MACHADO DE ASSIS: MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS NA VISÃO DE ROBERTO SCHWARZ

Por Roseli Gonçalves | 16/01/2010 | Literatura

Ao estudar \literatura Brasileira Contemporânea percebe-se a presença de um autor que pode ser considerado fundamental no ponto de arranque no que se refere ao realismo no Brasil. Este autor é Machado de Assis, que começou escrevendo crônicas em folhetins até torna-se um grande romancista realista.

             Neste texto, será analisado um dos principais romances que Machado escreveu durante sua carreira de escritor, mas, primeiramente torna-se necessário para uma boa compreensão que se faça uma linha histórica do início de sua carreira como romancista até chegar na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, que é objeto de estudo deste texto.

            Machado de Assis desde suas crônicas apresenta-se disposto a fazer mudanças na literatura brasileira da época, que se encontrava envolvida e impregnada de elementos da estética romântica como o gosto por uma literatura com sentimentalismo exagerado, subjetivista e sonhadora. Neste ambiente literário brasileiro, o romancista inicia sua carreira escrevendo romance com objetivo de trazer um novo tipo de literatura e também modificar ou moldar um novo tipo de leitor. Com este projeto, chamado por Guimarães(2004. p. 125)   de anti-romântico, Machado escreve seu primeiro romance Ressurreição, seguido por A Mão e a Luva, depois por Helena até chegar em Memórias Póstumas de Brás Cubas.

            Nos primeiros romances de Machado de Assis observa-se ainda a presença de alguns elementos estéticos do Romantismo, como a presença de enredos de  romances apresentando sentimentalismo exagerado, sofrimento, morte do herói ou da heroína como na obra Helena que ao final prefere morrer a ser criticada por suas atitudes. É um romance que é narrado  de forma linear, ou seja, Machado de Assis não apresenta grandes mudanças.

            No entanto, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, percebe-se logo de início mudanças, elementos novos que não fazem parte do Romantismo. Primeiramente, quando se encontra como protagonista um defunto que, na condição de narrador conta sua história, utilizando digressões, fazendo com que o leitor conheça sua vida desde seu nascimento. Utilizando-se desta estratégia, Machado nos apresenta a sociedade da época do Império Brasileiro com um olhar critico e irônico por meio de um personagem que representa a classe burguesa.

            O leitor acostumado com romances que apenas traziam no enredo uma história de amor, drama, intrigas, herói e heroínas com características próprias do romantismo, ao ler Brás Cubas encontra um dilema, pois o romance não apresenta uma narrativa na qual encontre-se um herói com características  perfeitas e nem sentimentos que pudessem ser considerados elevados e nem mesmo uma heroína inocente, ingênua que viveria uma linda história de amor. Ao contrário, no romance encontra-se Brás Cubas protagonista e narrador de sua própria história de vida, Brás Cubas é um personagem defunto que faz uma reflexão de sua vida chegando a conclusão que não havia realizado nem um dos projetos que fez durante sua vida e nem vivido de forma plena um amor.

            Durante a narrativa percebe-se que o protagonista é “fruto” de uma família que apresenta desvio de conduta como o pai, o tio, que Brás Cubas descreve durante a narrativa a questão do próprio nome da família criado pelo pai somente para ganhar status na sociedade. Estes fatos são utilizados pelo personagem para justificar suas atitudes no decorrer do romance. Brás Cubas conta um fato que ocorreu quando criança, quando ele viu Vilaça e Dona Eusébia aos beijos saiu gritando no salão onde estava tendo uma festa. Seu pai, mostrando seu caráter fraco “ mas, no dia seguinte, ao almoço, lembrando o caso, sacudiu-me o nariz, a rir:- Ah! Brejeiro! Ah! Brejeiro!(  Memória Póstumas de Brás Cubas 2003 p. 36). Daí viria o caráter fraco de Brás Cubas, a sua inconstância, a sua falta de persistência , a falta de vontade de trabalhar entre outras características do personagem.

            Um fator importante ao analisar a obra é  perceber que em cada parte da narrativa contada pelo defunto ele tem um projeto ou tem uma história de amor que acaba não se  concretizando. Primeiramente foi o romance com Marcela, uma mulher interesseira que apenas extorquia dinheiro de jóias  de Brás Cubas, que logo a esqueceu. Depois, a Universidade em Lisboa, cursou, mas não se tornou um profissional de sucesso pela falta de dedicação nos estudos, temos também a Eugênia que era coxa, Brás Cubas a conheceu ,mas logo desinteressou-se dela pelo fato de ser coxa. Vigília que aparece no enredo como a principal mulher da vida de Brás Cubas, poderia formar um par romântico  com o personagem. No entanto, isto não era aparentemente o objetivo de Machado na obra, logo Vigília casa-se com Lobo neves e torna-se apenas amante de Brás Cubas.

            Esses acontecimentos dentro da narrativa ocorrem sem conflitos, intrigas, sem drama, sofrimento, isto faz com que a narrativa torne-se lenta e sem um ponto de chegada, escorregadia para o leitor, é como se na vida do protagonista nada fosse consistente, ele passa de uma fase de sua vida para outra sem finalizar a outra, sem entusiasmo, demonstrando sempre apatia, indiferença diante do fato ocorrido.

            Segundo Schwarz (2000, p.63) “A passagem de uma estação a outra se faz pelo fastio, imprimindo ao movimento a marca do privilégio de classe”. As características que Brás Cubas apresenta é basicamente as de um burguês da sociedade da época em que Machado de Assis escreveu o romance realista. Brás Cubas sonha em realizar-se, porém, a falta de determinação o faz desistir e não mereça que suas vontades se realizem.

            Machado de Assis consegue em sua obra dar uma nova forma ao romance, demonstrando sua independência da estética romântica, torna-se, portanto,  um dos principais romancista do Realismo e sua obra Memórias Póstumas de Brás Cubas como uma das melhores do autor.    

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas :São Paulo: Martin Claret, 2003.

 

GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de machado de Assis: o romance machadiano e o público da literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial, 2004.

 

SCHWARZ, Roberto. Um Mestre na Periferia do Capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades, Ed. 34, 2000.