Maracanã - o umbigo do mundo

Por Osorio de Vasconcellos | 06/07/2013 | Crônicas

Maracanã – o umbigo do mundo

Nas ruas, durante a Copa das Confederações, uma pequena parte da força popular pôs-se a reagir contra a força do sistema, enquanto outra parte, a parte majoritária, manteve-se omissa e conivente. 

Dessa configuração  depreende-se  a seguinte contenda:              

sistema x povo dividido.

Mesmo assim, isto é, mesmo lutando contra um adversário dividido, vale dizer, enfraquecido, o sistema estremeceu.

Atento aos acontecimentos Luca Matéria levantou algumas questões. Por exemplo: se o sistema estremeceu ao impacto de manifestações esparsas, facilmente  se desintegraria sob a pressão de uma greve geral.

Raciocínio este que encaminha o pensamento a um   segundo confronto:

Sistema vulnerável x povo enfraquecido.

Em outras palavras, como na lendária Siracusa, a espada de Dâmocles pende sobre o pescoço dos poderosos.

É por isso que o sistema não mede custos para manter sob feroz deslumbramento a parte inconsciente  da força popular.

E tome estádios de futebol. E tome batucada.

Os estádios de futebol vistos de cima lembram a figura de umbigos colossais. Lembram também o Oráculo de Delfos, uma escultura de mármore em forma cilíndrica, a que os antigos davam o nome de omphalós (umbigo em grego). Ali, por meio de uma pitonisa, os mortais obtinham resposta às suas indagações, e aliviavam o fardo da existência.

Coincidência ou não, é mais ou menos essa a função dos estádios  de futebol. Talvez falte esclarecer apenas que o papel da pitonisa, aqui, é desempenhado pela imprensa. Com seus prognósticos, palpites, tendências estatísticas, etc..

Mas como eu ia dizendo, no dia da decisão entre Brasil e  Espanha, um pouco antes do jogo, o sistema, suntuosamente instalado no umbigo do mundo – o Maracanã -  deixou bem claro que não pretende afrouxar o torniquete da fascinação.  

Sobre um imenso tapete verde, prodigamente estendido ao longo do gramado, cantou e dançou no melhor estilo dos espetáculos circenses.  Arranjos, coreografia, exaltação, carnaval, batucada,   tudo ali transpirava o repousante afago das ilusões recorrentes e a fadiga da abundância abstrata.  

Enquanto isso, lá fora, inconformados com tantas distorções,  jovens, moças e rapazes enfrentavam os rigores da tribulação, o atrito, o desgaste, as intempéries do clima e da cultura. Do sol, da chuva, e da polícia.

Ou, como diria Bilac:   lá fora, na ganga impura, ouro nativo a bruta mina entre os cascalhos vela.