Igreja, Comby trata dessa mudança conceitual de modo bastante simples:


"Mártir" evoca aquele que morre em meio a suplícios cruéis. Mas é necessário recordar que essa palavra grega significa "testemunha". O mártir dá testemunho de sua fé em Jesus, que é o único Senhor, excluindo qualquer outro, até mesmo o imperador. O cristão não busca o martírio, muito embora isso possa ter ocorrido. Ele pode fugir à perseguição. Mas quando esta chega, dá testemunho até o fim, imitando Jesus até em sua paixão e em sua morte. Portanto, o mártir se identifica com Jesus. (1993, p. 42).


Nesse sentido, identificar-se com a paixão de Cristo através do martírio, de modo especial nos primeiros séculos, significava derramar o sangue em nome da fé. Como consequência dessa fé, em meio à perseguição do Império Romano se distinguiam dois tipos de pessoas: os mártires de fato e os chamados confessores da fé, consistindo estes nos que sofriam perseguições e maus-tratos, mas que não eram sacrificados com a morte. Ainda quanto a esta evolução conceitual, afirmam Latourelle e Fisichella que


O motivo pelo qual se passou progressivamente a esta significação semântica constitui objeto de teorias; o que falta constatar é o fato da distinção que se vem a criar entre confessores e mártires. Todos são testemunhas do Senhor, também se sofrem perseguições; mas o título de mártir só é conferido a quem dá a vida; os demais são comumente considerados confessores (1994, p.569).


Por sua vez, o Dicionário Crítico de Teologia amplia a reflexão acerca do martírio, afirmando que a testemunha ?"martus" ? ao sofrer e morrer "manifesta a verdade do testemunho que presta a Cristo e ao Evangelho", mas que, além disso, dá testemunho acima de tudo "da verdade do mundo vindouro" (LACOSTE, 2004, p. 1099). Desse modo, compreendemos o martírio para além de uma realidade restrita à fé, sendo entendido e vivenciado também como uma afirmação de esperança.
Assim sendo, enquanto movida pela fé e pela esperança, a figura do mártir foi adquirindo importância para os cristãos da Igreja nascente, ou seja, possuindo esse duplo dom, aquele que viesse a ser mártir por recusa a negar Jesus se configurava como um modelo de vida cristã para os demais. Identificar os mártires como modelos de vida cristã teve como consequência o surgimento dos santos. Nesta compreensão também nos auxilia Lacoste:


[...] Após a morte, os corpos dos mártires eram conservados preciosamente como relíquias, sendo construídos altares sobre suas tumbas; festejava-se o aniversário de seu martírio ("seu nascimento celeste") celebrando a eucaristia sobre esses altares. A figura do mártir tornou-se assim a do santo: tratava-se daquele que realizara a vocação de todo cristão à santidade. [...] O mártir/santo não era apenas um modelo, mas também um amigo de elevado nível; podia-se recorrer a
ele (2004, p. 1100).


É interessante esta afirmação de Lacoste, pois ele trata da santidade dos mártires como a plena realização da santidade a que todos os cristãos são chamados. Para tanto, a fé e, bem mais a esperança, constituem a essência de uma vida cristã provada ao extremo, por meio da qual emerge a santidade como um jeito de ser amigo dos seres humanos na total entrega pelo amor e ao amor de Cristo.
Tal testemunho de amor é também abordado pelo Concílio Vaticano II que, no intuito de renovar a vida da Igreja após quase vinte séculos de história, continua a reforçar a significância do martírio para os dias e os cristãos de hoje:


[...] Por isso o primeiro e mais necessário dom é a caridade, pela qual amamos a Deus acima de tudo e ao próximo por causa d?Ele. [...] Visto que Jesus, Filho de Deus, manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós, ninguém possui maior amor que aquele que entrega a vida por Ele e seus irmãos [...]. Por isso, desde o início alguns cristãos foram chamados ? e alguns são sempre chamados ? para dar o supremo testemunho de seu amor diante de todos os homens, mas de modo especial perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte, ? pelo qual o discípulo se assemelha ao Mestre que aceita livremente a morte pela salvação do mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue ? é estimulado pela Igreja como exímio dom e suprema prova da caridade. Se a poucos é dado, todos, porém, devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-l?O no caminho da cruz entre perseguições, que nunca faltam à Igreja (LG 42).


Esse pensamento conciliar resume toda a definição de martírio que se possa obter: unidos a Cristo que se deu inteiramente pela salvação da humanidade, os
cristãos são encorajados a livremente entregar suas vidas como testemunho de fé e como sinal de caridade perante o mundo.
É também nesse sentido que queremos conhecer e compreender a história de amor e de martírio vivida pelo padre Maximiliano Maria Kolbe.

1.1 O Mundo em Guerra e o Martírio nos Campos de Concentração Nazistas

Como tratávamos anteriormente, o martírio não é uma prova de fé que ficou relegada ao passado. Também comentávamos que o martírio não é um fato impossível de acontecer perto de nós e ? por que não? ? até mesmo com pessoas que nos são próximas e queridas.
Se dedicarmos um tempo à pesquisa e à reflexão, concluiremos que ainda hoje a Igreja continua gerando mártires, o que também impressiona, pois isso se dá de um modo sempre novo e de acordo com cada contexto sócio-político e cultural.
É interessante notarmos que, de um modo ou de outro, sempre há uma "culpa" política por trás das atrocidades sociais que extinguem inocentes sem nenhuma razão bem esclarecida. Também é bastante evidente que algumas crenças sejam não-aceitas em determinadas sociedades e, no caso do cristianismo, fica evidente que esta fé se torne incomodativa, uma vez que seu fundamento doutrinal não é compatível com muitos sistemas políticos que regem a humanidade.
Tendo como centro a própria pessoa de Cristo, a fé cristã, se vivida em conformidade com a proposta do Evangelho, se torna desconcertante para todo sistema governamental que vise alienar sua população e explorar os mais vulneráveis à opressão política, tornando-os "reféns" do poder.
Nesse sentido, é possível perceber uma oposição entre a proposta cristã e as manipulações do poder político. Assim, também é possível contrapor o ideário da opressão e da exploração com a atitude cristã, a qual exige o amor e o respeito por todos. Ou seja, assim como no tempo de Jesus, também hoje o mundo é dominado por estruturas de poder que se fecham e se inquietam diante da postura cristã.
Se o cristianismo desconcerta tanto assim os sistemas políticos, certamente é porque ele toca nos pontos mais frágeis e corruptos da manipulação governamental. Por isso, em meio a tanta opressão, conseguimos notar que o amor continua clamando e querendo ocupar seu lugar. É justamente nesta insistência do amor que o martírio responde ao contexto da dominação social.
Sabemos que o mundo se envolveu em duas grandes guerras e, assim como elas, todas as outras guerras e revoluções armadas se deram por motivos políticos e econômicos. Contudo, quando as "cabeças políticas" resolvem entrar em guerra, quem vai para os campos de batalha normalmente são os inocentes, aqueles que muitas vezes nem sabem por que estão ali. Também são estes que perdem suas vidas para defender um ideal que não é seu, mas que a legislação ordena que seja defendido como seu.
A Segunda Guerra Mundial é um dos palcos onde vai atuar esta cobiça política e financeira, da qual restam apenas alguns milhões de mortos e o ego das potências militares. É também neste contexto que se dá o martírio de padre Maximiliano Kolbe.
Em setembro de 1939 a Polônia foi invadida pelas forças militares do exército nazista de Adolf Hitler. Ao serem tocados pela guerra, os poloneses não conseguiram defender seus territórios e tiveram seu país devastado pelas bombas. Sem muitas alternativas, restavam apenas duas opções: se deixar matar ou se entregar à prisão. É bem provável que muitos preferiram a morte (cf. WINOWSKA, 1983, p. 153).
De uma hora para outra se espalhou um clima de ódio em toda a Polônia, pois todos queriam de uma forma ou de outra tentar defender a sua nação. Era como se todos respirassem ódio. E não poderia ser diferente.


"Quem podia alimentar escrúpulos? O ódio parecia justo, normal, necessário. E quem ousaria, naqueles tempos, convidar os corações a abraçarem a lei da caridade perfeita, que envolve em seu manto o algoz e o inimigo? O perdão se assemelharia à suprema vileza. O maior crime de toda guerra consiste exatamente nisso: em perverter tudo, até mesmo as virtudes cristãs. (Ibidem, p. 154).


Quando Niepokalanów, a cidade onde estava padre Kolbe instalado com seus frades, foi bombardeada, em poucos dias os freis foram expulsos do convento por ordem das autoridades alemãs e levados a Amtlitz, o primeiro de uma série de campos de concentração nazistas. Diz-se que lá não era o lugar dos piores horrores, mas já era o prenúncio destes (cf. ibidem, p. 157).
Libertos deste campo de concentração, os freis retornaram ao convento, o qual havia sido saqueado pelos militares. Começava então a verdadeira guerra para padre Kolbe e os seus companheiros. O pior estava por vir, pois em pouco tempo seriam presos novamente e, desta vez, partiriam para seu destino final: o campo de concentração de Auschwitz. Assim, o piedoso padre Kolbe "se preparava para seu último combate de Amor, em nome do Amor." (ibidem, p. 161).
Durante a Segunda Guerra Mundial os campos de concentração nazistas deram à luz muitos santos mártires que lutaram até o fim da vida pela causa do amor, da fé, do perdão e da esperança.


2- MAXIMILIANO MARIA KOLBE: MÁRTIR DA CARIDADE


Padre Kolbe não era muito ligado às artes. Tinha pouco interesse cultural e dificuldade em conviver com os demais padres de sua comunidade, que o consideravam um sonhador (cf. NIGG, 1982, p. 19). Sonhador ou não, isso não importa. O que importa é o amor de padre Kolbe, do qual dependeu a vida de um homem e a fé de um povo.

2.1 Os Primeiros anos

Maximiliano Kolbe nasceu no dia oito de janeiro de 1894 em Zdunska Wola, uma aldeia da Polônia. Seu nome de batismo era Raimundo e ele teve outros dois irmãos.
Seu pai, que trabalhava como tecelão e, posteriormente, como operário em uma fábrica, combateu contra a Rússia na Primeira Guerra Mundial. Lá foi preso e condenado como desertor, pois ele era um cidadão russo. Sua mãe mantinha uma mercearia e trabalhava como parteira. Muito religiosa, peregrinava anualmente com seus familiares ao santuário nacional dos poloneses em Czestochowa. Estando seus filhos crescidos, ela obteve a permissão de seu marido para entrar em um mosteiro de irmãs beneditinas.
Um fato que se narra na Polônia, mas do qual não se tem informações precisas e nem confirmadas é o de que Nossa Senhora teria vindo ao encontro de Kolbe e lhe ofertado duas coroas, sendo uma branca e uma vermelha, representando respectivamente as coroas da castidade e do martírio. Tal informação não exerceu nenhuma influência no processo de beatificação de padre Kolbe (cf. ibidem, p. 21).
A sua infância e juventude foram de extrema pobreza. Na juventude, Raimundo e seu irmão Francisco decidiram entrar no internato dos franciscanos em Lwow, na Polônia austríaca (cf. FROSSARD, 1988, p. 15). Isso aconteceu por força de uma missão popular realizada na aldeia onde moravam.
No entanto, tendo Francisco deixado o internato, Raimundo também pensou em retornar para casa, até porque se interessava mais por matemática do que por teologia. Ademais, sua juventude não teve nada de extraordinário. Foi um jovem normal cuja vida só foi mudar muito tempo depois (cf. NIGG, 1982, p. 23).
Quando começou o período de noviciado, Kolbe recebeu o então nome de Maximiliano. Cumpriu seus estudos filosóficos e teológicos em Roma, na Universidade Gregoriana. Também em Roma ele recebeu o sacramento da ordem presbiteral em vinte e oito de abril de 1918, na igreja de Sant?Andrea della Valle (cf. FROSSARD, 1988, p. 34).
Ao que tudo indica, seu pensamento e seu modo de ser foram transformados por Roma, como se tivesse havido uma real conversão, uma vez que Kolbe passou a se interessar mais pela Igreja. Assim, imbuído deste novo ardor e com a permissão de seus superiores, Maximiliano antes de ser ordenado fundou em 17 de outubro de 1917 a Militia Imaculatae, isto é, um grupo de combate espiritual, tendo como ponto de partida a atitude da maçonaria italiana que, em 1917, em plena Guerra Mundial, comemorou de modo provocante seus duzentos anos de existência (cf. NIGG, 1982, p. 24).
Com a Militia Imaculatae, que aos poucos se tornou um grande grupo, padre Kolbe almejava aniquilar a situação na qual estava imersa a Europa, ou seja, em um momento ascendente de apostasia ao cristianismo, marcado pela corrupção e pela imoralidade.
Também com a formação deste grupo combatente pela oração notamos que o nome da Virgem Imaculada não apenas surgia como uma homenagem à Mãe de Jesus, e sim, era fruto de uma profunda devoção e de um grande amor para com Maria.
Segundo Nigg, a veneração de padre Kolbe pela Virgem era tamanha que ele compreendia o mundo como uma criação especial para ela, ou nas próprias palavras de padre Kolbe, citadas por Nigg: "A Virgem Imaculada é o último limite entre Deus e a criatura. Ela é o espelho fiel da perfeição e santidade divinas" (1982, p. 31).
Essa mariologia radical condiz com a realidade religiosa do povo polonês. A fé dos poloneses católicos é grandiosamente mariana, tanto que Maria foi escolhida como rainha do país, tendo como santuário nacional a igreja de Czestochowa, pois esta resistiu aos ataques durante a guerra da Suécia.
Baseado em uma profunda vivência mariana, padre Kolbe criou em conjunto com seu movimento a revista denominada "Cavalheiros da Imaculada". Esta era destinada ao povo simples, sendo acessível no preço e na linguagem.
Retornando de Roma, padre Kolbe foi atingido pela tuberculose, passando a viver somente com um pulmão a partir de 1921 (cf. ibidem, p. 35). Segundo Frossard, Kolbe sempre teve saúde debilitada, pouco fôlego e uma voz mansa, não podendo cumprir as duas tarefas que lhe foram confiadas em Cracóvia: dar aulas de história da Igreja e, posteriormente, ser pregador (cf. 1988, p. 53).
A sua tuberculose foi aumentando, mas o sofrimento não lhe pareceu penoso. Ao contrário, sempre o acolheu como graça e caminho de amor. Há uma espiritualidade muito profunda nessa compreensão do sofrimento. De acordo com Frossard, padre Kolbe é


[...] um incendiário que aproveita qualquer pedaço de lenha para fazer fogo, desde as enormes achas da enfermidade até os cavacos das contrariedades cotidianas. E quando, no total desnudamento de Auschwitz, nada mais lhe cair às mãos, para queimar, entregará os próprios pedaços de sua pessoa, sem hesitar, na lenta combustão da fome e da sede. (ibidem, p. 56).


Não obstante, sua enfermidade foi superada pela disposição. Prova disto é o convento de Niepokalanów fundado por ele em 1927.
Cabe ressaltar que padre Kolbe fazia uso da imprensa de modo muito amplo. Lançando a revista e também um jornal, ele sentia e afirmava a importância desse meio de comunicação. Também ele criou uma estação de rádio, mostrando assim que o progresso técnico era importante e que não poderia ser detido (cf. NIGG, 1982, p. 38).
Padre Kolbe era imbuído de um anseio expansionista. Ele queria que o mundo fosse conquistado para a Virgem Maria (cf. ibidem, p.42). Nesta intenção, fundou com seus confrades franciscanos um convento em Nagasaki, no Japão, sendo este considerado como um sinal divino, uma vez que


Quando, ao fim da Segunda Guerra Mundial, Nagasaki desapareceu praticamente do globo terrestre, pela explosão de uma bomba atômica, subsistiu como por milagre a estação missionária. (Ibidem, p. 46).


2.2 O Caminho para o Martírio

No dia 1º de setembro de 1939 a Polônia foi invadida pelo exército nazista de Hitler. Desse modo começou a Segunda Guerra Mundial com um agravante para a polônia que também foi atacada pelo exército comunista da Rússia (cf. ibidem, p. 47).
Estendendo-se a guerra até Niepokalanów, padre Kolbe dispensou seus confrades e os orientou a se apresentarem à Cruz Vermelha polonesa para atenderem aos feridos. Em meio aos bombardeios e às mortes, em 19 de setembro de 1939 o convento foi invadido pelas tropas alemãs e quarenta e oito frades foram levados a um campo de concentração.
Após três meses no campo de Amtlitz, padre Kolbe e os demais obtiveram a permissão para retornarem ao convento que, ao chegarem, estava em estado de devastação. A partir de então padre Kolbe empreendeu forças para restaurar o convento, vindo este a se transformar em um abrigo de refúgio para poloneses e judeus perseguidos.
Contudo, este ambiente acolhedor não teve grande durabilidade. Em 17 de fevereiro de 1941, padre Kolbe e mais quatro padres foram presos por homens da SS (Schutz-Staffel) .
Mantendo viva a fé e com um testemunho irrevogável, padre Kolbe foi brutalmente agredido na cadeia e em pouco tempo foi transferido para o seu leito de morte: o campo de concentração de Auschwitz. Na verdade, este lugar foi mais que um espaço para morrer, foi para padre Kolbe o seu "monte Calvário", por sobre o qual derramou todo o seu amor.
Há informações de que os barracos de Auschwitz poderiam comportar duzentos mil prisioneiros, entretanto, aproximadamente quatro milhões de pessoas deixaram por lá suas vidas (cf. ibidem, p. 52).
Neste local infernal,


As chaminés dos fornos crematórios, ainda visíveis hoje em dia, lançavam fumaça dia e noite. Auschwitz, com o seu extermínio mecanizado da vida humana, é o lugar do sofrimento inominável, da angústia, da dor, do tormento da fome e da morte. Aqui se dissolveu definitivamente em vapor qualquer ilusão do progresso moderno e qualquer ideia de humanidade. (Ibidem).


No pórtico para o extermínio, todo esse vapor com odor de morte escondia uma terrível e mentirosa inscrição: "Arbeit Macht Frei" ? "O Trabalho Liberta". Ao passar pelo pórtico, no interior da inscrição, nenhum prisioneiro era tratado como pessoa e cada um era como que rebatizado por meio de um número de identificação. Assim, padre Kolbe já não existia, e sim, o número 16.670.
Transferido para o campo de trabalho de Balice, padre Kolbe suportou todos os trabalhos sem nada reclamar. Mesmo sendo proibida qualquer prática religiosa, padre Kolbe animava aos companheiros que assim desejassem com a mensagem da fé, do Evangelho e do perdão (cf. ibidem, p. 56).
Contudo, o fato marcante por excelência na vida deste homem de Deus aconteceu no verão de 1941, quando da fuga de um prisioneiro, o chefe do campo Karl Fritsch ordenou a apresentação de todos os presos do bloco de onde aquele havia fugido.
Desse modo, Fritsch os obrigou a permanecer sem comida e em posição de sentido sob o sol durante horas. Ao anoitecer, foi-lhes comunicado um castigo coletivo: seriam escolhidos dez homens aleatoriamente para ficarem exilados sem alimentação em um abrigo até que viessem a óbito.
Dentre os escolhidos estava Franz Gajowniczek, casado e pai de dois filhos, como assim o manifestou. Descumprindo a ordem de não se movimentar, padre Kolbe sai de sua fileira e se aproxima do chefe do campo oferecendo-se para ser exilado no lugar de Franz, uma vez que ele é sozinho e não tem filhos. Tal proposta poderia ter como consequência uma atitude ainda mais drástica, porém, o inesperado aconteceu: o chefe do campo concordou com a troca (cf. ibidem, p. 60).
É interessante como se dá o diálogo dessa troca:


? Links rum! À esquerda, marchem! [...] De repente aconteceu algo incomum. Do meio de seus companheiros, estonteados, um prisioneiro saiu da fila. [...] ? É o padre Kolbe! É Maximiliano Kolbe! O lagerführer tirou o revólver do coldre, deu um passo atrás e gritou: ? Alto! O que quer este porco polonês? Padre Kolbe permaneceu de pé diante dele. Estava calmo, quase sorridente. [...] ? Gostaria de morrer no lugar de um destes condenados. [...] O lagerführer perguntou estupidamente: ? Mas, por quê? [...] Respondeu: ? Eu estou velho e não sirvo para nada. Minha vida não tem nenhuma utilidade. ? No Lugar de quem você quer morrer? ? Daquele homem que tem mulher e filhos. [...] Daquela vez a curiosidade foi mais forte do que a crueldade. Fritsch tentava compreender: ? Quem é... você? A resposta se fez ouvir breve e solene: ? Sacerdote católico. (WINOWSKA, 1983, pp. 177-178).


De acordo com Nigg, a chamada "Crônica dos últimos dias" relata que padre Kolbe e seus companheiros foram enclausurados em um porão sem nenhuma entrada de ar e bastante estreito, estando eles completamente despidos (cf. 1982, p. 66).
Nesse recinto triste e sombrio, a única força era direcionada a confortar os demais e, além do gesto de oblação padre Kolbe ainda se fez um ícone no claustro de Auschwitz: cantava a Maria Santíssima (cf. ibidem), o que era inexplicável dentro daquele inóspito lugar com cheiro de morte.
Dia após dia morriam os prisioneiros. Incrível, no entanto, é o fato de que, apesar da tuberculose avançada, padre Kolbe foi o último a morrer, e isso porque lhe tiraram a vida. Passados quinze dias no claustro da morte ainda restavam quatro presos, dos quais três estavam inconscientes e padre Kolbe ainda lúcido. Segundo Nigg, com base no testemunho do prisioneiro Bruno Borgowiec que trabalhava como intérprete e coveiro, a morte de padre Kolbe se deu do seguinte modo:


[...] Depois de quinze dias de sofrimento, precisava-se do espaço para outras vítimas. Mas quatro presos ainda estavam vivos: três deles estavam inconscientes, deitados no chão; só o Padre Kolbe estava sentado, encostado na parede, totalmente esgotado, mas plenamente consciente. Junto com o intérprete, um médico desceu e entrou na cela da morte. O Padre Kolbe que, de tão magro, parecia um esqueleto, sem dizer palavra alguma, ofereceu o braço esquerdo ao assassino em traje branco, a fim de receber dele a injeção de Fenol. (Ibidem, p. 68 e cf. WINOWSKA, 1983, p. 184).


Este era o dia quatorze de agosto de 1941, véspera da festa da Assunção de Nossa Senhora.
O intérprete e coveiro Bruno, não podendo suportar o peso da visão genocida, deixa a cela e, ao retornar, é surpreendido pelo estado de graça no qual se encontrava padre Kolbe. De acordo com seu testemunho, "ao abrir a porta de metal, o Padre Maximiliano Kolbe não vivia mais. Seu rosto brilhava de uma maneira extraordinária. [...] Toda a sua fisionomia parecia como que em êxtase" (NIGG, 1982, p. 68).
Certamente morrera na feliz esperança do encontro com o Senhor Jesus Cristo e com sua amada e venerada Maria Santíssima. Toda a vida de padre Kolbe não se esgota neste holocausto, ao contrário disso, seu testemunho de fé, sacrifício e desprendimento da própria vida continua ressoando em nossos dias como um clamor à prática da caridade fraterna.
A seguinte frase de padre Maximiliano Kolbe retrata profundamente o seu desejo de se doar por inteiro, concordando até em trocar sua liberdade por uma vida de intenso amor: "Antes ficar preso por puro amor a Deus do que abusar da pretensa liberdade para uma vida escandalosa." (cf. ibidem, p. 78).
Somente alguém com tamanha consciência de sua pertença a Deus poderia ser capaz de tamanho gesto de entrega confiante e ardorosa. Padre Kolbe foi capaz dessa entrega de si não só por ter consciência de sua pertença a Deus, mas também porque se confiava aos cuidados daquela que se deixou fazer morada de Deus, Maria, a sua sempre Imaculada. Ela que, como escolhida, soube compreender a quem pertencia sua vida e, como Mãe, soube ensinar isto a padre Kolbe.

2.3 A Causa dos Santos

O primeiro a pedir ao papa a beatificação de padre Kolbe foi Paul Yamaguchi, bispo de Nagasaki de 1937 até 1968. Com o desejo de ver o fundador da Província Franciscana no Japão entre os santos, Yamaguchi escreve em 1948 uma carta ao Papa Pio XII, pedindo-lhe a beatificação de padre Kolbe, ressaltando a sua influência e importância para o cristianismo japonês.
Também em 1963, em plena realização do Concílio Vaticano II, sob orientação do Papa Paulo VI, os bispos alemães e poloneses redigem em conjunto uma carta solicitando a beatificação de padre Kolbe, vendo neste a caridade heróica que faz dar a própria vida em favor do outro.
Eis um trecho desta carta:


Numa compreensão maior das condições de vida, sob as quais os homens vivem da Segunda Guerra Mundial, e finalmente movidos pelo espírito do Evangelho, que o Concílio Vaticano II manifesta ao mundo inteiro, [...] os Cardeais e Bispos da Polônia e da Alemanha que participam do Concílio Ecumênico [...] desejam estar reunidos no espírito de fraternidade e caridade para a súplica coletiva em vista da beatificação do Servo de Deus, Maximiliano Kolbe. (Ibidem, p. 90).


Finalmente, a Sagrada Congregação para as Canonizações concretiza o ideário das cartas citadas. Foi preciso percorrer um longo e minucioso caminho de investigação para se atestar a santidade deste Servo de Deus.
Em seu processo de beatificação foram consideradas duas curas devidas à sua intercessão, sendo estas extraordinárias a ponto de se fazer concluir que eram milagres divinos.
Quem testemunha a primeira cura é a costureira de Turritana, na Sardenha, Angelina Testoni, de trinta e seis anos. Ela foi curada de uma infecção estenosante do intestino delgado e também de uma peritonite crônica, após ter sofrido de tuberculose. Angelina orou a Maximiliano Kolbe pedindo a graça da cura por sete anos e foi atendida em vinte e quatro de julho de 1949. (Cf. ibidem, pp. 91-92).
A segunda cura foi a de Francisco Luciano Ranier, de cinquenta e dois anos que sofria de um status tóxico-infeccioso no quadril após ter amputado uma perna. No atendimento a Francisco os recursos da medicina foram utilizados de modo inadequado, o que veio a contribuir para a piora do seu estado. Dado o diagnóstico de não sobrevivência, ele foi levado a um local para aguardar a morte. Contudo, a insistência de suas orações e de seus familiares pedindo a intercessão de Maximiliano Kolbe teve como resultado a cura definitiva em cinco de agosto de 1950. (Cf. ibidem, p. 92).
Estes casos foram avaliados pelo Conselho Medicinal da Congregação para as Canonizações e obtiveram julgamento positivo acerca das curas sem intervenção médica. Posteriormente a esta avaliação, os casos foram examinados por teólogos e aprovados como milagres.
Assim, em dezessete de outubro de 1971, o Papa Paulo VI confere ao Servo de Deus Maximiliano Maria Kolbe a beatificação na Basílica de São Pedro, considerando-o como "confessor da fé" (FROSSARD, 1988, p. 125.)
São belas e, ao mesmo tempo, inquietantes as palavras proferidas por Paulo VI na homilia da beatificação de padre Kolbe:


Maximiliano Kolbe beatificado. Que quer isso dizer? Isso significa que a Igreja reconhece nele uma figura extraordinária, um homem em quem a graça de Deus e sua própria força de alma colaboraram a tal ponto que disso brotou uma vida admirável e maravilhosa. [...] Bem - aventurado significa salvo e glorificado; significa estar no céu, com todos os sinais próprios do homem da terra; significa irmão e amigo, a que, inalteradamente, podemos considerar como sendo nosso e até muito mais nosso agora do que antes, porque ele foi promovido a ser membro ativo da Comunhão dos Santos, que é o Corpo Místico de Cristo, a Igreja viva no tempo e na eternidade. [...] Que exortação neste tempo de insegurança, em que a nossa natureza humana faz valer tantas vezes os seus direitos contra a nossa vocação sobrenatural à entrega total a Cristo que nos chamou a segui-lo! (In: NIGG, 1982, p. 97. p. 99)


2.4 Confessor da Fé ou Mártir?

A morte de padre Maximiliano Kolbe ocorrida em um campo de concentração poderia nos conduzir à questão: ele foi mesmo um mártir? Como citamos acerca de sua beatificação, foi considerado como confessor da fé e não como mártir. No entanto, todo o processo de sua morte não se enquadra dentro do perfil de um mártir somente pelo fato de não ter se derramado seu sangue e nem ter sido questionado em sua fé?
Pode-se afirmar, então, que padre Kolbe saiu dos esquemas "normais" do martírio. Verdadeiramente, ele não precisou ser posto à prova quanto a sua fé, nem mesmo precisou derramar sangue pelo ódio de seus opositores. Não. Ele se deixou matar, não por covardia, e sim, porque estava imbuído de um amor demasiadamente grande. Amor este que não o deixava viver se não fosse para favorecer aos outros.
Agora talvez seja possível afirmar que o martírio adquire um conceito transcendente aos padrões estabelecidos, ou seja, ser mártir implica mais em dar a vida por amor do que em fazê-la sangrá-la pela fé.
Nesse sentido, certamente também um grande homem chegou a essa compreensão. Assim, o Papa João Paulo II, apesar de todas as discordâncias episcopais, elevou padre Kolbe à santidade, colocando-o entre os mártires da Igreja, pois seria "impossível não ver que essa morte livremente sofrida fazia de Maximiliano Kolbe semelhante a Jesus Cristo, modelo de todos os mártires" (FROSSARD, 1988, p.11).
Padre Maximiliano Kolbe foi canonizado na manhã do dia dez de outubro de 1982. Significativa também é a homilia proferida por João Paulo II durante a celebração. Temos aqui apenas um trecho:


"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15, 13). A partir de hoje a Igreja deseja chamar "Santo" um homem a quem foi concedido realizar de maneira absolutamente literal as referidas palavras do Redentor. [...] Maximiliano não morreu, mas "deu a vida... pelo irmão". [...] a morte de Maximiliano Kolbe se tornou um sinal de vitória. Foi esta a vitória alcançada sobre todo o sistema de desprezo e de ódio para com o homem e para com o que é divino no homem, [...]. E por isso, em virtude da minha autoridade apostólica decretei que Maximiliano Maria Kolbe, venerado que era como Confessor a partir da Beatificação, fosse de agora em diante venerado também como Mártir! "É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis"! Amém. (In: WINOWSKA, 1983, pp. 7-13).


Com estas palavras, o Papa João Paulo II conferiu conforto e alegria a muitos cristãos que tinham em padre Kolbe um modelo de santidade. Também suas palavras soam como um convite e um incentivo à paz universal e a uma tomada de consciência diante da vida humana, frágil e, ao mesmo tempo, potencializada pela graça de Deus.
Da morte do Servo de Deus, Maximiliano Kolbe, emerge um clamor a prática da caridade, pois sua entrega no campo de concentração de Auschwitz foi, sem dúvida, a grande demonstração de que a fé e o amor ultrapassam todo ódio, toda dor, toda provação e toda diferença étnica, cultural, social e religiosa.
Roma, dez de outubro de 1982 ? em meio à multidão de fiéis que se unia para celebrar a canonização de padre Kolbe havia alguém muito especial, se não aos olhos do mundo, ao menos aos olhos de Deus e de seu Servo da Caridade. Este alguém era Franz Gajowniczek, o judeu e pai de família por quem padre Kolbe dera a própria vida em troca de sua liberdade.
Assim, é possível perceber neste fato a proximidade e, mais uma vez, o desejo de Deus de manifestar aos judeus e a todos os povos que Jesus é o Messias esperado, uma vez que o sacrifício de padre Kolbe o configura ao sacrifício de Cristo.


















CONCLUSÃO


Ao término deste estudo, cabem ainda as palavras de São Maximiliano Kolbe, escritas em uma de suas últimas cartas endereçadas à sua mãe: "Reze por mim, querida mãe, para que o meu amor cresça cada vez mais depressa e não conheça limites. Reze, especialmente, para que ele não conheça limites" (WINOWSKA, 1983, p. 62).
Nestas letras, tão fervorosas e desejosas de um amor transbordante, se nota já o que haveria de ser São Maximiliano Kolbe: um homem de amor sem limites, um homem de amor incondicional que aceitou perder a vida na terra para deixar um irmão viver, mas que, acima de tudo, aceitou com alegria ganhar a vida nova em Cristo.
Sem medir esforços, os mártires de todos os tempos sempre nos colocam diante de uma pergunta: que medida tem a nossa fé e quanto ela suporta amar? Os mártires são continuamente este testemunho fiel de entrega amorosa, configurados a Cristo e sinais de esperança para um mundo em descrença. Assim, amar o mais possível é sempre insuficiente para quem é feito mártir.
Enfim, em todos os momentos desesperadores, a vida de fé se renova pelo ardor com que vivem os santos mártires. Eles são a prova viva de uma fé que não está adormecida e que, portanto, exige dos cristãos uma tomada de consciência quanto à relação entre fé e testemunho de vida.
São Maximiliano Kolbe, tão próximo de nosso tempo, continua sendo para todos os cristãos este apelo a uma vida de entrega total de amor ao Amor.









BIBLIOGRAFIA


COMBY, Jean. Para ler a História da Igreja. Das origens ao século XV. Tradução de Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 1993.

CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituições; Decretos; Declarações. Petrópolis: Vozes, 1967.

FROSSARD, André. A Paixão de Maximiliano Kolbe. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1988.

LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas/Loyola, 2004.

LATOURELLE, René; FISICHELLA, Rino. Dicionário de Teologia Fundamental. Tr. Luiz João Baraúna. Petrópolis: Vozes/ Aparecida: Santuário, 1994.

NIGG, Walter. Maximiliano Kolbe: O mártir de Auschwitz. São Paulo: Loyola, 1982.

WINOWSKA, Maria. Maximiliano Kolbe. Um mártir de Auschwitz. São Paulo, Paulinas, 1983.