Longevidade e Felicidade no Matrimónio. 45º Aniversário: Ermezinda-Diamantino

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo | 10/08/2016 | Crescimento

A sociedade moderna, ou como já muita gente prefere dizer, pós-moderna, tem vindo a adotar princípios e valores que conduzem a sentimentos, e atitudes diferentes, de há algumas décadas atrás, porque é natural, e até desejável, que se verifique uma evolução positiva, desde que para o bem-comum, todavia, é extremamente difícil, conjugar todos os interesses que cada pessoa, cada grupo, cada comunidade e cada país preferem, para o seu próprio bem-estar.

Hoje em dia, primeiro quarto do século XXI, o mundo vive em quase permanente “crispação”, pelos mais diversos motivos e conveniências, de tal forma que, praticamente, não se olha a meios para se atingirem os fins. A violência grassa um pouco por todo o lado, e os seus expoentes máximos verificam-se no tráfico de seres e órgãos humanos, na comercialização e consumo desenfreados de drogas cada vez mais sofisticadas e mortíferas, no terrorismo que se vai generalizando um pouco por todo o mundo, entre outros males.

É neste contexto que vivem as famílias atuais: quer as que se constituíram; quer as que desejam organizar-se, certamente, porque será esse o objetivo da maioria das pessoas, e a Lei Natural nos impulsiona para esse desígnio que, quando realizado em plenitude, de facto edifica um bem supremo, que é necessário aprofundar, melhorar, defender, consolidar.

A vida matrimonial é muito complexa: nem sempre pelas dificuldades económico-financeiras que ao casal se colocam; nem pelas vicissitudes da vida, tais como doenças, desavenças familiares e de vizinhança, acidentes diversos, desemprego, entre outras situações que conduzem à desestabilização conjugal. Os factores intervenientes são muitos e diariamente se fazem sentir na família.

Naquele dia 14 de Agosto de 1971, há precisamente quarenta e cinco anos, dois jovens se uniam, pelo amor intenso que deles tomou conta, no ardor de uma paixão imensa, sincera, incondicional, porque aquele sentimento, nunca antes vivenciado pelos dois, seria o “cimento” que os “colaria”, então como agora, para o resto da vida, ou pelo menos, até ao dia de hoje, porque: “O Futuro a Deus Pertence” e nunca saberemos o que nos pode acontecer amanhã.

Naquele quase “fim-de-mundo” de África, concretamente no Leste de Angola, então sob administração portuguesa, a cidade do Luso (hoje Luena) foi palco deste amor, tão verdadeiro, quanto arrebatado e, também, inicialmente, muito vigiado, extremamente controlado porque, compreensivelmente, os familiares daquela belíssima jovem, receavam que algo de menos bom lhe pudesse acontecer.

O jovem marinheiro, a cumprir as suas obrigações militares, estava, porém, imbuído das melhores intenções, porque ele nunca tinha amado tanto uma mulher, apesar de, como a maioria dos jovens do seu tempo, em geral e, singularmente, os marinheiros da Armada Portuguesa, em particular, terem uma grande “inclinação” para conseguirem as amizades das então “madrinhas de guerra”, de que resultava, muitas vezes, um namoro e, também, com alguma frequência, o casamento. Não foi este o caminho seguido por este juvenil marinheiro, que, naquelas circunstâncias, como ao longo da sua vida, sempre honrou os compromissos, assumindo, claramente, a palavra dada.

Logo no ano de 1970, portanto, pouco tempo depois da sua chegada ao Luso, através de vários contactos comuns aos dois jovens, estes encontraram-se na propriedade dos pais da jovem e, os primeiros olhares entre os dois, foram “maravilhosamente fatais”, o destino deslumbrante que se adivinhava estava nas expressões de uma espécie de felicidade “antecipada”, por isso, de ora em diante, o relacionamento entre eles, começou a aprofundar-se, as visitas, do jovem marinheiro à casa da bela “Transmontana” tornaram-se muito mais frequentes.

Este jovem casal de apaixonados, já irremediavelmente unidos pelos laços deliciosos de um genuíno amor, teria pela sua frente uma “estrada” difícil para percorrer, até chegar ao dia da união matrimonial, que era o desfecho que eles mais ambicionavam, em que sempre acreditaram, que acabaram por vencer e, finalmente, toda a família e amigos reconhecerem que contra a grandiosidade de um amor incondicional, entre uma mulher e um homem, nada há a fazer.

Os dois enamorados, prosseguiam os seus encontros: inicialmente, em segredo, escondidos da família da jovem que, continuava receosa que aquele jovem militar, terminada a comissão, regressasse à então designada ”Metrópole”, abandonando a jovem, sabe-se lá em que “condições”; contudo, numa fase posterior, a compreensão e, quem sabe se a “resignação” acabaram por prevalecer.

Os dois jovens, Assunção e Lourenço, assim os poderemos identificar, puderam, finalmente, assumir aos olhos de todos o seu amor, porque perante as suas consciências, e perante Deus, eles sabiam que se amavam integralmente, que queriam ficar juntos para o resto da vida, formar a sua própria família, com filhos, netos, mantendo por perto, obviamente, os familiares e amigos de ambos.

O jovem casal de apaixonados, como que “navegava”, agora, em águas serenas, no barco do amor infinito, na confiança recíproca que este sentimento nobilíssimo lhes incutia. A felicidade era a expressão comum nos rostos de Assunção e de Lourenço, seria quase impossível que alguém lhes destruísse esta situação, de tão intensa quanto inefável ventura.

O jovem marinheiro, dentro das suas possibilidades preparava as condições para uma vida a dois, para que nada de materialmente desejável faltasse à sua amada e, no futuro, aos filhinhos que tanto desejavam ter, como veio a acontecer, felizmente.

O amor que se interiorizou entre estes dois jovens, ela pouco mais que uma ingénua e formosa adolescente, ele um bocadinho mais velho, revelou-se essencial para que os dois começassem a delinear como gostariam de viver este sentimento tão sublime, este amor sem precedentes para os dois.

Foi pensando no bem-estar material dos dois, desde logo, em termos de habitação, que Lourenço, com o pedido de colaboração dos seus futuros sogros, participou na construção de uma pequenina moradia, propriedade dos pais da futura noiva, onde o casal iria morar e, um pouco mais tarde, receber a sua primeira filhinha.

A colaboração de Lourenço, traduziu-se na oferta de mão-de-obra, porque este jovem não era oriundo, como hoje também não o é, de famílias abastadas, ele, tal como a sua amada, veio da “terra”, de família humilde, pobre, porém, honesta, trabalhadora, de princípios, valores e sentimentos. Assunção, bem como os seus pais e irmãos, provenientes de Trás-os-Montes, também não desfrutava de riqueza material, mas isso, para estes jovens apaixonados, não era relevante e muito menos impeditivo para a concretização dos seus sonhos.

Claro está que nesta breve reflexão, que pretende, apenas, comemorar os quadragésimo quinto aniversário matrimonial de Assunção e Lourenço, não tem por objetivo recordar todos os momentos íntimos deste casal, porque, felizmente foram muitos, vividos intensamente, com um amor indescritível, imensas e reiteradas juras de dilecção, de amizade sem limites, com total solidariedade, lealdade e gratidão recíproca.

O grande dia chegou: catorze de Agosto de mil novecentos e setenta e um, nas longínquas terras do planalto angolano, a Igreja de São Pedro e São Paulo, na então cidade do Luso, pelas dezasseis horas da tarde, Assunção e Lourenço, uniam-se em matrimónio, sob a Bênção Divina de Deus, na presença dos familiares da jovem noiva, já que da parte do nubente, não foi possível estar alguém presente, os seus pais, pelo menos estes, ficaram na “Metrópole”, não tinham posses para se deslocarem a Angola, eram pobres. Assim, o noivo, teve a acompanhá-lo os seus amigos da Armada, então a prestarem serviço militar no Luso, os padrinhos que, também passaram a ser seus cunhados: Maria de Fátima e Manuel João.

A cerimónia religiosa foi lindíssima, com profundo recolhimento e, por parte do jovem esposo, alguma tristeza devido à ausência de seus pais, mas o amor por Assunção venceu estes momentos de menos felicidade, afinal, Lourenço era filho único e seus pais, certamente, gostariam de ter participado no enlace matrimonial deste filho dileto. A vida e o amor, têm destas situações.

A cerimónia “profana” realizou-se, depois, no Clube Ferrovia do Luso, com um excelente serviço de banquete, ao estilo africano, com música agradável e um convívio verdadeiramente salutar, que jamais será esquecido e, tudo isto, graças à generosidade dos pais de Assunção. Muitas foram as prendas então recebidas, a mais importante das quais, o amor incondicional que o jovem casal oferecia um ao outro, desejavelmente, para toda a vida.

Como em todos os casamentos, após as cerimónias: religiosa e profana, Assunção e Lourenço retiraram-se para a desfrutarem da denominada “Lua-de-Mel”, que foi maravilhosa, vivida na mais pura e deliciosa intimidade, na pequenina casa que Lourenço ajudou a construir, o que trouxe um encanto maior, uma privacidade jamais experienciada por este casal, loucamente apaixonado, até hoje, passados que estão quarenta e cinco anos.

O sentimento sublime do amor, naturalmente que nem sempre resiste às vicissitudes da vida, aos erros humanos que, voluntária e/ou involuntariamente se cometem, às provocações e fraquezas a que qualquer pessoa está sujeita, porque a condição humana é frágil, por isso é necessária uma preparação axiológica a toda a prova, sentimentos nobres e emoções controláveis.

É possível conseguir uma boa longevidade no casamento, desde que: renunciemos a tudo o que desagrada ao nosso cônjuge e/ou coloca em causa a sua honorabilidade, dignidade e bom-nome; saibamos escolher os verdadeiros amigos, aqueles que nos são solidários, leais, confidentes e nos defendem; que tenhamos atitudes de bom senso, de ponderação e prudência, no relacionamento com as pessoas; sejamos capazes de assumirmos posturas assertivas nas relações pessoais, familiares, profissionais e sociais; evitemos certo tipo de companhias que, de antemão, sabemos poderem desgostar e prejudicar a confiança do nosso cônjuge, devido ao estilo de vida que levam, à intervenção que revelam na sociedade, e às práticas, nada recomendáveis, que utilizam pelos mais diversos meios comunicacionais, o que coloca em causa a dignidade e reputação de quem com tais pessoas convive, do seu cônjuge, filhos e demais familiares: “Diz-me com quem andas; dir-te-ei quem és”; e, finalmente: porque, em bom rigor: “À mulher de César, não basta ser séria, tem de o parecer”, sendo estas regras, igualmente, aplicáveis ao homem.

No passado, como hoje, primeiro quarto do século XXI, vale a pena lutar pelo amor, pelo amor verdadeiro, incondicional, com todos os valores que ele implica, desde logo probidade, prudência, bom senso, solidariedade, fidelidade, gratidão, compreensão, tolerância, generosidade, sentimentos nobres e gratidão recíproca.

Todos aqueles valores, princípios, sentimentos e emoções, com Saúde, Amor, Trabalho e a Graça de Deus, são alguns dos principais “ingredientes” indispensável para a nossa Felicidade, para a nossa realização material e espiritual, nesta vida e neste mundo. Lutemos pelo amor porque o amor é urgente.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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