Lula, O Eterno Keynesiano

Por Alexsandro Rebello Bonatto | 01/12/2008 | Economia

         Nosso querido presidente com sua capacidade incrível de explicar questões complexas de forma bastante simples, nos brindou com outra pérola, desta vez sobre causas de uma recessão. Disse ele num discurso em 26 de novembro de 2008: “- O sujeito ouve crise no café da manhã, crise no almoço, chega em casa ouve crise no jantar. Aí o sujeito se assusta e não acaba por não comprar mais nada. Como cai o consumo, a indústria não produz, porque não produz, acaba demitindo. Aí sim temos crise.”

         Sem dúvida uma explicação de uma eloqüência ímpar. Contudo, é bom lembrar que tal explicação econtra amparo técnico em Keynes e sua crítica ácida sobre a forma que os clássicos viam a recessão e suas soluções.

         Vamos aproveitar a fala do nosso presidente e voltar ao bom e velho livro texto. Segundo os clássicos as famílias consomem parte da sua renda e poupam o restante. Se os consumidores decidirem poupar mais, a demanda por bens e serviços cai, mas isso é contrabalançado porque os empresários simplesmente investem mais. Mas como isso acontece? Quando as pessoas poupam elas utilizam um banco para remunerar suas aplicações. Os bancos por sua vez emprestam esses recursos aos empresários. Num cenário de aumento da poupança, o banco terá muito mais fundos para emprestar, por sua vez ele reduz o custo que é cobrado de quem toma dinheiro emprestado – a taxa de juros. Se os juros caem, os empresários tomarão muito mais dinheiro emprestado já que mais projetos se viabilizarão. Assim com mais investimento sendo realizado, o dinheiro acaba chegando ao bolso do cidadão e todos vivem felizes para sempre.

         Keynes achava toda essa explicação uma falácia. Existe até a história seguidamente repitida, que quando os funcionários do Tesouro Britânico recomendavam paciência e prometiam a recuperação da economia no longo prazo Keynes respondeu em seu Tract on Monetary Reform: “A longo prazo todos nós estaremos mortos”. Mas isso é outra história. Vamos voltar à nossa análise da recessão.

         Sobre a visão dos clássicos, Keynes refutou a ligação entre poupança e investimento: as famílias e as empresas poupam por razões completamente diferentes. Uma família pode poupar por hábito ou por uma razão específica – velhice, talvez. Já as empresas mudam seus planos de investimentos baseadas na política, na confiança, na tecnologia, na taxa de câmbio, ou simplesmente em qual time ganhará o Campeonato Brasileiro deste ano. Esperar que apenas a taxa de juros traga harmonia para o mercado é insensatez. Se a poupança das famílias exceder os investimentos privados, os excedentes realmente aparecerão, só que acabaram levando os empresários a demitir, trazendo o consumo a um patamar ainda mais baixo.

         Numa recessão, como é o atual cenário mundial em novembro de 2008, as empresas cortam investimentos gerando desemprego e nova queda no consumo, ou seja, agravamento da recessão.

         Um ponto interessante é que o pessimismo das famílias e das empresas é uma profecia que sempre se auto-realiza. É por isso que o presidente americano Dwight Eisenhower implorava à população que fosse às compras durante a recessão de 1958. Mas comprar o quê? Qualquer coisa, dizia ele. Da mesma forma, o governo brasileiro nos últimos dias têm repetido o mantra que comprar é bom, que a população não reduza seu consumo e que as empresas não desistam de seus planos de investimento.

         Portanto, da próxima vez que você ouvir uma parábola do Lula sobre consumo e investimento, não se esqueça, ele pode estar citando – mesmo sem saber – os postulados da economia keynesiana.

Bibliografia:

Buchholz, Todd G. Novas Idéias de economistas mortos; tradução de Luiz Guilherme Chaves e Regina Bhering. Rio de Janeiro: Record. 2000.

 

Por Alexsandro Rebello Bonatto em 28 de novembro de 2008.

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