LUTERO E O RENASCIMENTO EUROPEU
Por Werner Schror Leber | 18/05/2020 | FilosofiaEntre as várias facetas que o Renascimento açambarca, como o Humanismo, as descobertas da física e da astronomia, a consagração da estética laica, encontra-se também o surgimento do protestantismo, cujo representante mais lembrado é Martinho Lutero. Até que ponto Lutero é um moderno? O modernismo europeu é a passagem do Medievo à Era Moderna, que, via de regra, tem seu início no que denominamos Renascimento, cujo período estende de meados do século XV a meados do XVII. Há um rompimento com uma mentalidade e o nascimento de uma outra maneira de pensar, disse. Será? Veremos. Constata-se que a principal característica da modernidade, tendo como pressuposto que é o Renascimento que a inaugura, passa a ser o rompimento com o legado religioso longamente arraigado na tradição de pensamento dos europeus. Em linhas gerais isso significa rompimento com a base teológica da principal Instituição Religiosa Ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, o que pressupõe incluir também com a Igreja Católica Ortodoxa, cujo rompimento com Roma data de 1054. A forma como a teologia se arquitetou entre a filosofia aristotélica e toda argumentação teológica nessa Instituição, e que incumbiu os magistrados da Igreja a se portarem como representantes do Logos Encarnado (a Revelação), é a crítica do pensamento moderno bem como também a crítica de Lutero. Já de antemão diremos que Lutero situa-se na modernidade à medida que se põe contra a hierarquia tradicional do cristianismo, mas mantém medieval, à medida que mantém a religião, e não a ciência, como centro de interesse da humanidade. A intelectualidade e a erudição não era o forte de Lutero. Lutero era mais um pastor do que um teólogo especulativo. Não seria justo compará-lo a Caetano, Santo Tomás ou João Calvino. Mas mesmo assim ele percebeu que cristianismo, teologia e igreja são coisas bem distintas. Sobre isso se assentará a sua crítica. O Renascimento é um movimento de mudanças na forma de pensar, proporcionado pela eclosão de descobertas científicas e tecnológicas, que balançam com a velha ordem onde, digamos assim, os sacerdotes, eram os atores principais (ARANHA e MARTINS, 2005). Dizendo de outro modo, o Renascimento, entre outras coisas, modifica a perspectiva de intermediação entre crente e Deus, que o cristianismo medieval consagrou como tarefa exclusiva da Magistratura Eclesiástica (TILLICH, 2004).1 Bem, sejamos sinceros, o Renascimento é, grosso modo, um movimento intelectual contra “Deus” e contra toda teologia. Isso Lutero sabia bem. Queria manter a religião cristã e sua respectiva fé como relevante. No entanto, não queria mais o modelo hierarquizado em as questões religiosas, cristãs e teológicas se desenrolavam. Toda aquela questão luterana “Sola Fide Sola Gratia” (Somente a fé e a Graça) é uma revolta contra o monopólio religioso e a mistura perigosa entre Igreja e Governo que se estendia desde Carlos Magno (800 d.C) até o século XV. [...]