Macbeth e sua ambição avassaladora
Por Gilmara Craveiro de Vasconcelos | 25/10/2012 | LiteraturaUNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UEVA
CURSO LETRAS HABILITAÇÃO LÍNGUA INGLESA
DISCIPLINA: PRÁTICA DE PESQUISA – MACBETH
PROFESSOR: MARTON GÉMES
ACADÊMICA: GILMARA CRAVEIRO DE VASCONCELOS
ARTIGO
Sobral – CE
2009
Macbeth e sua ambição avassaladora
O presente trabalho propõe comentários acerca do personagem Macbeth e de sua ambição na busca de ser bem sucedido em suas conquistas. William Shakespeare, em toda sua magnitude, aborda na obra em questão esse assunto de difícil compreensão haja vista a forma peculiar de reação do ser humano. No caso de Macbeth, grande guerreiro, portador de valores humanos e ensinamentos religiosos, nota-se a força da ambição e suas consequências destruidoras, derrubando a teoria de seus valores morais.
General promissor, dotado de atributos físicos e de coragem até certo ponto discutível, que embora acostumado a grandes duelos com adversários concretos e de força física brutal, acaba vencido por si próprio, tomado pelo desejo avassalador de poder. Macbeth demostra-se uma pessoa totalmente influenciável e invejosa, já que percebe-se nele uma vontade de ser verdadeiramente nobre e forte de espírito como Banquo, mas mesmo com essa ânsia de nobreza de espírito deixa-se levar pela ambição, importando-se apenas consigo mesmo e com sua sede de ganância.
MACBETH-... Ser rei assim, é nada; é necessário sê-lo com segurança. É muito grande nosso medo de Banquo; em sua postura soberana domina qualquer coisa que deve ser temido. E corajoso como poucos é a têmpera indomável do espírito une uma sabedoria que faz o valor no alvo acertar sempre. Tirante ele, não há pessoa alguma de quem eu tenha medo, e junto dele meu gênio se intimida, como dizem que como o de Marco Antônio acontecia, quando junto de César... (Ato III, Cena I)
Esse bravo lutador mostra-se vulnerável logo que aparece em cena, ao acreditar e absorver ferrenhamente as previsões de reles feiticeiras, mostrando que o desejo de se tornar Rei já vinha consigo independente de qualquer influência, e que o que essas bruxas de caráter duvidoso profetizaram era somente o que ele gostaria de ouvir para seguir em frente com seu plano maquiavélico.
“PRIMEIRA BRUXA- Viva viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Glamis! SEGUNDA BRUXA- Viva viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Cowdor! TERCEIRA BRUXA- Viva Macbeth, que há de ser Rei mais tarde!” (Ato I, Cena III)
Não satisfeito, Macbeth procura ouvir e saber mais sobre tal profecia já tomado de curiosidade e do desejo de ter sempre mais, embora saiba da condecoração que o espera pelo acontecido na última e sangrenta batalha ele ainda interpela.
MACBETH- Um momento, oradoras imperfeitas. Falai-me mais um pouco. Pela morte de Sinel eu fiquei thane de Glamis. Mas, Cawdor, de que jeito? Vive o thane de Cawdor, gentil- homem muito próspero; e ser rei ultrapassa os horizontes da crença tanto ou mais do que ser Cawdor. Dizei de onde tiraste tão insólita notícia e por que causa nos fizeste parar nesta charneca desolada, com saudações proféticas? Intimo-vos afalar. (Ato I, Cena III)
Casal unido, que a princípio tinha tudo para viver harmoniosamente e onde o amor predominava, foi tomado pelo desejo intenso de ser maior que todos, e acabou desfazendo os laços de afeto existentes entre eles e os tornando atormentados á ponto de roubá-los o sono. O apoio da esposa foi suporte para a conspiração mais audaciosa consumada por ambos. Porém o sentimento maléfico, a gana pelo poder era muito mais presente em Macbeth, que embora passasse a imagem de fraco, e era mesmo em certas ocasiões, estava de todo tomado pela luxúria. Macbeth passou a não precisar de ninguém para articular seus planos maquiavélicos, porém, sozinho só articulava, posto que sua covardia não o fazia capaz de por em prática, precisando assim fazer o papel de persuador levando pessoas fracas de raciocínio a fazer por ele o serviço sujo.
MACBETH- Sim, passais por homens no catálogo, como os perdigueiros, os galgos e os mastins, alãos e gosos, molossos, braços, dogues e rafeiros também de cães, por junto, são chamados; mas distingue o registro o vagoroso, o veloz, o guardião, o de bom faro, cada um conforme as próprias qualidades que lhe haja dado a liberal natura e que um túmulo à parte lhes granjeia na lista em que se encontram conglobados. Com os homens dá-se o mesmo. Assim, se tendes um lugar no registro, não sendo ele o mais mesquinho e vil da humanidade, falai, que então vos confiarei ao peito certo assunto, de cujo cumprimento resultará ficar vosso inimigo surpresso para sempre e vós mais presos à nossa gratidão e nosso afeto, pois também se ressente nosso estado da vida dele, e só se refará se vier a falecer. (Ato III, Cena I)
Os acontecimentos a seguir mostram que essa fraqueza de Macbeth havia sido vencida após ter enfrentado seus maiores medos e renegado seus ensinamentos cristãos, pois ao matar Duncan ele tinha consciência que percorreria um caminho sem volta, cheio de maldades e atos nocivos. Percebe-se então,que a partir daí Macbeth se encontra forte o suficiente para querer agir sem o envolvimento da companheira.
MACBETH- Não macules tua inocência ao saberes disso, minha pombinha, até saudares o ato. Vem, noite cega, tapa os olhos ternos do dia compassivo, e com sangrentas mãos e invisíveis rasga o grande pacto que me deixa tão pálido! Escurece; para a mata sombria voa a gralha. Vacila o claro agente, de fraqueza; mas a noite se atira para a presa. Admiras-te; mas fica sossegada, que o mal reforça a ação mal começada. Por favor, acompanha-me. (Ato III, Cena II)
Proteção essa de todo duvidável, pois quem ama de verdade não se deixa persuadir pela ganância muito menos ignora a doença da amada. Macbeth não só ignorou o devaneio da esposa, embora soubesse que essa loucura era conseqüência da armação dos dois e que ele era indiretamente culpado, como também a desprezou não se sensibilizando nem mesmo com sua morte trágica. O que reforça o pensamento de que ele não tinha mais nenhum tipo de receio e que sua ambição era maior que tudo e ele só precisava dessa ambição desenfreada para enfrentar a todos.
MACBETH- Devia ter morrido mais tarde; então, houvera ocasião certa para tal palavra. O amanhã, o amanhã. Outro amanhã, dia a dia se escoam de mansinho, até que chegue, alfim, a última sílaba do livro da memória. Nossos ontens para os tolos a estrada deixam clara da sua empoeirada morte. Fora! Apaga-te, por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muita barulheira, que nada significa. (Ato V, Cena V)
Mesmo assombrado por visões de Banquo, o qual covardemente mandou matar para levar adiante seu audacioso desejo de reinar sem maiores problemas, Macbeth parece continuar iludido com o sentimento de satisfação, cego de cobiça. Então, continua sua caça implacável a todo e qualquer que o ameace ou torne vulnerável sua burla soberania.
MACBETH- Derramando muito sangue já foi, nos velhos tempos, antes que a humana lei limpado houvesse o mundo dos pagãos, sim, e até mesmo depois têm sido perpetrados crimes terríveis de se ouvir. Já houve tempo em que, saltado o cérebro, morria de vez alguém e. tudo estava feito. Mas os mortos, agora, se levantam com vinte fatais golpes na cabeça e de nossas cadeiras nos empurram. E mais estranho do que o próprio crime. (Cena IV, Ato III)
O que a natureza determina até pode ser alterado, mas é muito difícil que reverbere. Macbeth até conseguiu inverter a ordem da natureza e reinou por algum tempo, mas o preço como mencionado anteriormente foi muito alto, fazendo de sua esposa preciosa uma louca suicida e de si próprio um atormentado e assassino Rei. Ainda obcecado por esse pensamento, o de ser invencível, Macbeth dizima a família de Macduff ao saber que o mesmo planejava enfrentá-lo, desencadeando aí o início do fim, posto que Macduff “o que não foi nascido de uma mulher” como havia sido previsto, acaba vencendo e pondo fim a vida desse fugaz Rei coroado pela força da ambição e entregando o trono a quem de fato pertencia.
MACDUFF- Salve rei! Pois que o és. Olha onde se acha a cabeça maldita do tirano. O mundo já está livre. Ora te vejo cercado pelas jóias de teu reino, que saudação te enviam do imo peito e a cujas vozes associo a minha: sê feliz, Rei da Escócia! (Cena VII, Ato V)
Geralmente, o ser humano tem predisposição a prosperar, o que é natural, na busca de condições melhores de vida. Entretanto, é preciso lutar em busca dos objetivos, mas de forma coerente, visto que uma verdadeira conquista não chega pronta a mão humana. Sendo assim, pode-se aplicar este argumento a Macbeth, pois se tivesse agido dessa forma, poderia ter conquistado sua meta de ser reconhecido como nobre. Não seria necessário cometer atos maquiavélicos e agir com ambição. Este sentimento pode ser saudável quando a busca aos objetivos não prejudica a outros. Ao que parece, Macbeth não agiu dessa forma. E seu fim, foi além de sua morte, foi sua destruição moral, derrubando sua teoria avassaladora.
Conclusão
A obra em questão é dinâmica. Os fatos acontecem rapidamente e a compreensão pode ser considerada fácil. Shakespeare em Macbeth nos leva a pensar como a possibilidade de ter poder mais que todos pode transformar pessoas, pois essa cegueira de valores causada pela possibilidade de ser soberano (a qual assolou Macbeth), é passível de acontecer a qualquer ser humano,independente da época em que se vive,ultrapassando a barreira do tempo e da razão.
Portanto, conclui-se com este estudo, que Macbeth, em sua trajetória, foi principalmente persuadido por suas próprias idéias enganosas. Seu desejo de ganância e sua inveja prejudicou a si mesmo e aos demais na obra.
Referências Bibliográficas
SHAKESPEARE, William. “Macbeth.”
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2341
Shakespeare Essencial - EntreClássicos no. 2 - Shakespeare. São Paulo: Série Especial da Revista EntreLivros, 2007.