Má-Fé na Obra ''O Ser e o Nada'' de Jean-Paul Sartre
Por Carlos Henrique Catuaba de Oliveira | 03/10/2017 | FilosofiaINTRODUÇÃO
A má-fé é um tema apresentado pelo filosofo francês Jean-Paul Sartre em sua obra “O ser e o nada”.
Antes de adentramos propriamente na questão da má-fé, concluímos para melhor desenvolvimento da pesquisa ser necessário obter uma compreensão maior do que seria o ser para Sartre. Tendo assim o “ser” como primeiro foco de estudo perceber-se que o filosofo não se aprofundar propriamente no assunto do ser, mas o confronta com o não-ser, demonstra suas distinções, relações e o que de fato são.
Assim temos a má-fé como uma crença em algo irreal, criada pelo ser que busca um bem-estar. Por ser algo irreal muitas vezes é confundida com a mentira, por possuírem características semelhantes, no entanto são duas realidades completamente diferentes. A dualidade, enganado e enganador não faze parte daquele que age de má-fé, temos apenas um individuo em questão.
Aprofundando-se mais no tema serão também apresentadas, algumas relações conceituais que auxiliam na compreensão da má-fé, pelo fato de o filosofo estudado possuir compreensões particulares de determinados conceitos. Por ultimo será apontado uma função ou utilidades daquilo que se denomina má-fé.
MÁ-FÉ: FUGA DO SER
O ser para Sartre
Para que se possa compreender melhor a má-fé, é necessário que se tenha em mente como Sartre vê o ser e suas relações. Assim, este capítulo tem essa intenção, a de introduzir brevemente como Sartre interpreta e analisa o ser.
O foco da filosofia de Sartre é a relação entre o ser e o não-ser (“Ser e o Nada”). Porém, não se pode falar muito sobre o ser em Sartre, pois este não trata muito sobre o ser em sua obra, mas tem destaque fundamental o não-ser.
O ser é em si mesmo, pois não pode haver nada anterior a ele, “[...] é o S. [ser] do fenômeno que não seria nem possível nem necessário, mas simplesmente existente” (ABBAGNANO, 2007, p. 1051). Portanto, o ser é indeterminado, é imediato e relaciona-se somente com si e nada mais:
O ser é supérfluo... consciência absoluta que não pode derivar o ser do nada, nem de outro ser ou de uma possibilidade, ou até mesmo de uma lei necessária. Não criado, sem razão para ser, sem nenhuma conexão com outro ser, o ser-em-si é o de mais para a eternidade (SARTRE Apud COX, 2010, p. 22).
O não-ser é um ser, cuja tarefa é negar eternamente o ser-em-si, é dependente do ser, é subsequente ao ser e nele encontra concretamente a sua eficácia, pois o não-ser nega o ser e possibilita o conhecimento deste. Assim, o não-ser tem que ser, tem que atingir o seu ser como negação do ser-em-si e chama-o de para-si. Porém, o para-si deve lutar para não se confundir com o em-si. A confusão entre o ser-em-si e o ser-para-si seria um estágio desejado, mas irrealizável para Sartre, pois o não-ser existiria positivamente com o ser, deixando sua tarefa de negação:
Para evitar um colapso de volta ao ser [...] o para-si tem que ser ambos, uma afirmação negada e uma negação afirmada. A afirmação que é negada é o ser-em-si; a negativa que é afirmada é a negativa do si como para-si-em-si. Incapaz de ser um ser determinado no si, como um ser ou não-ser, o para-si tem que ser o ser ambíguo, indeterminado e paradoxal (COX, 2010, p. 24).
Tendo conceituado o ser e o não-ser, Sartre continua dizendo que só pode existir projetos em “[...] um ser que é aquilo que não é [...]” (COX, 2010, p. 26), pois não é um ser definido e possibilita as inúmeras possiblidades de ser. Portanto, a liberdade de Sartre está baseada na noção de que todos são “[...] um para-si em relação ao em-si [...]” (COX, 2010, p. 26), pois não há essência alguma, além da que pode ser criada e escolhida.
Este conceito remete ao da consciência, que para Sartre é nada mais que uma negação do ser. Segue-se então que o ser-para-si é o ser da consciência. E como o próprio não-ser, a consciência é nada, ela é apenas em vista de algo, uma consciência de alguma coisa, voltando-se assim para o ser-em-si, ou seja, para o que ela não é. E a partir da consciência percebe-se a liberdade do homem.
A consciência da liberdade humana causa angústia, pois se abre a oportunidade de escolha entre muitas possibilidades. Para se livrar dessa angústia, o homem utiliza-se da má-fé, onde ele associa-se a uma imagem criada do em-si, mentindo para si mesmo, em busca de uma fuga da liberdade proporcionada pelo para-si na relação com o em-si...