LUTO, MORTE E CUIDADOS PALIATIVOS NO ÂMBITO DA PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA.
Por Maluma Aguiar Marques | 01/11/2016 | PsicologiaLUTO, MORTE E CUIDADOS PALIATIVOS NO ÂMBITO DA PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA.
Maluma Aguiar Marques
INTRODUÇÃO
O presente trabalho fará uma explanação dos temas morte, luto e cuidados paliativos, discutindo problemáticas, além de apresentar a importância do profissional de psicologia nessa vivência das pessoas, abordando a subjetividade e o enfretamento de cada ser humano. Sabemos que a morte coexiste em nós desde o nascimento, entretanto, tendemos a exclui-la, não aceitando essa condição humana, condição essa, que até os dias atuais é considerada um tabu social.
Esses temas nos remetem a momentos de sofrimento e tristeza, porém são momentos cotidianos na vida de qualquer pessoa. Pois a única certeza que temos é que a vida é contrária à morte e que nenhum ser humano é imortal.
LUTO
O luto é vivenciado não apenas como uma consequência da morte, mas também de perdas, seja perda um ente querido, de um emprego, separação, de um objeto, perda da saúde ocasionada por doença crônica, enfim luto é advindo daquilo em que perdemos e consequentemente sofremos por essa perda.
Faz-se necessário vivenciar o processo do luto, que é divido em cinco estágios, que serão citados mais na frente. O processo existe uma sequência de estágios, porém as pessoas não necessariamente têm que passar por esses processos nas ordens, ou em todas as fases, mas o luto é vivenciado em pelo menos em duas fases.···.
A psiquiatra, Elisabeth Kubler- Ross dividiu o processo de luto em cinco fases, que são eles:
Fase 1: Negação
Seria uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo acaba negando o problema, tenta encontrar algum jeito de não entrar em contato com a realidade seja da morte de um ente querido ou da perda de emprego. É comum a pessoa também não querer falar sobre o assunto.
Fase 2: Raiva
Nessa fase o indivíduo se revolta com o mundo, se sente injustiçada e não se conforma por estar passando por isso.
Fase 3: Barganha
Essa é fase que o indivíduo começa a negociar, começando com si mesmo, acaba querendo dizer que será uma pessoa melhor se sair daquela situação, faz promessas a Deus. É como o discurso “Vou ser uma pessoa melhor, serei mais gentil e simpático com as pessoas, irei ter uma vida saudável. ”
Fase 4: Depressão
Já nessa fase a pessoa se retira para seu mundo interno, se isolando, melancólica e se sentindo impotente diante da situação.
Fase 5: Aceitação
É o estágio em que o indivíduo não tem desespero e consegue enxergar a realidade como realmente é, ficando pronto para enfrentar a perda ou a morte.
O papel do psicólogo é fazer com que o paciente vivencie o luto e que ele se permita a enfrentar o sofrimento, o psicólogo também pode acompanhar e ajudar o paciente que se encontra preso alguma fase do processo.
MORTE
O que a morte é exatamente? O que este ser/situação traz consigo? O que vai acontecer conosco quando morrermos? São perguntas como estas que nos fazem refletir sobre a nossa existência e, principalmente, sobre a nossa finitude.
Ernest Becker, no livro A Negação da Morte, nos traz a ideia de que o que é constante não é o viver e sim o não morrer, que acaba por refletir a negação de qualquer ideia de morte. O autor nos explica que o princípio básico de qualquer ser vivo é o de não morrer, portanto, nosso movimento é voltado para afastar qualquer coisa que nos aproxime da morte, seja o risco real de perder a vida ou a simples ideia de morrer. Para Ernest Becker a negação da morte é algo tão constante que até nos momentos em que não paramos para pensar no assunto, ela se faz presente.
Na idade média a morte era algo comum e constante, no sentido de vir com mais rapidez, devido aos cuidados de saúde e conhecimentos medicinais precários e até na demonstração de força do “estado” para com o povo, que vinha por meio de enforcamentos, cremações etc. Hoje o avanço tecnológico e medicinal nos veste uma fantasia ilusória e fantástica de que a morte sempre pode ser adiada. Sempre vai haver uma medicação que vai nos dar um dia a mais de vida e que, portanto, não devemos no preocupar com o assunto. A própria correria do dia-a-dia também contribui com esta fantasia. Estamos ocupados demais para nos preocupar com qualquer coisa, e o nosso próprio eu se inclui nessa categoria. Uma falta de tempo que se reflete em todas as nossas relações, sejam elas amorosas, espirituais e até familiares. “As famílias perderam também a capacidade de falar aberta e livremente sobre as questões espirituais.” (JUNQUEIRA; KOVÁCS, 2008).
Hohendorff e Melo (2009) nos trazem as interpretações da morte em cada etapa da vida. Na infância, a criança vive uma incerteza/incompreensão com relação à morte, não só pelo fato de ela ainda não conseguir entender, em toda a sua amplitude, as consequências da morte de alguém próximo, mas também devido ao próprio adulto não deixar claro para ela o que é a morte. O adolescente, tão forte e imortal, está preocupado demais em viver o auge de sua juventude. Nada pode atingi-lo. Logo, a morte não faz parte da lista de assuntos para conversar com os amigos. O adulto, tão preocupado com o seu trabalho, já vê a morte com um certo medo e angústia. Como vai ficar a sua família, se por acaso ele vir a falecer? E os seus planos, sonhos e objetivos, que ele está começando a ter um contato, como fica? A morte para o idoso já é vista como algo próximo e comum. Parece que nesta idade a morte é mais fácil de ser aceita.
O fato é que nunca estaremos preparados para lidar com a morte. Não é e nunca vai ser fácil estar próximo a ela. A morte de alguém próximo sempre vai ser um baque e isso vai abalar toda a nossa estrutura. Portanto, debates sobre o tema tanto no âmbito de instituições de ensino quanto no ambiente familiar se faz necessário.
CUIDADOS PALIATIVOS
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, ”Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria na qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alivio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”. (INCA)
O paliativismo preconiza a aceitação da condição humana frente à morte, oferecendo ao paciente fora das possibilidades de cura, aos seus familiares e amigos, as condições necessárias ao entendimento de sua finitude, pois, nesta perspectiva, a morte não é uma doença a ser curada, mas o fim do ciclo vital. Desse modo, as práticas ao final de vida devem priorizar o melhor interesse do paciente, respeitando seus sentimentos, os desejos de seus familiares e a adequada comunicação entre todos os envolvidos no processo. (MELO, VALERIO e MENEZES, 2013).
Segundo o ANCP, no Brasil ainda impera muito desconhecimento e preconceito com os Cuidados Paliativos, principalmente no âmbito médico, hospitalar e jurídico. Ainda são poucos os serviços ofertados no Brasil, seguido pela falta de critérios científicos e de qualidade. E notório, que tais cuidados requerem uma atenção, técnicas e sensibilidade, uma vez que o paciente e a família estão fragilizados e sensibilizados pela doença. Trata-se de um momento muito delicado, onde esse cuidado sendo feito da forma correta, fará toda diferença no tratamento.
O papel do psicólogo nos Cuidados Paliativos é ofertar uma melhor qualidade de vida e a escuta diferenciada. Esse cuidado requer respeito, confiança, liberdade, acolhimento e livre expressão de seus sentimentos, angustias e desconfortos advindos da doença ou não.
Princípios no âmbito psicológico:
- Promoção e controle da dor e de sintomas causadores de estresse;
- Assistência e orientação sobre a morte como um processo natura;
- Suporte familiar;
- Garantia da autonomia do paciente;
- Integração dos aspectos clínicos com dimensões psicológicas, familiares, sociais, espirituais e ocupacionais;
- Fomento à importância da união da equipe multidisciplinar para efetividade no cuidado integral as necessidades do paciente;
- Garantir maior qualidade de vida durante o tempo que restar ao paciente;
- Auxiliar a equipe no controle do desgaste profissional e emocional durante a relação paciente-família-equipe, através de uma comunicação eficiente e humanizada;
- Conhecimento dos medos e anseios do paciente e o suporte pautado em medidas de assuntos emergentes como despedidas, agradecimentos e reconciliações.
REFERENCIAS
SCIELO - http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n9/v18n9a28.pdf
HODENDORFF, J. V; Melo, W. V. Compreensão da Morte e Desenvolvimento Humano: Contribuições à Psicologia Hospitalar. Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ, ano 9, n° 2, p. 480-492.
JUNQUEIRA, M. H. R; Kóvacs, M. J. Alunos de Psicologia e a Educação para a Morte. Psicologia, Ciência e Profissão, 2008, 28 (3), p. 506-519.
BECKER, E. A Negação da Morte: Uma Abordagem Psicológica sobre a Finitude Humana. Rio de Janeiro. 2013. Record. 6° ed.
PORTAL EDUCAÇÃO – Cuidados Paliativos: atuação do psicólogo com pacientes terminais. http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/67326/cuidados-paliativos-atuacao-do-psicologo-com-pacientes-terminais
INCA - Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=474
MELO Anne Cristine de; VALERO, Fernanda Fernandes e MENEZES, Marina. A intervenção psicológica em cuidados paliativos. Psic., Saúde & Doenças [online]. 2013, vol.14, n.3, pp. 452-469. ISSN 1645-0086
ANCP – Associação Nacional de Cuidados Paliativos.http://www.paliativo.org.br/ancp.php?p=oqueecuidados