PROJETO DE ENSINO: MATEMÁTICA FINANCEIRA

Por Ariana Patricia da Silva | 25/07/2019 | Educação

Resumo

O objetivo deste trabalho é proporcionar aos participantes do sistema educacional uma reflexão sobre o tratamento que deve ser dado às finanças pela família, tendo em vista a grande dificuldade enfrentada pelas pessoas para administrarem sua vida financeira. A escolha do tema Educação Financeira vai ao encontro dessa problemática como forma de auxiliar as pessoas a conduzirem seu orçamento pessoal e doméstico com eficiência. Nessa perspectiva, apresentamos o desenvolvimento de um projeto realizado na Escola Estadual de Educação de Jovens e Adultos. Em ambos, trabalhamos de forma contextualizada os conteúdos matemáticos dando ênfase à Matemática Financeira e seu uso na resolução de problemas do cotidiano do aluno, de forma que ele compreenda o funcionamento da Economia Doméstica, e, consequentemente, aprenda a administrar o seu dinheiro e o da sua família. A Matemática aliada a outras ciências traz grandes contribuições para a educação do indivíduo, principalmente quando versa sobre conteúdos praticados pelos alunos dentro e fora da escola, em situações que exigem mais do que o mero conhecimento técnico para encontrar soluções que sejam não apenas lógicas, mas também eficientes do ponto de vista das relações deste indivíduo com a sociedade. Assim, concluímos que a escola, enquanto instituição de preparação para o exercício da cidadania deve desenvolver a Educação Financeira desde o início da vida estudantil através de uma proposta pedagógica que mostre sua utilidade prática e sua importância para melhora na qualidade de vida das pessoas.

Palavra chave: Educação Financeira. EJA. Resolução de Problema.

INTRODUÇÃO

A Educação Financeira é essencial para os cidadãos e sua sustentabilidade na sociedade atual, é relevante a conscientização das pessoas para que saibam administrar seus gastos, diminuindo assim as chances de passar por limitações financeiras em momentos de recessão econômica. Para isso, associar a presença da matemática nestas situações é fundamental, pois existe uma lacuna entre a matemática ensinada nas escolas e a educação financeira.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), em se tratando da Matemática Financeira, o aluno deve ser instruído e capacitado a entender as melhores formas de compras à vista ou a prazo, a razão entre o custo e a quantidade, calcular impostos e juros bancários além de interpretações corretas em embalagens de produtos quanto ao volume e preço. O objetivo deste trabalho é apresentar alguns conceitos de Matemática Financeira, e introduzir, a partir deles, a definição de Progressão Aritmética e Geométrica aos alunos da modalidade EJA, Educação de Jovens e Adultos.

Os alunos da modalidade em questão utilizam, em sua maioria, serviços bancários, conhecem os produtos básicos oferecidos por cada instituição financeira (financiamentos, empréstimos, investimentos, etc). Mas, por outro lado, não têm conhecimento matemático suficiente para questionar e identificar os elementos necessários para uma escolha adequada. Assim, o objetivo deste material é ensinar os conhecimentos básicos de matemática financeira, utilizando calculadora e ferramentas computacionais para calcular juros de atraso de diversos tipos de contas e valor da prestação e juros de financiamentos com pagamentos fixos. A linguagem da apostila é simples e foi construída a partir da experiência com três turmas da EJA nas quais trabalhei. Algumas seções possuem notas direcionadas aos professores para facilitar o trabalho do professor que utilizará este material.

FUNDAMENTAÇÃO TEORICA

 Vivemos em uma sociedade consumista, cheia de desejos impostos pela mídia e pelas estratégias de marketing das empresas que induzem ao consumo desmedido de produtos muitas vezes criados a partir de uma falsa necessidade, mas que induzem a um endividamento verdadeiro. O nível de endividamento geralmente está em função da renda familiar (os que ganham mais gastam mais), entretanto, analisando esse quadro somos levados a concluir que, proporcionalmente, as famílias de menor renda consomem em um ritmo mais acelerado e a falta de controle desse consumo é o que acaba desestruturando o planejamento familiar, quando existente.

Nessa modalidade de ensino, o professor tem relevante importância no processo de reingresso do aluno à escola. A maneira de trabalhar os conteúdos tem que ser diferenciada, tendo em vista que os alunos da EJA geralmente são indivíduos que saíram dos bancos escolares há algum tempo e, na maioria dos casos, apresentando dificuldade no aprendizado e carência de pré-requisitos, além de baixa auto estima. Assim, cabe ao professor da EJA, procurar identificar o potencial de cada aluno para, dessa forma, obter um melhor aproveitamento no aprendizado.

Segundo Paulo Freire (1976), a aprendizagem do aluno da EJA precisa ser ampla de modo que o indivíduo possa “ler o mundo e, ao lê-lo transformá-lo”.

Assim, ao abordar o conteúdo, o professor deve considerar todo o conhecimento trazido pelos alunos, e se possível, fazer uma ponte entre esse conhecimento e o escolar procurando a partir daí transpor seu aprendizado para um nível mais elaborado do conhecimento tendo em vista que o ensino de matemática deve ter, “um caráter de sistematização, de reelaboração e/ou alargamento de alguns conceitos, de desenvolvimento de algumas habilidades e mesmo treinamento de algumas técnicas requisitadas para o desempenho de atividades heurísticas e algorítmicas.” (FONSECA, 2005, p. 51).

Além desta questão, outro fator importante na EJA é que a matemática deve ser trabalhada de forma contextualizada em que os alunos possam situar o conteúdo aprendido numa situação que lhes faça sentido, permitindo assim com que eles possam compreender melhor este conteúdo. Desta forma, o professor deve ver o que é essencial, interessante e significativo para que se construa efetivamente o conhecimento.

Segundo Sohsten (2004), a administração das finanças pessoais é um dos assuntos mais discutidos na atualidade, uma vez que as constantes crises econômicas do país, as taxas de juros elevadas do mercado e, sobretudo, a ausência de Educação Financeira tem motivado essa discussão nos livros e noticiários atuais.

Para desenvolvermos a prática da gestão financeira e melhorar nossa qualidade de vida é preciso habituarmo-nos a planejar.

Será tão difícil aprender planejamento financeiro? Na verdade, não. O planejamento financeiro familiar – que também chamo de plano de independência financeira – não requer cálculos complexos nem grande habilidade com números ou calculadoras. Boa parte das ferramentas necessárias ao planejamento pode ser obtida sem custo e está pronta para ser usada em casa. Certamente, aqueles sem aptidão nem afinidade com números sentirão maior dificuldade, mas garanto que será apenas no começo. Traçar um plano com objetivos claros, segui-lo e acompanhar as metas aproximando-se é algo muito prazeroso. Muitos obstáculos de curto prazo são relevados quando se perseguem objetivos maiores de longo prazo (CERBASI, 2004, p.36).

Marques (2005) também questiona sobre a utilização da escola como instrumento de preparação do indivíduo para lidar com as finanças. De acordo com a autora,

Não somos adequadamente educados em casa ou na escola para lidar com o dinheiro e as questões financeiras. É um contrassenso que os currículos escolares não incluam fundamentos de finanças pessoais e de economia doméstica que nos ensinem, desde cedo, a lidar com algo tão valorizado em nossa sociedade como é o dinheiro. O dinheiro é muito desejável, em nossa sociedade, pois simboliza poder, autonomia, independência, conferindo, desta maneira, um certo status àqueles que o possuem (MARQUES, 2005, p. 19).

Nesta perspectiva, a educação financeira é um tema que está diretamente ligado a vivencia destes alunos, pois a todo momento eles estão em contato com as questões financeiras. Além disso, é notório que o cenário econômico atual possibilita ao cidadão um novo poder de compra, e que com essa tamanha facilidade de comprar, aumenta-se tanto o consumo, quanto o endividamento das famílias brasileiras. Sendo assim, esse público necessita de maiores orientações a cerca do dinheiro e sua melhor forma de aplicação, e também, entender que os cálculos matemáticos são fundamentais para auxiliá-los na resolução de problemas financeiros presentes no cotidiano.

DESENVOLVIMENTO: DESCRIÇÃO E ANÁLISE/REFLEXÃO DOS PROCEDIMENTOS DO PROJETO

Tema: A importância da matemática financeira no contexto da educação de Jovens e adultos

Conteúdos:

· Noções de função (conceito, representação gráfica);

· Função afim;

· Manipulação algébrica;

· Conhecimentos básicos de planilha eletrônica.

Turma: Educação De Jovens e Adultos do Ensino Fundamental II

Duração: 6 aulas

Objetivos: Verificar como os alunos da Educação de Jovens e Adultos lidam com as situações de cunho financeiro.

Recursos e materiais a serem utilizados:

· Planilha Eletrônica

· Calculadora

· Geômetra

· Laboratório de informática ou quadro digital ou sala com projetor de multimídia

Metodologia:

O trabalho deve ser desenvolvido em pequenos grupos, pois a grande maioria dos alunos da EJA que possuem mais de quarenta anos não tem conhecimentos de informática. Identifique quais alunos tem noções básicas de informática para distribuí-los nos grupos. Para motivar e introduzir o conteúdo peça para os grupos pesquisarem os seguintes assuntos:

· História do dinheiro

· Tarifas bancárias.

 · Empréstimo

· Empréstimo consignado

· CDC (Crédito Direto ao Consumidor)

 · Cheque especial

· Extrato bancário

· Consórcio

· Título de capitalização

Promover uma discussão com a turma sobre os assuntos que eles pesquisaram. Cada grupo apresenta o seu tema e, naturalmente, os alunos vão contando as suas experiências pessoais acerca do tema. É importante que o professor esteja preparado para esta discussão, pois neste momento surgem diversos questionamentos, principalmente aqueles relacionados ao cálculo de diversos serviços bancários. O site www.meubolsoemdia.com.br explica de maneira simplificada cada um dos temas acima e outros que podem ser incluídos caso seja necessário. Peça para os alunos providenciarem cópias de boletos de cobrança, contas de água, luz ou telefone, cartão de crédito e encartes de jornal com exemplos de financiamentos com parcelas.

Assim, as atividades propostas contemplaram estas questões com estudos de caso, leitura de textos, apresentação de vídeos, palestras com profissionais da área, informativos sobre impostos, pesquisas e situações reais, a partir de anotações dos ganhos e despesas desses alunos, para que eles verifiquem e analisem seu próprio orçamento financeiro pessoal e tenham conhecimento de como lidar ao se deparar com tais situações vivenciadas em relação a sua vida financeira. Além destas atividades, trabalhamos com a resolução de problemas relacionados ao tema explorando vários conteúdos matemáticos, tais como: adição, subtração, multiplicação, divisão, porcentagem, e juros.

Nas atividades desenvolvidas, sempre procurávamos explorar o cálculo mental e o raciocínio lógico dos alunos, a partir dos resultados obtidos por eles, comparávamos com os cálculos feitos pela calculadora e a partir daí eram feitas discussões com os alunos a respeito das suas conclusões.

Avaliação:

Avaliação é continua para que assim avaliar o processo de aprendizagem do aluno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao desenvolver as atividades na escola, pudemos perceber um grande interesse e entusiasmo por parte dos alunos, que encararam o projeto como uma oportunidade de mudança de vida. Muitos afirmaram, durante a realização das atividades, que se sentiam motivados a aprender, pois tinham pretensão de controlar suas vidas financeiras e após isso realizar desejos antigos, como viagens, casa própria, qualificação profissional, entre outros.

Na percepção do projeto das turmas trabalhadas na EJA, foi muito enriquecedor para os alunos estarem participando desse trabalho, pois no início achavam que sabiam tudo sobre educação financeira e com o desenrolar das atividades perceberam o quanto a disciplina é importante para este trabalho. A grande dificuldade dos alunos foi ao anotar seus gastos e ganhos, pois não tinham tempo, precisavam trabalhar e não conseguiam fazer tudo o que era proposto, mas depois que dividiram em categorias todos os seus gastos mensais e a calcular a porcentagem disso, já se empolgaram um pouco mais.

Tendo em vista que este trabalho encontra-se em fase de desenvolvimento, podemos perceber até o momento, que nosso objetivo inicial está sendo alcançado, pois esses jovens e adultos estão conseguindo enxergar a situação financeira em que se encontram, bem como conhecer seus direitos e deveres como consumidor, e, além disso, desenvolvendo formas de lidar com seus gastos e investimentos.

REFERÊNCIAS

CERBASI, Gustavo. Casais Inteligentes enriquecem juntos. São Paulo: Editora Gente. 2004.

FONSECA, Maria da Conceição F. R. Educação Matemática de Jovens e Adultos: Especificidades, desafios e contribuições. Coleção Tendências em Educação Matemática. 2ª ed. Belo Horizonte, Autêntica, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz, 27. ed., 1976.

MARQUES, Nerina Aires Coelho. Finanças na Família: Administração e Controle. Viçosa-MG: CPT, 2005.

SOHSTEN, Carlos von. Como cuidar bem do seu dinheiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004.

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