Liturgia dos Terreiros de Umbanda
Por Pablo Araujo de Carvalho | 23/02/2023 | ReligiãoQuaresma é o período de quarenta dias que antecede a semana santa e a páscoa onde celebra-se no domingo a ressurreição de Cristo.
Já sabem do que falaremos né?
Pois bem, esse é uma dúvida e um assunto recorrente no meio umbandista.
Vamos lá! Todas as religiões tem suas liturgias e com a Umbanda não é diferente, visto que ela é também uma religião. Porém, sabemos que na Umbanda, temos as liturgias gerais e "gerais" entenda que são ritos e cerimônias comuns a todas as casas e que não podem ser removidas, pois dessa forma descaracteriza a Umbanda como religião e a torna somente uma forma de espiritismo, liturgias essas como, por exemplo: a festa anual de louvação à Iemanjá em seu ponto de força natural, assim como a saudação aos guardiões e guardiãs da esquerda, cânticos de abertura, chamamento de linhas de trabalho e encerramento, a entonação do hino da umbanda, incorporação de guias e suas linhas de trabalhos, trabalhos na natureza, oferendas, etc.
Todas as casas tem esses fundamentos litúrgicos que é geral e fundamental na liturgia da Umbanda, pois a caracteriza como tal, porém o que podemos chamar de Liturgia particular, são aquelas que não são comuns a outros terreiros e são realizadas de forma individual e segundo o entendimento da casa em questão, tendo como base e fundamento nessa liturgia particular os ensinamentos e doutrinas provindo diretamente do guia chefe do terreiro e que na nossa opinião também está correta, pois sabendo que a Umbanda é uma religião multicultural e pluralista, tanto na sua base espiritual quanto na sua base material, e sabendo que muitos guias espirituais que trabalham na umbanda, tiveram a sua última encarnação e vivência cultural e religiosa, em outros continentes e em outros berços culturais, muitas delas só existentes no plano espiritual, pois a muitos milênios já foram recolhidas tanto como nação, como cultura e religião.
Entendemos ser totalmente normal algumas particularidades nas doutrinas de cada casa, pois, a umbanda sendo uma religião que na sua base e organização espiritual absorveu, agregou e graduou espíritos de todas as orbes espirituais e das mais diferentes etnias para que com suas sabedorias milenares pudessem somar as egrégoras espirituais que atuariam no plano material junto aos seus pares encarnados através da nascente religião de Umbanda, permitiu e deixou a cargo dos guias chefe de terreiros a sua condução doutrinária pessoal, desde que não houvesse excesso e desde que a sua doutrina particular não destoasse ou distorcesse a liturgia base e comum da Umbanda.
Sendo assim vemos com bons olhos aqueles terreiros que seguindo a ordem de seus guias chefes não trabalhem na quaresma e absorva parte desse preceito que pertence à religião católica visando resguardar o terreiro e seus filhos, impondo a eles um período de reflexão, recolhimento, firmeza de forças e banhos de ervas.
Também vemos com bons olhos aqueles terreiros que trabalham normalmente, não seguindo parte desse preceito cristão, pois estão seguindo a ordem dos guias chefes de suas casas que não a vê como algo incomum, pois essa liturgia não pertence a ritualística geral da Umbanda.
E também vemos com bons olhos os terreiros que só trabalham com a esquerda, outros somente com a direita, até o fim do período da quaresma. Pois todos eles sem exceção seguem à risca a ordem do guia chefe de terreiro. E seguir a ordem de um guia chefe de terreiro é uma liturgia comum na Umbanda e que todos os terreiro de Umbanda o faz.
Respeitamos a decisão do guia chefe do nosso terreiro e também respeitamos a forma de trabalho do guia chefe de outros terreiros, pois uma liturgia basilar e universal constituída na Lei de Umbanda é exatamente o respeito a doutrina alheia.
Portanto, entendemos que a quaresma que é uma liturgia católica pode sim ser exercida ou não nos terreiros, ficando a cargo do guia chefe, pois isso não diminui e não descaracteriza a Umbanda no que entendemos como liturgia basilar.
Se hoje a mais de um século de Umbanda, os guias chefes de Umbanda não se incomodam em ver em quase todos os terreiros de umbanda, congares (altar) com imagens de santos católicos, mesmo não precisando mais nos escondermos para sermos aceito por meio do sincretismo e esconder Oxalá por meio da imagem cristã de Jesus no lugar mais alto de nosso altar, é porque os guias chefes de terreiros se manifestam por meio da fé que só pode e deve ser exercida através do amor, entende que dessa forma torna a Umbanda a mais humana, respeitadora, amorosa e ecumênica das religiões.
Pois além de respeitarmos a nossa irmã mais velha católica, nesse ato mostramos ao mundo que a Umbanda é tão ecumênica que no lugar mais alto de nosso conga altar) temos a imagem de Jesus e que isso não diminui a nossa religião e sim só a engrandece. Cultuamos Oxalá, mas respeitamos e amamos todas as divindades que se manifestam em nome da Fé. Sim, amamos de todo o coração o nosso mestre Jesus a divindade regente do cristianismo. E sabe porque amamos nosso mestre Jesus?
Porque a fé sempre estará acima do bem e do mal e do nosso maniqueísmo puramente humano que distorce o todo e divide o amor de Olorum (Deus) e ao dividi-lo tornar menor o que no coletivo só O engrandece.