Livro didático: Limita ou auxilia o professor?
Por CLÉA MÁRCIA PEREIRA CÂMARA | 28/11/2023 | EducaçãoLivro didático: Limita ou auxilia o professor?
CLÉA MÁRCIA PEREIRA CÂMARA
Introdução
Este artigo discute as definições, as modalidades dos materiais didáticos e com especial foco no seu papel atribuído ao professores e vem proporcionar uma compreensão da sua importante no processo pedagógico.
O objetivo básico deste trabalho propõe discutir a idéia de que o livro didático limita ou auxilia o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que o docente seguiu a proposta didática do livro.
No entanto, algumas considerações e discussões neste trabalho podem contribuir para reflexões em relação à utilização do livro didático.
O Livro didático e o professor
Segundo BIZZO (1999), o livro didático tem sido apontado como o grande vilão do ensino no Brasil. Diante dos grandes problemas educacionais, dos Parâmetros Curriculares Nacionais e do baixo desempenho dos alunos em testes, muitos educadores apontam o livro didático como o grande obstáculo a impedir mudanças significativas nas salas de aula.
As críticas que atualmente são feitas ao livro didático chegam a defender sua rejeição, sua eliminação das salas de aula, como se ele fosse um material didático recém – inventado, de existência ainda indefinida e perigosa, criado para oprimir e submeter os professores e enriquecer autores e editores.
Segundo BIZZO (1999), alguns chegam a afirmar que ele deve ser simplesmente retirado do alcance do professor para que as mudanças possam de fato ocorrer.
Os livros didáticos foi criado, e isso aconteceu antes mesmo de serem estabelecidos programas e currículos mínimos, como instrumento para garantir a aquisição dos saberes escolares, isto é, daqueles saberes e competências considerados indispensáveis para a inserção das novas gerações na sociedade, aqueles saberes que não é permitido a ninguém ignorar.
Pois é um fundamental instrumento de trabalho para o ensino e a aprendizagem escolar, um importante coadjuvante da formação das novas gerações, uma contribuição significativa ao trabalho do professor.
Além disso, ele fornece ao professor textos e proposta de atividades que viabilizam a sua ação docente, o que é particularmente importante hoje, no Brasil, por causa das condições atuais de trabalho dos professores que, para sobreviver, tem ou de se ocupar com aulas em dois e às vezes até três turnos, ou de ter outra atividade, paralela á do magistério.
Não se deve, pois, considerar o livro didático com o grande vilão do ensino, ate porque ele é apenas um dos elementos do processo de ensino aprendizagem.
O objetivo do livro didático é apresentar uma proposta pedagógica de um conteúdo selecionado no vasto campo de conhecimento em que se insere a disciplina a que se destina, organizado segundo uma progressão claramente definida e apresentado sob forma didática adequada aos processos cognitivos próprios a esse conteúdo e ainda próprios á etapa de desenvolvimento e de aprendizagem em que se encontre o aluno.
Sua função é servir de suporte para o ensino, um instrumento de trabalho para o professor e aluno.
Como bem define CHOPPIN (1992), os manuais ou livros didáticos são “utilitários da sala de aula”, ou seja, obras produzidas com o objetivo de auxiliar no ensino de uma determinada disciplina, que favorecem tanto usos coletivos (em sala de aula), quanto individuais (em casa ou em sala de aula).
Criticas apontam que o livro didático tira a autonomia e liberdade do professor para buscar ou criar, ele mesmo, o material e as atividades com os quais desenvolve o processo de ensino e de aprendizagem.
Segundo MARCUSCHI (2004), a pior forma de uso do livro é aquela em que o professor perde autonomia e abandona seu próprio projeto de ensino em favor daquele livro, executando com seus alunos as instruções do autor, “de fio a pavio”.
Essa autonomia e liberdade estão garantidas quando o professor usa o livro didático apenas como um instrumento de trabalho, lançado mão dos textos e das atividades que o livro propõe como uma facilitação de seu trabalho.
O professor que se deixa dirigir exclusivamente pelo livro didático esta renunciando autonomia e a liberdade que tem que pode e que deve ter.
Conforme lembra SILVA (1990), quando se pensa em currículo, não se podem separar forma e conteúdo. O conteúdo este sempre envolvido numa certa forma, e os feitos desta pode ser tão importante quanto os comumente destacados efeitos do conteúdo e a forma em que vem embalado um determinado conteúdo estruturam o pensamento e a consciência numa determinada direção, independentemente do conteúdo que ela transmite.
O livro didático tem objetivos e funções indissoluvelmente ligadas á própria essência e natureza da escola e do ensino não podem ser atribuídos por um material que têm objetivos e funções diferentes.
Sua função é a de dar suporte ao ensino e ás aprendizagem, e a de auxiliar o ensino e a aprendizagem.
O que não é aconselhável é usá-lo como uma imposição, uma prescrição que deve ser seguida passo a passo. O livro didático é necessário e eficaz, mas se deixar dirigir, exclusivamente, por ele, é renunciar á liberdade que o professor tem,pode e deve ter.
Entretanto os livros didáticos somente são publicados pelo MEC apos cada avaliação, com as resenhas critica dos livros assinalados, constituem uma orientação preciosa para professores, tanto da escola publica quanto da escola privada. Ao longo dos anos e das avaliações, os números comprovam que a qualidade dos livros vem melhorando significamente.
Nas ultimas avaliações, diminuiu muito o numero de livros que as editoras submetem apreciação e também o numero de livros que as comissões rejeitam como não recomendados, o que indica que não só as próprias editoras vem sendo mais criteriosas na seleção dos livros que publicam como também autores tem reformulado seus livros ou construído novos livros atentos aos critérios de qualidade.
Para alem desses critérios que valem para todos e qualquer livro, os critérios variam de disciplina, porque cada uma tem suas especificidades. Um critério fundamental de escolha, porem, é que o livro seja coerente com a concepção que o professor tem da natureza do conteúdo que ensina e dos objetivos do ensino desse conteúdo, seja adequado ás características de seus alunos e ao projeto-pedagógico da escola.
Como esses critérios se fundamentam em aspectos que são ou devem ser comuns aos professores de uma mesma escola, no caso das características dos alunos e do projeto político- pedagógico, ou comum aos professores de uma mesma disciplina, no caso da concepção da natureza e dos objetivos da disciplina, a escolha do livro didático não pode ser responsabilidade de cada professor, não deve ser um ato individual, mas deve ser assumida pelo grupo de professores, ora da escola como um todo, ora dos professores de uma determinada disciplina; deve ser um ato coletivo.
Reforçando esta posição, HOLDEN e ROGER (2002), afirmam que o livro didático é a forma de material que mais influencia os professores.
Porém, o livro didático não pode ser uma escora onde se vá apoiar toda a prática do ensino e aprendizagem, dado os tantos recursos hoje disponíveis para que nós educadores possamos trabalhar, principalmente em se tratando dos recursos tecnológicos.
Em termos práticos, isto significa que o professor deve avaliar constantemente a necessidade e as possibilidades de complementar ou aprofundar os estudos sobre os tópicos e conteúdos, assim como complementar as praticas pedagógicas.
Assim, outras formas de recursos didáticos podem e, em muitos contextos, devem ser empregadas de forma harmônica com o livro didático para auxiliar a aprendizagem.
Não há dúvidas quanto ao papel de apresentador de conteúdos questiona-se, no entanto, a capacidade de apresentação dos conteúdos, tanto em termos qualitativos (profundidade, qualidade, confiabilidade, entre outros) quanto em termos quantitativos (diversidade, amplitude, seleção de conteúdos).
Dessa forma, é possível compreender que a função mais ampla do material didático é auxiliar a aprendizagem/ aluno e, consequentemente, auxiliar o ensino/ professor.
O livro didático deve ser compreendido apenas como um elemento do processo de ensino - aprendizagem escolar. O seu efeito real, positivo ou negativo, não esta apenas no seu conteúdo, mas também no modo de utilizá-lo. As condições de ensino, a formação e remuneração do professor, a integração entre as varias disciplina, enfim, todos os elementos do processo de ensino – aprendizagem conjugam -se para dar outro sentido ao livro didático.
Os materiais didáticos, se bem escolhidos e usados, se de qualidade e adequados ao planejamento do professor, são grandes instrumentos de apoio no processo de ensino.
Dessa forma, professores e aluno não devem esperar ou imaginar que todo o conhecimento necessário para uma disciplina ou um curso esteja contido do livro didático.
Afinal, todo material apresenta limitação de quantidade e profundidade de informação e conteúdos.
Conforme SOUZA (1999), ao reconhecer que muitas vezes o material didático deve ou precisa ser complementado ou adaptado.
Apesar de sua importância central no processo de ensino- aprendizagem, os materiais didáticos são focos de um numero ainda pequeno de estudos e pesquisa.
De acordo com FARIA (2008), é de suma importância apontar o interesse de autores em discutir e analisar os papéis dos livros didáticos com focos em questões culturais e ideológicas.
Conforme podemos constatar pela própria historia do livro didático, sem desconsiderar as mudanças que já ocorreram, tanto na estrutura quanto na abordagem do conteúdo, ainda ha muito para ser mudado, sobretudo, quanto á percepção e utilização do livro pelo próprio educador.
Percebe-se a necessidade de desviar o foco de atenção de conteúdo propriamente dito e focar o olhar, um pouco mais, na sua significância e relevância social.
É preciso que o livro seja utilizado não apenas como fonte de informações, mas como um instrumento didático.
Referências Bibliográficas
SOUZA, D.M. Autoridade, autoria e livro didático. In: CORACINI, M.J. (Org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático. São Paulo: Pontes, 1999.
FARIA A.L.G. Ideologia no livro didático. 16 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
MARCUSCHI, L.A. Gêneros e suporte: a identidade de gênero no livro didático. Apresentação no II Simpósio de Estudo dos Gêneros Textuais (SIGET). União da Vitoria, Paraná. (2004).
CHOPPIN, A. Les manuels scolaires: historie ET actualité. Paris: Hachette Éducation. (1992).
NICOLAIDES, C.& FERNANDES, V. Autonomia: critérios para a escolha de material didático e suas implicações. IN: LEFFA, V. Produção de materiais de ensino: teoria e prática. Pelotas: Educat, 2003.
BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo, Ática, 1999.
SILVA, Tomaz Tadeu. Currículo, Conhecimento e Democracia: As lições e as Dúvidas de Duas Décadas. Cadernos de Pesquisa. São Paulo (73): 59-66, maio 1990.