LIVRO DIDÁTICO: VILÃO OU HERÓI?

Por Carolina Girardello Ballardin | 23/08/2016 | Educação

Carilusa Branchi
Carolina Girardello Ballardin
Luciana Renata Polo
Maristela Maurina
Valéria Martininghi

RESUMO

Através de observações realizadas em sala de aula surge a necessidade de se discutir de que forma e em que nível o uso do manual didático influencia

Frente às diversas dificuldades enfrentadas pelos professores e pelas escolas ao se tratar de educação deve-se discutir novas possibilidades de ensino utilizando recursos diferentes disponibilizados pelas escolas, que cada vez mais estão buscando aprimorar-se em questões tecnológicas.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo organizar uma discussão sobre o a má utilização de manuais didáticos pelos professores no ensino de Língua Portuguesa nas escolas, que fazem  do mesmo o único recurso ou suporte para as aulas de Língua Portuguesa.

Partindo da idéia de que o educador deve proporcionar múltiplas e variadas formas de ensino, diversificando os recursos em sala de aula  e que o aprendizado é contínuo e gradativo, é impossível admitir que a única fonte de pesquisa seja o manual didático escolhido pelo professor, ainda que haja feita uma boa escolha do mesmo, são muitos os riscos que se corre ao optar pelo uso contínuo e exagerado do mesmo.

A prática pedagógica tem sido objeto de vários estudos linhas de pesquisa no campo da educação e o livro didático tem se revelado um tema constante na história da educação brasileira.

Infelizmente o livro didático tem sido visto como um protagonista no processo de aprendizagem da Língua Portuguesa e que por diversas vezes rouba a cena e concentra olhares em torno dele.

O livro didático pode transformar a prática docente numa rotina escravizante no        momento em que este assume o papel principal ao invés de ser apenas coadjuvante do  processo, um apoio, um facilitador e não o objeto principal. Mas, sem ele, quantos professores ficariam sem um norte em sala de aula? Como elaborariam seus planos de aula? Como atingiriam seus objetivos no processo ensino-aprendizagem?

Ao refletir se poderá o professor criar mecanismos didáticos sem o livro didático? A resposta certamente é não, e assim sendo mostra o caráter escravizante do livro, que induz ao comodismo e a imobilidade intelectual.

Compreende-se que o livro didático deveria ser tratado como “um dos” instrumentos didáticos pedagógico, mas acaba tornando-se “o” único. Ele facilita as atividades coletivas ou individuais, pois o texto e exercícios impressos agilizam a aula evitando as demoradas transcrições nos quadros.

Nas aulas que observei durante o estágio, o que pude perceber, foi o apego da professora observada pelo livro didático. Em todas as aulas a mesma utilizou os textos e pediu para os alunos para que realizassem todas as atividades sugeridas no livro daquele capítulo. Para MOLINA (1988) o problema de se seguir ou utilizar um livro didático pode bitolar os alunos numa só ideologia, no caso a do autor. Para ela fatores mais gerais como o “estilo” do texto pode fazer com que os alunos “habituem-se” à somente um certo “tipo” de leitura. Assim, através deste uso contínuo e desmedido do livro didático em sala de aula surge o problema da má utilização dos mesmos se limita ao contexto da sala de aula na relação professor-aluno.

Para CITELLI (1988:53) “...no livro didático, com a “neutra” função de servir como instrumental, transita ideologia. Configurando uma atitude nitidamente persuasiva.”. Ou seja, mesmo que o autor tente assumir uma postura neutra na função de ensinar continua transmitindo posições e pensamentos sobre diversos assuntos.

Seguindo esta idéia SOUZA (1995) afirma que: “ A razão ideológica pode, ainda, estar ligada a disciplinas consideradas de certa forma problemáticas. A solução costuma ser a de tentar torná-la por demais simplificada ou carregada de nomes, datas e definições complexas, muitas vezes apresentadas em algumas poucas linhas, a fim de garantir uma abordagem superficial e não comprometedora.”, assim, o livro didático pode se tornar “fraco” e confuso, pois tenta trazer seus conteúdos de uma forma resumida.

Quanto ao fato do exagero da utilização do livro didático pelos professores nas suas aulas, este pode estar ligado ao perigoso “hábito” de acomodação por parte do professor, é muito mais fácil solicitar ao aluno que abra a “página tal” e que façam os exercícios propostos do que levantar uma pesquisa, discutir, procurar diferentes pontos de vista sobre o mesmo. Até hoje muitos professores baseiam-se plenamente no livro didático adotado pela escola, muitos chegam a se frustrar porque não “consumiram” todo o conteúdo do livro naquele ano letivo.

Segundo MOLINA (1988) são diversas as circunstâncias que ‘empurram” os professores ao uso “inocente” do livro didático: as péssimas condições de funcionamento das escolas, a falta de recursos e utensílios, ausência de espaço físico para pesquisas, as próprias condições de trabalho dos professores, que abrigam uma vida de correria, os chamados “programas oficiais”, quando deve-se atender ou seguir o programa à risca, como professores estivessem usando uma “camisa de forças”, e um dos mais graves, as estratégias de marketing que as editoras aplicam no contexto das escolas, fazendo a “cabeça” do professores.

A indústria do livro didático mobiliza milhões de reais todos os anos no Brasil. É um movimento que pelo que parece não está próximo do fim ou muito pelo contrário, todos os anos as editoras criam uma espécie de “guerra” para que os seus livros didáticos sejam “adotas” pelas escolas.

Segundo CORACINI (1999:21):

“Convém lembrar que as opiniões vinculadas pelos meios de comunicação também procedem das experiências escolares. Dessa maneira, as editoras e autores de LDs, procurando agradar, vão buscando “novas” teorias sobre aprendizagem e ensino, argumentos que reforcem a qualidade do produto, sem, contudo, se preocuparem se estão criando algo de tão novo assim, pois sabemos que, ainda que aparentem se distanciar do já existente, é nele que se baseiam: o novo se constrói pelo retorno do já-dito (FOUCAULT, 1971:28); daí a constante frustração e, consequentemente, a eterna busca pelo mito do “novo”.

Alguns livros didáticos tornam-se até mesmo matrizes que, ao caducarem com o passar do tempo são “renovadas”. Sua roupagem é atualizada e, se for bem sucedida, continuará sendo reeditado, assim com esse processo de reedição do livro didático, os mesmos voltam a ter a aparência de novidade, de lançamento.

Para FOUCAULT (1979): “Esses livros que são estrategicamente reeditados são considerados aqueles que “funcionam” e, muitas vezes, tornam-se modelos a serem seguidos.”, ou seja, se há esse processo de reedição do livro didático é porque existem “consumidores”, e esta escolha pelo mesmo livro didático com uma roupagem diferente é feita pelos professores, onde, com o passar do tempo os mesmos habituaram-se com aquele livro em específico ou com aquele modelo de livro didático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:           

A conclusão a que se pode chegar é a de que o livro didático é um contribuinte importante para a prática do ensino nas escolas, mas não pode ser o único recurso utilizado pelo professor para conduzir as suas aulas.

O fato é que se criou um mito acerca do livro didático, o qual o mesmo é considerado por muitos um “depositário de saber”, acreditando-se que ele contenha uma verdade sacramentada a ser transmitida e compartilhada, assim tanto o aluno quanto o professor deve segui-lo e reproduzir o que nele está escrito, sendo que para alguns professores, o livro didático funciona como uma Bíblia.

O que se pretendeu aqui não foi generalizar um julgamento do livro didático como algo prejudicial no processo ensino-aprendizagem nas escolas, mas sim, discutir a maneira como ele é utilizado pelos professores em sala de aula. Compreendemos que cabe ao professor promover aos seus alunos momentos que contemplem o uso do livro didático, não como uma “arma” para a sua aula, mas como um dos recursos  a ser abordado de forma crítica, assim o livro didático passa a ser visto como uma das diversas situações de aprendizagem.

É necessário que haja uma mudança de atitude por parte do professor em relação ao livro didático, e que esse busque encontrar novas formas de abordar e discutir um assunto em sua sala de aula, tornando suas aulas menos monótonas, cansativas e repetitivas.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

CITELLI, A.- Linguagem e Persuasão. São Paulo: Ed. Àtica, 1988. 

CORACINI, Maria José Rodrigues Faria. Interpretação, Autoria e Legitimação do Livro Didático: Língua Materna e Língua Estrangeira: 1ª ed.- Campinas, SP: Pontes, 1999.

FOUCALT, M. what is na author? In J. Harar (ed.)Textual Strategies- Perspectives in Post-Struturalism Criticism. Ithaca: Cornell University Press: 141- 159.

MOLINA, Olga. Quem engana quem: professor X livro didático. Campinas, SP: Papirus, 1988.

BIBLIOGRAFIA DE APOIO:

SUASSUNA, Lívia. ensino de língua portuguesa: Uma abordagem pragmática- Campinas, SP: Papirus, 1995.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. 11ª ed. – São Paulo; Libertad, 2000.

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