Matérias primas

Por Romano Dazzi | 11/12/2009 | Crônicas

273 - MATERIAS PRIMAS

 

Às vezes  me pergunto de que somos feitos, nós, os humanos.

Fácil, ora!: de ossos, carne, sangue, cartilagens, sei lá.

E por fora, uma camada protetora, que esconde

como somos feios por dentro.

É só desta parte exterior, que gostamos.

 

Mas isso tudo é apenas aparência.

No fundo, creio que somos feitos de outros  materiais, 

diferentes do que pensamos, diferentes  do que os livros nos ensinam. 

 

Alumínio, por exemplo:

Nossos pensamentos, nossas idéias, nossos desejos são como longas e finas  barras de alumínio.

O tempo todo ficamos armando-as pacientemente, ligando-as umas às outras, montando uma escada ou uma torre; e subimos por elas devagar, com esforço, carregando nossos sonhos e nossas ilusões.

Mas o alumínio é flexível, dúctil, traiçoeiro;  a qualquer ventinho a nossa torre, por modesta que seja, enverga, entorta, se afrouxa e por fim vem abaixo, trazendo tudo de volta ao chão. E temos que recomeçar.

 

Borracha, por exemplo:

Temos que criar pequenos coxins, almofadas  para choques,  elásticos, capazes de absorver os encontrões diários com os outros, de resistir às pressões, às situações adversas, às surpresas da vida,  contra as quais nunca estamos preparados.

 Esta batalha diária pode ferir e tornar irreconhecível a nossa própria alma.

 

Materiais de acabamento, por exemplo:

Quanta tinta,  estuque, esmalte, massa fina, silicone, usamos para pequenos consertos; para parecermos um pouco melhores do que somos, para corrigir  os defeitos e as  imperfeições; para esconder os estragos que o passar do tempo deixa em nosso corpo e em nossa alma

 

Vidro, por exemplo:

Não temos como fechar as  portas da nossa  alma: elas são feitas de vidro.

Mostram, a quem sabe ver, tudo o somos, o que sentimos;

Os acontecimentos passam através dessas portas; assim, alteram suas cores e as refletem em nossa alma, mudando  nossos sentimentos..

Mas,  muito cuidado!. É vidro. Um choque excessivo, uma batida forte, mesmo involuntária, e ele se despedaça, explodindo  em mil fragmentos perigosos, capazes de ferir quem estiver por perto.

 

Enfim, entendo que a nossa natureza tem mil faces, a carne é a mais perecível, a menos confiável.

O que mais vale, é o que anda dentro de nós.,.

É a nossa alma, nosso espírito, nosso coração.

É isso que nos torna melhores ou piores.

Tudo depende do uso que fazemos de nossas matérias primas.