Manoelismo Já!
Por Rodrigo Maruxo | 19/09/2008 | AdmSemana passada estava eu atrasadíssimo para um compromisso e recorri
aos serviços salvadores de um taxi. Em São Paulo taxi é muito caro se
comparado com o preço das corridas em outros estados, mas pelo menos
eles podem trafegar nos corredores exclusivos de ônibus e isso é um
baita diferencial para alguém que estava a ponto de perder a hora como
eu.
Ao entrar no veículo, ainda esbaforido e olhando para o
relógio, demorei em notar algo diferente no ar. Só aos poucos percebi
que não estava em um taxi comum.
O carro era muito limpo e tinha
um perfume muito agradável. Logo notei um revisteiro colado ao banco do
passageiro. Havia ali revistas da semana, dos mais variados assuntos.
Ao lado, balas e bombons à vontade em um baleiro super caprichado. Com
muita educação, após saber meu destino e sugerir a melhor rota para
chegarmos, o motorista me ofereceu os doces e, enquanto eu tirava o
papel da primeira bala (das muitas que chupei), questionou se eu
desejava ouvir música ou assistir a um DVD. Sim, havia um DVD instalado
atrás dos bancos do motorista e do passageiro com inúmeras opções entre
shows e documentários à minha escolha. Preferi dispensar a música e o
DVD, para conversar com ele. Definitivamente, não era um taxista comum.
Precisava entender esse cara melhor...
Manoel era um homem muito
simples, cursou o ensino médio, foi torneiro mecânico. Filho do meio de
uma família numerosa que, como tantas outras, deixaram o sertão para
tentar a sorte na terra da garoa. Vestia uma camisa bem passada, usava
gravata, calça social e sapato. Barba bem cortada, uma apresentação
pessoal impecável. Falava calmamente, sempre com um sorriso. Muito
educado, bem humorado e com um português melhor do que o de muito cara
com MBA que conheço.
Deu muito duro para ter um Taxi próprio.
Trabalhou em frota, trabalhou com carro emprestado, mas "chegou lá",
nos dizeres dele. Ele estuda por conta própria até hoje, com seus 56
anos. Atualmente está estudando alemão, já se vira no inglês e tira de
letra o espanhol. Não fez nenhuma escola de línguas. Sabe muito de
internet, engenharia civil, culinária e fala com desenvoltura de
agronegócio. Adora ler. Segundo ele, o conhecimento variado é bom pra
ter assunto com os "patrões", como ele chama os passageiros.
Ele
contou que sempre sonhou em andar de taxi, um sonho que o perseguiu até
sua idade adulta. Com muito esforço, certa vez juntou um dinheirinho
que ganhou numas horas-extras da fábrica e se deu um presente: fez sua
primeira viagem de taxi. Entrou empolgado, saiu decepcionado. O taxista
era mal educado, prepotente, não o tratou com respeito e, muito a
contragosto, levou-o até o bairro afastado onde ele morava. Mas ao
invés de sair de lá com a intenção de nunca mais botar um pé num taxi,
viu a história de outro ângulo. Se fosse ele o taxista e fizesse
diferente do que viu fazerem, com toda certeza teria muito mais
sucesso. E do sonho pra ação foram alguns anos se preparando,
planejando e batalhando.
Hoje em dia Manoel é concorridíssimo.
Tem agenda cheia. Seu telefone toca a toda hora com passageiros
precisando dele. São velhinhas, executivos, clientela fiel e variada.
Ele conhece a história de vida de seus "patrões", chama cada um pelo
nome e utiliza com eles o tratamento que cada um prefere - alta
adaptação ao público-alvo. Ele retribui tamanha fidelidade com agrados:
os passageiros ganham panetone no Natal e ovo de chocolate na Páscoa! E
entre uma data sazonal e outra, ele sempre deixa um bombom de despedida
para os chocólatras de plantão.
Ele tem uma política de
descontos progressivos. O passageiro que desejar participar do programa
ganha um cartão que ele carimba a cada corrida... A cada corrida, o
cliente vai mudando de categoria até se tornar Patrão VIP e obter
descontos ou até corridas grátis! O desconto que ele dá, ele negocia
com os fornecedores de autopeças, combustível, lava-rápido, tudo para
tornar a empreitada viável... Toda cadeia contribui para ele obter os
resultados e com isso todos ganham.
Pois é, meus amigos... Manoel é o cara.
E
todos podemos ser Manoéis também. Nem todos começamos a corrida juntos,
nem todos tivemos as mesmas oportunidades na vida, mas cabe a cada um
de nós a responsabilidade pessoal e intransferível de fazer a diferença
no pedacinho de mundo em que vivemos.
Seja na internet ou fora
dela, todo mundo pode tornar o seu negócio um negócio diferente e, na
diferença, ir muito mais além. Manoelismo já! Pra você e para mim.