Mário de Andrade: olha para o poeta dos escravos, Castro Alves
Por luciana carneiro nunes | 17/05/2012 | LiteraturaMário de Andrade: olha para o poeta dos escravos, Castro Alves.
Haverá neste texto, ao correr da pena, a despreocupação com o espaço e a preocupação de não perder o raciocínio. Não há como negar que a importância de Mário de Andrade como conhecedor da arte moderna e da tradição. O crítico, que nele residia era um exímio escritor, poeta e intelectual que propunha mudanças e contribuía para as transformações na Literatura brasileira.
Analisar o poeta romântico, condoreiro e erótico Castro Alves, não seria uma escrita, a priore, bem louvada. O próprio Mário afirma isso em seu texto; “É bem desagradável a tarefa que me impuseram de estudar Castro Alves em fase do nosso tempo.” Justifica-se trazendo a contra argumentação que as tendência e aspirações de uma época podem se tornar defeituosas dentre de outra, ora um poeta moderno discutindo a poesia do século XIX.
Castro Alves ascende para a Literatura em um momento de modificação no cenário econômico político brasileiro. Com esse surgem os ideais democráticos e o estourar da revolta escravistas. Esse cenário perpetua historicamente a poesia dele, saindo um pouco do foco do sentimento pela natureza, cultivado no século XIX na estética romântica.
Mário de Andrade em seu texto deixa um pouco de lado a análise da geração em que Castro Alves se inseriu e dedilha de perto a escrita dela a poética. Não há como negar que na poesia de Castro Alves há musicalidade, uma vez que ele cantou a dor do negro. Porém o texto vem abordar, que há uma preocupação muito grande no texto de Castro em mostrar o social, deixando de lado a fala da linguagem, o encantar da palavra poética. A fala dentro de sua poesia é a defesa dele pelo sistema escravagista da época e Mário de Andrade situa essa afirmação dizendo: “ Não creio que a libertação dos escravos tenha libertado os escravos...que Castro Alves tenha dado a sua lira por essa causa me satisfaz, me orgulha e o exalta.”
Isso traz a pintura real do tipo capitalista da época, podendo ser percebida não na lírica amorosa, mas sim na vida dos escravos. Essa liberdade cantada ao negro seria um traço para comover o leitor do partido implantado, que habitava na classe dominante artística. “O escravocrata não é uma circunstância defeituosa da sociedade, é um criminoso feroz, um monstro vil. A igualdade humana não é uma necessidade moral, é uma conquista.”
Mário de Andrade em seu texto afirma que Castro Alves usa demais a fala, não deixando a palavra, linguagem falar. Com essa afirmação se constrói a imagem que a sua poesia não grita a melodia, nem traz a visão construída pelo poeta que sente a dor daquilo que pari. “A ausência da linguagem é o silêncio”. (Janilton Andrade). Um apurado levantamento crítico feito pelo pesquisador Mário acerca da musicalidade em Castro Alves sobre o estilo poético e musical, sendo este um ponto fundamental que o permeia, pois havia ainda interesse de Mário de Andrade pela musicalidade nas poesias brasileiras em outros poetas do seu tempo presente ou passado.
Mário em suas pesquisas descobre e fala, mediante comprovação, das afirmações que tece diante a obra de castro Alves. “Castro Alves é mais variado. Não varia assunto (lira de poucas cordas), porém varia o aspecto mesmo assunto pela imagem, I 74 e 88. É um auditivo, no entanto o menos musical, no sentido do som valendo o encanto do verso, dos românticos. Seu poder é puramente oral, é o sentido só das palavras, imagens, antíteses que vale nele. (I 82 314; II 17).” (transcrição diplomática).
Curioso de notar que sendo C. Alves um auditivo fortemente marcado, isso pode ser captado na sua poesia, fixou-se, no entanto o menos musical, no sentido de som valendo a volúpia do verso, que os outros grandes românticos. Pode-se notar a impropriedade de ritmo dessa poesia. Sendo como foi um discursador quase sempre nos seus versos o poder verbal dele é puramente oral. “Está longe, sobretudo da musicalidade objetiva ou poesia tal como a praticava G. Dias e da musicalidade natural de Varella ou de Casimiro”. Destacam-se com isso as inferências dos críticos, quando salientam o que há de maior na poesia dele, a preocupação social, deixando a crítica de Mário tomar ritmo; “ Quanto ao ponto de vista de poesia, Castro Alves tem, para os tempos modernos, um interesse já bastante histórico. Por três lados principais ele golpeou impiedosamente o seio frágil da deusa. Essa desvalorização da qualidade musical e sugestiva da palavra; pelo abandono do assunto geral em proveito do tema particular; a realização artística.”
A palavra em poetas mais antigos, Mário defende, sabiam empregar a palavra, “conservando a fluidez”, guardavam o valor da música, não sendo incompreensíveis do som musical, mas sabendo da força de sugestão e leveza intelectual de sentido. Para se captar o fenômeno poesia é preciso conservar as palavras com suas significações. Logo, não existirá poeticidade se não tiver seletividade. E não existirá poesia sem imagem e musicalidade.