Manifesto sobre a padronização do ensino e sobre o modo como..

Por Daniel Klain | 07/04/2017 | Educação

Manifesto sobre a padronização do ensino e sobre o modo como levamos as nossas vidas, diante de uma sociedade  com foco no crescimento tecnológico, econômico e industrial

Olá. Gostaria de falar sobre um assunto não muito questionado no cotidiano. Eu dei a ele a seguinte nomenclatura: a estruturação do conhecimento e a perda da criatividade. Então, já entenderam do que se trata? Sim, estou falando dos malefícios que a educação estruturada, a busca por conhecimento de forma estruturada, não diferenciada, generalizada, provoca na criatividade, na criação de ideias e no conhecimento autônomo. Vamos à dissertação.
Primeiramente, vou dizer de onde veio a minha inspiração para dissertar sobre isso. Ela veio de uma reportagem, do jornal G1, que retrata a história do desaparecimento de um jovem de 24 anos, morador da cidade de Rio Branco, no Acre, e que, curiosamente, deixou em seu quarto, depois de sumir, escritos, códigos, livros (com 14 volumes, ao total), quadros, estatuetas e muitas outras coisas intrigantes e, até agora, indecifráveis. Estranho tudo isso, não? O jovem era estudante de psicologia e também amava, assim como eu, a filosofia. Seu pensador favorito era o filósofo Giordano Bruno (XVl), pelo qual tinha profunda admiração. Ele é mais um daqueles "diferentes" que não se encaixam nas regras do contexto social atual. Era reservado, super-inteligente, criativo e determinado. Na fase da adolescência, como diz a reportagem que li, ele acabou se apaixonando pela leitura e pelos livros, nos quais dedicou boa parte de sua vida jovem, diferentemente da maioria, que curte bebida, festa, vodka e.. aquilo mesmo. Entre o período de 14 a 16 anos, disse à sua família que havia desperdiçado sua vida até aquele momento, afirmando que só praticou ações superficiais e irrelevantes, de maneira geral.
Mas, sem me aprofundar mais tanto na história do acrense Bruno, vou só complementá-la rapidamente, afinal ela está disponível pelas mídias para a leitura.
Então, os pais de Bruno viajaram. Ele, pois, no período em que seu pai e mãe estavam fora, organizou todo o seu quarto, de modo a expor suas obras, seus escritos e estudos sobre as paredes, o chão, os móveis, acredito que até sobre o teto. Mas, por que tudo isso? Qual é o objetivo dele? Não sabemos, ao certo, o porquê dessas coisas, pois o menino sempre contou muito pouco sobre seu projeto à família. Bom, mas deu de história, né... Afinal, por que dei este exemplo? Por que falei sobre este jovem? Citei sua história porque é uma ótima forma de evidenciar minha opinião com relação à padronização do estudo, à estruturação da busca por conhecimento, o que, na minha visão, adéqua o indivíduo à produção de capital e à adequação na sociedade, mas retira toda a sua criatividade, sua idéias e seus pensamentos. Em suma, a padronização e a estruturação do conhecimento retira, em grande parte, a capacidade de pensamento e conhecimento autônomo. O indivíduo criativo, com idéias em mente, as perde e não as põe em prática por causa do ambiente inadequado de ensino em que este é posto. Ou seja, as escolas, do mundo todo, de uma maneira geral, buscam moldar o indivíduo ao convívio social, ao serviço ao Estado, à nação, porém, ao fazerem isso, elas impedem que a imaginação e a capacidade de criação deste e de todo ser humano floresça. Incapacitam este indivíduo a ter suas próprias ideias, sem seguir uma linha linear de aprendizado.
Prezo e afirmo que o método mais eficiente de educar e fazer com que um ser humano se desenvolva intelectualmente é aquele em que a instituição fornece ao indivíduo o material de leitura necessário para o seu desenvolvimento próprio, autônomo, sem perdas de horas e horas em locais onde a bagunça, o barulho, as agressões físicas e verbais e o celular com fones de ouvido imperam sobre a sala, considerada, ainda hoje, de modo surpreendente e contraditório, local de adquirimento de conhecimento e de educação. Posso afirmar que recebi ótima educação nesses locais, pois foi onde aprendi palavrões e agressões verbais, e acabei usando este meu ótimo aprendizado em meu lar, com pessoas as quais devo toda a minha formação. Pois é, locais como esses, ditos a base de toda a sociedade, na nossa, a brasileira, são lugares onde se aprende a xingar e agredir. E, mesmo em outras sociedades mais desenvolvidas, como a Coréia do Sul, os estudantes, apesar de serem educados realmente e adquirirem conhecimento, os fazem de modo padronizado, linearmente, partindo da tabuada à geometria. Todos os alunos seguindo o mesmo ciclo de aprendizado, tirando conclusões semelhantes sobre fatos e perdendo suas idéias ao longo desse processo. A escola serve, acima de qualquer coisa, não para te fornecer conhecimento, e sim para te tornar agente contribuinte ao crescimento econômico, e é por isso que o Estado busca padronizar os nossos pensamentos, para que não hajam questionamentos com relação ao funcionamento do sistema, no intuito de deixar a conduta de crescimento capitalista imperar sobre a sociedade.
Por que vocês acham que os cursos mais concorridos e disputados nas universidades são os de medicina e direito, respectivamente? Simples. Ambos promovem uma rotina menos exaustiva diante do modo de crescimento capitalista, que, em hipótese nenhuma, pode parar, tem de continuar crescendo, avançando, e nós, os cidadãos comuns, somos as máquinas que fazem com que isto aconteça. Portanto, a maioria quer ser uma máquina que trabalhe menos e que possua uma renda mais alta, tudo isso em prol de uma qualidade de vida melhor para si, algo que todos buscam e sempre buscarão.
O modo de crescimento capitalista, claro, já nos forneceu mordomias admiráveis, como celulares e liquidificadores, mas, do mesmo jeito, nos exige muito mais do que nos fornece. Minha visão particular sobre economia, crescimento e tecnologia diz que isso é algo necessário, mas não deve ser tratado como prioridade, como é atualmente. Termos smartphones pode ser super legal, mas não é mais legal que viver mais e trabalhar menos. Tenho certeza que a maioria, se pudesse, trabalharia menos, descansaria mais e curtiria mais esta existência. Isto seria possível, se... o crescimento econômico não fosse mais importante do que as nossas vidas pessoais. Como digo muitas vezes, os Estados do mundo, aliados a empresas ambiciosas, desejam o crescimento e o enriquecimento próprio, não importando se a maioria dos Sapiens da Terra são felizes ou não, se passam fome ou não, se têm casa ou não.
Para completar este manifesto, queria voltar ao assunto que, em tese, era para ser o foco do que escrevi.
A padronização do conhecimento, estruturando-o linearmente, é errônea, pois, seguindo os estudantes por este ritmo, por este padrão, haverá a perda da criatividade destes jovens; sua ideias irão evaporar, ou ficarão bem escondidas, e o conhecimento autônomo e a criação de ideias fora do comum não vão surgir. Digo que todos nós, sendo todos da mesma espécie, possuímos mentes super criativas e capazes de feitos incomparáveis, desde que não venham governos para moldá-las e padronizá-las em prol dos seus interesses econômicos e políticos.