Locke, Rousseau E Frankstein

Por Albio Fabian Melchioretto | 05/04/2008 | Filosofia

LOCKE, ROUSSEAU E FRANKSTEIN

Albio Fabian Melchioretto

A – JOHN LOCKE [1]

Locke é um importante pensador do século XVII e estabelece uma série de contribuições para a formação do ser humano moderno. Vive num momento histórico que o debate entre racionalismo e empirismo é o grande foco dos centros intelectuais europeus. Nesse debate segue tendências empiristas [2] onde contribui para a discussão epistemológica, moral e política, idéias que serão tratadas a seguir.

John Locke não admite de forma alguma o inatismo das idéias. Tudo o que conhecemos procede da experiência. O ser humano nasce vazio e todas as atividades e experimentos que ele vai desenvolver ao longo de sua vida irão construir aquilo que o pensador chama de conhecimento. Essa definição epistemológica de nosso pesador leva o ser a aprender através das experiências sensíveis. Aquilo que a sensação produz leva o ser a uma reflexão produzindo então o campo das idéias.

O pressuposto empírico foge de Locke diante da discussão do campo moral. Nesta área o pensador pode ser analisado mais como intelectualista [3] do que propriamente um empirista. O comportamento humano deve seguir critérios imperativos, onde estes critérios devem se sobrepor à vontade pessoal. Essa obrigação deve ser estabelecida por princípios legais a fim de garantir a organização social. O ser humano tende a agir visando apenas o bem estar pessoal. Quando o comportamento seguir este "instinto animalesco", o agente controlador social deve impor sanções para garantir a ordem. Locke chega a negar o livre-arbítrio, porque o ser humano deve transpor o estado de natureza, onde impera o instinto animalesco, para garantir-se socialmente no estado civilizado, que é regido pela razão. Os princípios morais e políticos se completam, porque a organização social política do estado lockeano garantirá a pratica moral cotidiana.

B – JEAN JACQUES ROUSSEAU [4]

Filósofo iluminista [5], fora um dos pensadores mais voraz de sua época. Escrevera criticando a sociedade burguesa em defesa das camadas mais populares. Seus escritos concentram maiores criticas ao campo social. Para ele o grande mal que corrompe o ser humano é a propriedade privada. Acusa a propriedade privada de ser a grande destruidor da liberdade social e da democracia – fontes estas de libertação do ser humano. Enquanto que para Locke o estado natural significa uma situação de caos, para Rousseau o estado natural representa a verdadeiro paraíso terrestre. Um estado onde o ser humano ainda não conhece a propriedade privada, este desconhecimento livra-o da possibilidade de conflitos, tornando-os iguais diante das diferenças.

O texto a seguir faz parte da teoria sobre a propriedade como fonte de desigualdade:

O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores pouparia o gênero humano aquele que, arrancado as estacas ou enchendo o fosso (...) tivesse gritado aos seus semelhantes: defendei-vos de ouvir esse impostor, estareis perdido se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém. [6]

A partir deste fragmento podemos perceber que a idéia defendida pelo autor é que o ser humano foi pervertido pela civilização. Enquanto que Locke busca a soberania tirânica para justificar a ordem, este a despreza, salientando como um possível remendo para a sociedade um sufrágio universal onde a opinião da maioria expressaria uma tentativa de ordem. O estado deixa o papel de promulgar cedendo seus direitos ao povo, e este sim forma o verdadeiro estado.

C – HAVERÁ UM PONTO FINAL?

Os pensadores tratados acima foram importantíssimos e construíram pilares que fundamentam a discussão acadêmica nos dias de hoje. Porém as duas contribuições seguem linhas completamente diferentes e distintas. Não pretendo ser eu o barqueiro do Hades direcionando um ponto final, mas prefiro ser um semeador de discussões, ou discória: nascemos bons e a sociedade nos corrompe, ou somos verdadeiros animais educados pelas estruturas sociais?

[1] Locke, John (1632-1704), filósofo inglês, fundador da escola do empirismo. Seu pensamento filosófico, desenvolvido em Ensaio Sobre o Entendimento Humano (1690), destacou o papel dos sentidos na busca do conhecimento. Locke afirmava que a mente, no momento do nascimento, é como uma folha em branco sobre a qual a experiência imprime o conhecimento. Não acreditava na intuição, nem nas idéias inatas. Em seus dois Tratados Sobre o Governo Civil (1690), John Locke criticou a teoria do direito divino dos reis e afirmou que a soberania não reside no estado, mas no povo. Também escreveu Pensamentos Sobre a Educação (1693) e Racionalidade do Cristianismo (1695).

[2] Empirismo, na filosofia ocidental, doutrina que nega a possibilidade de idéias espontâneas ou pensamentos a priori e baseia todo conhecimento.

[3] Principio teórico que se aproxima do racionalismo cartesiano. As bases traçadas por Locke são uns instrumentos necessários para compreender a teoria moral de Kant.

[4] Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo famoso na França, nascido em Genebra, Suiça. Destacou-se como teórico político e social, músico, botânico e importante escritor do Século das Luzes. O espírito e as idéias de sua obra estão a meio caminho da Iluminismo do século XVIII — com sua defesa apaixonada da razão e direitos individuais — e do romantismo de princípios do século XIX que propugnava a experiência subjetiva. Em 1770, Rosseau completou o manuscrito de sua obra mais notável, a autobiografia Confissões (1782), que revelava seus conflitos morais e emocionais. Seu tratado político O Contrato Social (1762), no qual expõe argumentos para a liberdade civil, ajudou a preparar a base ideológica da Revolução Francesa. Em Emílio (1762) criou uma nova teoria da educação. Outras obras importantes foram seu Discurso Sobre as Ciências e as Artes (1750), Discurso Sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens (1755) e a novela sentimental Júlia ou a Nova Eloísa (1760).

[5] Século das Luzes ou Iluminismo, termos usados para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa e em toda a América durante o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa.

[6] Cf. ROUSSEAU, Jen-Jaque. Emílio. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1978.

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