“Mas o que é mesmo o ensino da língua portuguesa no ensino fundamental.”

Por MIDIANE VENCESLAU DOS SANTOS | 12/02/2012 | Educação

“Mas o que é mesmo o ensino da língua portuguesa no ensino fundamental.”

 

John Anderson Macedo Santos[1]

Midiane Venceslau dos Santos[2]

            

O presente trabalho tem por objetivo provocar uma reflexão do que seja ensinar a língua portuguesa a falantes do português sempre levantando alguns questionamentos como: a concepção de língua, seu uso, a utilidade, os objetivos, enfim, a idéia é discutir o conceito que os professores têm a esse respeito e compará-las aos estudos teóricos especializados neste assunto como, por exemplo, os estudos de Ferdinand de Saussure que diz ser a língua dividida em duas, a formalista (estrutura e esquema) e a funcionalista (a língua em uso). Desta maneira, deveria o professor ensinar línguas ao invés de língua, sendo uma oficial (o padrão culto) e outra não-oficial (dominada pelo falante), em outras palavras, uma escrita regida por regras e outra falada, criada a partir da necessidade comunicativa sem considerar a forma?

  Segundo Saussure (1980, p.16) “A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro.” É neste contexto que começa, então, de fato a discussão em torno do ensino da língua uma vez que, após a década de 1970, passou a haver entre os intelectuais e estudiosos especializados no assunto, uma discussão mais profunda sobre a língua e seu ensino. A partir deste momento, surge uma corrente denominada lingüistas que farão críticas contundentes a respeito do ensino, do papel da língua, etc., e, proporão um novo modelo para o ensino, considerando esta dualidade entre a língua falada e a língua escrita.

 No caso do Brasil, estas mudanças passam a ser observadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), quando este estabelece como um dos seus objetivos garantir a formação básica comum. Para tanto, os PCN apresentam uma concepção de linguagem voltada para a interação e sempre estar associada a uma situação comunicativa real com os conteúdos iguais, porém, a sistematização e aprofundamento devem ser diferenciados. No caso da escrita os PCN irão prever não apenas os sistemas ortográficos e alfabéticos, e sim, o caráter discursivo, o sentido, compreensão, etc.

    Em meio a estes fatos, começam a ser problematizados os conceitos de gramática que ficariam assim divididos: a normativa, que seria um conjunto de regras que devem ser seguidas; a descritiva, um conjunto de regras que são seguidas, que permitem falar da língua, descrevê-la, dizer como é que ela funciona no processo comunicativo e mostrar como é que se fala e se escreve nessa língua; e por fim, a internalizada, conjunto de regras que o falante domina. 

     A ineficiência do ensino da língua portuguesa no sistema de ensino que prioriza, por excelência, o ensino da gramática com um fim em si mesmo e a não funcionalidade do método tradicional que coloca o professor de língua portuguesa como o único detentor do conhecimento referente ao uso da língua, revela a necessidade de buscar novas perspectivas pedagógicas. Isso porque o modelo tradicional adotado na escola possibilitou o surgimento da antipatia, por parte do aluno, não apenas ao estudo, mas á própria língua portuguesa contribuindo assim para a falência do sistema de ensino como um todo, pois as habilidades de escrita e leitura são indispensáveis para o desenvolvimento da reflexão nas demais áreas de conhecimento das disciplinas curriculares. Vale ressaltar a propagação do preconceito social que a escola através do preconceito lingüístico promove, fazendo com que dialetos menos prestigiados sejam considerados como errados; e o lapso cometido por inúmeros professores, principalmente os das primeiras séries, de não considerar a bagagem lingüística e cultural do aluno, promovendo assim uma ruptura entre a escola e a realidade. Neste contexto, Silva afirma que,

 Diante de tal situação os que defendem uma norma culta, padronizadora, a ser transmitida e controlada pelas instituições sociais para isso organizadas só podem apoiar-se na gramática ideal, compendiada com bases em dados arbitrários. Aqueles que partilham como princípio a defesa da diversidade lingüística brasileira como ponto de partida para o ensino da língua materna no Brasil se vêem sem um instrumento cientificamente preparado a partir do qual possa ser conduzido um trabalho pedagógico criador e enriquecedor para os estudantes e para a língua portuguesa na sua diversidade histórica. (1994, p-216)

 Assim, partindo do princípio de que a utilização da linguagem deve constituir tanto ponto de partida quanto de chegada, as atividades de escrita e leitura devem intentar ao desenvolvimento do aluno das habilidades de compreensão, reflexão e construção, e não estabelecer barreiras para o desenvolvimento dos mesmos. Uma vez que a democratização social presume garantia de acesso aos conhecimentos lingüísticos que são necessários a cidadania, o reconhecimento do aluno como cidadão e a valorização de seus conhecimentos prévios é agente essencial para o desenvolvimento do ensino da Língua Portuguesa. Compete à escola enfrentar os preconceitos lingüísticos, defendendo o respeito à diferença e extinguindo alguns mitos referentes à língua, com o intuito de conscientizar os alunos sobre a necessidade de adaptação da linguagem empregada ao contexto de comunicação.

           

 Referências bibliográficas:

 CARDOSO, Suzana. Língua: meio de opressão ou de socialização? In: Diversidade do português do Brasil: estudos da dialectologia. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1994.

 SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1980.

 

 

[1] Graduado em Pedagogia pela UNEB e graduando em História pela UFRB. Professor de História do Educação Básica no município de Valença/Bahia.

 

[2] Graduada em Pedagogia pela UNEB. Professora do Ensino Fundamental I do município de Salvador/Bahia.