Manifesto contra o feminismo

Por Dan Teima | 04/03/2016 | Crônicas

Hoje, ao me acordar, senti que o dia seria maravilhoso, diferente de todos os outros. Mas não foi. Liguei a TV e enquanto tomava um café, assisti ao jornal da manhã. Como de praxe, muita violência. Em uma briga conjugal, uma mulher espancou seu marido e o colocou em coma. A indignação que senti me fez pensar: até quando as mulheres agredirão os homens por qualquer que seja o motivo? Desliguei a TV, escovei meus dentes e fui trabalhar. No caminho presenciei uma cena constrangedora. Um grupo de mulheres conversava em frente ao prédio onde trabalho, nesse momento, um rapaz que deveria ter seus quinze anos, também passava por ali. O rapaz estava bem-vestido, calçava um tênis maneiro, usava uma bermudinha jeans e uma baby look com um decote em V. Foi então que uma das mulheres soltou: “vem cá gatinho, vamos conversar”. Todas riram, mas o menino seguiu em frente, sem nem sequer olhar. “Eles gostam”e “que fresco, nem olha”, disseram outras duas. Elas continuaram rindo por mais um tempo. Tomei as dores do menino, mas não disse nada e entrei no prédio. Já no meu expediente, um amigo que trabalha comigo me procurou pra se queixar. Ele estava nervoso e não conseguiu segurar o choro. Em meio a soluços, me disse que a nossa patroa continua abusando dele. De novo a mão boba. Mais uma vez sofreu ameaças: “se abrir a bocano olho da rua”, “melhor não abrir o bico”. Ele não pode perder o emprego, tem um filho pequeno e é pai solteiro. A mãe abandonou-os quando a criança ainda era um bebê. “Não quero que meu filho passe pelo que passei” é algo que ouço muito, não só desse amigo. Conversamos mais um pouco e logo voltamos ao trabalho. No almoço fui checar e-mails, feed do face, whats. Advinhe: um homem foi flagrado e filmado com amante no motel. No vídeo, o homem é humilhado enquanto apanha da mulher. Puto, sem-vergonha, vagabundo. Viralizou. Se tornou o assunto mais comentado e compartilhado em todas as redes sociais. Só se falava na sua falta de vergonha, que homem desses não são dignos, não são pra casar. Claro, a violência ficou em segundo plano. Todas as críticas são para o vadio. Quando voltei do intervalo, já sabia o que me aguardava. O assunto era o “puto” do motel. Rolou todo o tipo de comentário. “Diz que vai jogar futebol, mas vai pro motel com outra”, “bem-feito, não se dá ao respeito”, “só colheu o que plantou”. Todos riam, homens e mulheres. Eu não acho engraçado, no fundo, tenho pena do indivíduo. Não defendo seu erro, mas com um pouco de empatia é possível imaginar o que ele vai ter que enfrentar de hoje em diante. Ser hostilizado por estranhos na rua, ser motivo de chacota. Não desejo isso pra ninguém. Chego em casa exausto, mais pelo que tive que engolir o dia todo do que pelo trabalho. Como algo, organizo umas coisas e sento no sofá pra assistir TV. Nada de jornal, chega de violência por hoje. Troquei várias vezes de canal até encontrar um programa humorístico. Talvez um pouco de risos possam aliviar meu estresse. Não, isso não aconteceu. Como tudo o que presenciei nesse dia, mais feminismo. No palco do programa, homens musculosos fazendo dancinhas sensuais só de sunguinha. A maioria das piadas eram em torno do homem: porque dizer que homem é burro, gordo ou feio é muito engraçado. Os humoristas eram mulheres em sua maioria, certamente. E não parou por aí. Na esquete que rodou logo em seguida, mais do mesmo: homens de corpos sarados realizando provas que enaltecem a silhueta masculina e os ridiculariza enquanto pessoas. Não vi graça. Desliguei a TV e peguei meu notebook. Decidi relatar minha indignação. Não vou mais só engolir sapos e ficar inerte. Por isso escrevo esse manifesto. Não é só um desabafo, é também um apelo. Por favor, ouçam o que os machistas têm a dizer. Please, considerem ao menos refletir sobre seus argumentos. Coloquem-se no lugar da pessoa do qual vocês criticam, riem. Um pouco de empatia não tira pedaço. O feminismo é algo tão impregnado nas nossas atitudes que as vezes nem conseguimos identificar. Eu sei que é difícil de mudar algo tão habitual. Mas acreditem, se colocar no lugar do outro antes de fazer algo que o envolva, além de ser simples, trará boas consequências pra todo mundo. Pensem.

Artigo completo: