Maio de 1968: Revolta Estudantil Francesa

Por Joacir Soares d'Abadia | 08/06/2009 | Filosofia

Joacir Soares d`Abadia*

O filósofo francês Edgar Nahoum (1921-), conhecido por Edgar Morin, esteve em Porto Alegre no dia 14 de abril de 2008 para abrir a segunda edição do ciclo de palestras "Fronteiras do Pensamento". Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, orientada pelo jornalista Samy Adghirni o qual diz que Morin é um homem que dedicou a vida ao entendimento humano, Edgar refletiu sobre a crise moral que provocou o levante de 40 anos atrás, relacionando-a com as suas conquistas e suas conseqüências na atualidade. Falou-se também sobre uma das maiores mudanças mundiais das últimas décadas, a internet.

A Revolta Francesa de Maio de 1968 foi um evento estudantil e operário. Ele ultrapassou suas fronteiras, disseminando os valores que até atualmente norteiam uma parte considerada da modernidade ocidental, como diz o jornalista. Para o filósofo o denominador comum é uma revolta contra a autoridade do estado e da família. Em conseqüência disso, depois de 68 que os homossexuais e as minorias étnicas se afirmaram e o novo feminismo se desenvolveu. O que houve mesmo foi uma verdadeira crise da idéia de felicidade.

No entanto, diz que uma das maiores conquistas de Maio de 68 foi à afirmação da adolescência como entidade social autônoma. E o que ficou dessa conquista foi uma insatisfação por parte da juventude estudante privilegiada.

Os jovens de classes privilegiadas que desfrutavam de bens materiais preferiam buscar uma vida comunitária, num sinal de que o consumismo da sociedade ocidental não resolvia os problemas e aspirações humanas. Perdendo, assim, totalmente a crença num futuro melhor. Samy diz que para o pensador, desesperança e descrença no progresso trazidas pelos anos 90 desamparam atual geração e a empurram para um presente sem sentido. Já Morin diz que quando não há mais futuro, o homem se agarra a um presente desprovido de sentido ou ao passado: nação e religião. Diante disso, parte da população torna-se ultra-religiosa.

Por outro lado, os mesmo jovens que se vêem desacreditados frente a toda e qualquer possibilidade do futuro, são os que vivem em uma época em que se pergunta se a internet que foi um dos fatores cruciais da mudança mundial de sua década está afastando ou aproximando as pessoas.

Morin acha que a rede aproxima as pessoas. A internet, diz ele, tornou-se um sistema nervoso artificial que tomou conta do planeta; é um fato universal importantíssimo. Porém, se a internet não desenvolve a idéia da comunicação de destino da humanidade, terá apenas uma função limitada e parcelar.

Em suma, toda essa crise moral em que acarretou esta revolta de 1968 pode ser muito bem aplicada aqui no Brasil, onde a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) Lúcia Stumpf é a favor do homossexualismo, lesbianismo e, em conseqüência disso, do aborto. Para o jornalista Zuenir Aventura, espírito libertário de 1968 ainda chega a mobilizar centenas de milhares de pessoas em eventos como a parada gay em São Paulo. Maria da Glória Gohn, professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (SP), diz que no Brasil, em 2007 os estudantes criaram um protagonismo próprio ao ocupar reitorias em várias universidades do país em ato de oposição ao decreto que alterava a autonomia universitária. Assim, quando se valoriza estes contra-valores seja na França seja no Brasil "o denominador comum é uma revolta contra a autoridade do estado e da família" como disse Morin.

*Fez Filosofia e cursa Teologia no SMAB (Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília). É autor das obras: "Riqueza da humanidade ligadas ás relações interpessoais" e "Opúsculo do conhecer" (internet). Escreve para jornais de Formosa Goiás e de Brasília.