Marrocos: o governo dominado por islamitas enfraquecidos por uma luta de poder com o palácio

Por Lahcen EL MOUTAQI | 13/07/2013 | Política

 A coalizão formada após a vitória inédita no Marrocos do Partido de Justiça e Desenvolvimento (PJD, islamita), nas eleições parlamentares de novembro de 2011, conheceu uma série de desafios ao longo destes dois anos. Seu principal aliado, o  Istiqlal,  Partido da Independência (conservador), foi oficialmente removido pelo jogo, terça, 9 de julho, abrindo o caminho para uma remodelação governamental, podendo antecipar as eleições se o PJD não conseguir uma outra  formação de substituição.

 Sobre os seis membros de Istiqlal detentores de pastas ministeriais, incluindo finanças, Mohamed El-Ouafa (da Educação); o único, ainda não tinha apresentado a sua demissão, terça-feira pela noite. Ele tem "24 horas" para fazê-lo, caso contrário, "ele será excluído" do partido, advertiu seu porta-voz,  Adil Benhamza, citado pela AFP.

 A crise iminente desde  meses

 A crise vem fermentando há meses. Apesar de uma vitória histórica nas urnas durante a "Primavera Árabe", os islamitas do PJD representado  pelo seu Secretário Geral, Abdelillah Benkirane, Chefe de Governo, nunca contou que de uma maioria relativa, forçando-os a construir uma aliança heterogênea com três outros partidos. Apesar disso as relações com Istiqlal logo se deterioraram.

 Em maio, este último partido, liderado pelo prefeito de Fez,  Hamid Chabat, anunciou sua decisão de retirar-se para denunciar a falta de ação e de consulta com o PJD. Muitos observadores marroquinos explicam a retirada do Partido de Istiqlal, acima de tudo, como um novo episódio, constituindo uma escura luta de influência entre o rei Mohammed VI e  um governo dominado por islamitas.

 "Se nós não podemos falar de uma coabitação francisada, mas sim de uma coabitação institucional, que não tem  base a não ser sobre uma ideologia compartilhada entre liberais e conservadores, sendo a monarquia busca exercer a arbitragem, diante dos islâmicos que tentam jogar nas margens", frisou o cientista político Mohamed Madani, professor na Universidade de Rabat. "Tendo que mostrar que o PJD tem dificuldades, reduzir sua margem de manobra, diz ele, porque mesmo se nenhuma reforma não for  lançada, há dois anos, os islâmicos continuam a ganhar a popularidade."

 A reforma social continua de forma estável

 Impelido pelo Movimentode  20 de fevereiro, nascido  na esteira da "Primavera Árabe", o palácio foi rápido a responder, organizando, em 1 de Julho de 2011, um referendo sobre uma nova Constituição, seguido em 25 de novembro de eleições antecipadas. Mas uma vez  "nós paramos lá", diz Madani.

 Nenhuma lei orgânica relativa à aplicação da Constituição saiu do papel, nenhuma data foi fixada para as eleições locais. E as reformas sociais consideradas urgentes permanecem no mesmo lugar.

 As dissensões aparecem  um pouco mais nétidas  com a crise egípcia. Enquanto o Ministério das Relações Exteriores marroquino revela em um comunicado publicado em 3 de Julho, a sua   "profunda preocupação com os recentes acontecimentos no Egito que levaram a destituição do Presidente eleito democraticamente pelo povo", o rei  dirigiu por sua parte uma messagem de "felicitação" ao novo presidente interino do Egito, Adli Mansour. Enquanto o chefe do Istiqlal, Hamid Chabat, chamou, Abdelillah Benkirane, para "tomar nota" da destituição  de seu "irmão e amigo” Mohamed Mursi

 Lahcen EL MOUTAQI

Professor

l.elmoutaqi@gmail.com