Mais uma vez
Por Heloisa Pereira de Paula dos Reis | 08/06/2012 | CrônicasMais uma vez.
Estavam separados a tempo suficiente para que ela conseguisse ver a vida com outros olhos. Olhos de esperança, de certeza de um futuro melhor.
O amor do início, as boas lembranças, as promessas não cumpridas, as brigas marcadas pelas agressões físicas e verbais... Tudo tinha ficado no passado. Tudo e mais um pouco.
Mas como nada dura para sempre, um dia ele apareceu. De repente. Dizia-se saudoso das crianças. Frio, distante, deu a elas a atenção de sempre. Nenhuma.
O que realmente desejava era voltar para aquela casa, onde pensava ser o senhor, o dono de tudo e de todos.
Mas ela não tinha como aceitá-lo de volta... Não o queria mais em sua vida.
Diante de sua negativa ele reagiu como sempre. Com raiva e descontrole.
Tendo ao lado sua fiel companheira, a bebida, mais uma vez quebrou tudo que tinha sido comprado com tanto sacrifício. Ora, se ele não podia usufruir dos bens matérias, nem ela. Que ficasse sem nada e comprasse o que precisava. Com que dinheiro? A ele não interessava saber... Mas voltaria... Com certeza ela o veria outra vez.
O medo que a muito a tinha abandonado voltou. Sentiu-se novamente sem chão, desemparada, frágil diante da situação que a ela se apresentava.
Outra vez viu seus planos desfeitos, sua vida em mãos de alguém que pretendia não mais aparecesse em sua vida, que se fosse para sempre.
Ir à delegacia nem pensar. Da última vez ele ameaçou... “Vá até lá para ver o que acontece.” Não. Não ela iria. Tinha medo.
Foi falar do ocorrido para sua amiga e ouviu que tudo na vida passa. Que ela desse tempo ao tempo. Pensou tê-la confortado. Que nada.
Cabisbaixa voltou para casa e começou arrumar a desarrumação que ele havia deixado. Juntou os cacos e colocou no lixo da vida para serem levados sabe-se lá para onde.
Costurou os pedaços de sua vida fragmentada e partiu para um recomeço bem longe dali. Ela e seus filhos. A única coisa boa que ele havia deixado.
Seria difícil, mas sentia-se forte e consciente do que queria. Aprenderia a lutar contra o medo. Sabia que sua vida seria insuportável se não a enfrentasse com determinação.
Rezou. Pediu a Deus que a ajudasse e esperou calmamente a sua vez de ser atendida.
“Não vos preocupeis com o dia de amanhã. [...] A cada dia basta seu próprio fardo.” Mt 6,34